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Entre o céu e o inferno
Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
26/03/2011 | 07:30
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Em clássico que vale muito mais do que os três pontos hoje (18h30) no Estádio Bruno Daniel. Frente a frente, Santo André e São Caetano duelam mais do que pela vitória, mas para elevar a moral das equipes em busca de objetivos opostos no Campeonato Paulista. Na zona de rebaixamento durante praticamente todo o torneio, o Ramalhão (19º colocado, com 12 pontos) mantém viva a esperança de se manter na elite, além de bloquear as expectativas do rival de alcançar o G-8.

Confira o vídeo.

Já o Azulão, na nona colocação (20 pontos), precisa da vitória para ingressar no grupo dos que avançam às quartas de final e, de quebra, praticamente selar a degola do principal adversário. Ou seja, todo um clima está criado para uma grande partida.

Enquanto o pensamento de um lado visa a sobrevivência, do outro vislumbra a classificação, fatores que devem fazer do clássico um duelo aberto. "Clássicos são decididos em detalhes. Esse já tive a oportunidade de disputar como jogador e não se pode errar. Quando tiver chance, tem de aproveitar. Uma bola parada pode ser decisiva, então também é necessária muita atenção. O time deles, assim como o nosso, está buscando uma situação, mas para nós é vencer ou vencer", disse o técnico Sandro Gaúcho. "Existe a rivalidade, uma cobrança maior, mas o Santo André precisa mais da vitória. Vamos trabalhar para isso, para impor nosso ritmo", emendou o comandante andreense.

"É um jogo em que se tem de esquecer as condições das equipes no campeonato, pontuação e posição. É um clássico e como todos, não tem favorito. Já cansei de ver equipes que no papel são melhores perderem. Eu mesmo já passei por isso. Não acho que vai ser tranquilo para nós. Vai ser tenso e decidido nos detalhes. Quem estiver mais atento, vence. Não podemos só jogar futebol, temos de saber definir o jogo", rebateu o treinador são-caetanense Ademir Fonseca.

Após o treino de ontem do Santo André, Sandro Gaúcho elogiou o adversário, dizendo que tinha um time tecnicamente melhor em razão do entrosamento vir de longa data, enquanto o Ramalhão estava se remontando. Ademir Fonseca, por sua vez, respondeu. "Não conheço individualmente, mas é uma boa equipe que vem evoluindo desde que o Sandro Gaúcho assumiu. Não conseguiu fazer resultado em casa contra o Oeste, mas fez boa partida, assim como fora de casa contra a Portuguesa, então recebe todo o respeito e atenção do São Caetano", disse o técnico.

Em 18 anos de história, o retrospecto do confronto é favorável ao São Caetano, que tem oito vitórias, contra cinco do Santo André e houve oito empates. No entanto, quem se deu bem na última vez que as equipes se enfrentaram foi o Ramalhão, que no Brasileiro da Série B do ano passado venceu por 1 a 0, gol do zagueiro Marcelo Godri. Marco Borba

Neneca busca mudar retrospecto

Contratado pelo Santo André em 2007, Neneca chegou desconhecido e sob desconfiança da torcida. Logo em sua estreia, contra o CRB, pela Série B do Brasileiro daquele ano, duas falhas lhe renderam muitas noites maldormidas. Aos poucos, porém, se impôs e com excelentes atuações ganhou status de ídolo nos últimos quatro anos. Mesmo com breve saída por empréstimo ao Oeste (2010), o goleiro não perdeu a identificação e é o único que atuou nos 18 jogos do ano. Hoje, faz o 19º, justamente o clássico contra o Azulão, adversário contra quem não tem bom retrospecto.

Em seis compromissos contra o São Caetano, Neneca venceu apenas um. Nas outras cinco vezes foram três empates e duas derrotas. Para pôr fim à marca, o goleiro promete não medir esforços para não ser vazado. "É vencer ou vencer, esse é o lema. Superar os obstáculos, independentemente de ser o São Caetano ou qualquer outro", afirmou o jogador. "Todo clássico tem preparação diferente, em qualquer campeonato. O nosso (do Grande ABC) não é diferente. Procuramos trabalhar bem para chegarmos preparados ao jogo."

Após tanto tempo de casa, o relacionamento entre Neneca e a torcida não está em alta. Contra Ponte Preta e Oeste, o goleiro deixou o campo sob vaias. As respostas vieram diante de Palmeiras e Portuguesa mas, segundo ele, não adianta nada a individualidade. "É uma situação humilhante, principalmente para mim, que estou no clube há algum tempo. Fico chateado com os resultados. Sei das minhas responsabilidades e não fujo. Por mais que a gente tenha buscado, às vezes falta sorte, em outras competência", disse o jogador, que pede o apoio da torcida não só a ele, mas a todo o time. "Queremos os torcedores ao nosso lado para nos apoiar e dar força maior."

Acostumado a jogar clássicos por Corinthians, São Paulo e Cruzeiro, o zagueiro Anderson debuta no dérbi do Grande ABC mas dá dicas aos companheiros. "Sabemos que não podemos perder, por isso precisamos nos entregar em campo. É uma boa oportunidade em casa e temos de fazer nossa parte. Estão todos focados porque sabem que é como uma final para nós."

 

Clássico terá poucos ingressos e muito policiamento

Sem a prática de comprar ingressos antecipadamente, as torcidas de Santo André e São Caetano devem deixar para a última hora os bilhetes do clássico de hoje. Com carga de aproximadamente 2.000 entradas para torcedores das equipes, a expectativa é de público muito aquém da importância do confronto.

Na contramão disso, para evitar confusões, duelos e problemas entre as organizadas, que mantêm rivalidade sobretudo por meio de fóruns da internet, o policiamento será reforçado tanto dentro quanto fora do Bruno Daniel. Como as torcidas ficarão lado a lado no estádio, além do gradil será montado um cordão de isolamento físico, formado pelos próprios policiais militares. O efetivo não foi divulgado.

Herói em 1999, Geraldo ensina o caminho da vitória

Se tem alguém no grupo do Santo André que guarda boas recordações do clássico contra o São Caetano é o auxiliar-técnico Geraldo. Ex-camisa dez, ele tem como principal feito pelo Ramalhão justamente um gol marcado contra o rival, que significou a permanência são-caetanense na Série A-2 do Paulista por mais uma temporada.

Em 1999, as equipes classificaram-se aos quadrangulares finais da Série A-2. No dia 18 de julho, o Anacleto Campanella estava preparado para comemorar o ingresso inédito do Azulão na elite estadual. A Avenida Goiás, principal via do município, estava fechada para a celebração do feito. Mas um gol de Geraldo, de cabeça, pôs água no chope adversário. Será que alguma mágoa está guardada? O agora auxiliar entende que não e indica o caminho a ser feito para sair com os três pontos.

"Vou procurar dar minha contribuição do lado de fora, mostrar como vencê-los. Já que não posso mais entrar em campo, vou procurar passar que se trata de um clássico, que independentemente das situações os times se nivelam, e que será decidido nos detalhes. Temos de fazer prevalecer o mando de campo e sair com essa vitória", disse ele.

O auxiliar-técnico afirmou que o São Caetano vive melhor momento, mas que o Santo André não pode desperdiçar a chance de vencer no Brunão. "O adversário está bem no campeonato, mas o fator casa tem que valer para conseguirmos os três pontos."

 

Godri relembra gol no rival e quer repetição

No ano passado, no segundo turno do Brasileiro da Série B, o Santo André quebrou o tabu de vitórias contra o São Caetano que persistia desde 2006. O autor do gol, inclusive, segue no elenco e vai buscar repetir a dose na partida de hoje: Marcelo Godri. O local é o mesmo, o Bruno Daniel, e se o resultado for repetido (1 a 0), será como goleada para o Ramalhão, que necessita desesperadamente do triunfo.

"Tive a oportunidade de fazer aquele gol que nos deu a vitória e quem sabe tenha a chance novamente amanhã (hoje). Mas é um jogo difícil. O clássico é muito importante para nós por estarmos em situação incômoda e ainda mais se tratando de clássico, a gente sempre quer vencer", afirmou.

Suspenso na última rodada, quando o time empatou sem gols com a Portuguesa, no Canindé, Godri contou que foi complicado se contentar em apenas assistir ao duelo pela televisão. "Foi difícil. O nervosismo é ainda maior ao ver pela TV. Só poder vibrar e empurrar o time, e não poder estar em campo. Fica complicado até em explicar", afirmou.

Ontem, alguns torcedores compareceram ao treino para cobrar vitória no clássico (veja abaixo). Para Godri, algo normal. "A gente sabe da importância desse jogo e vamos fazer o máximo pela vitória. Esperamos que venham nos incentivar", concluiu.

 

TIME

O técnico Sandro Gaúcho não poderá contar com o zagueiro Altair Silva e com o lateral-direito Iran, suspensos pelo terceiro cartão amarelo. Por outro lado, Marcelo Godri e o meia Allan retornam de suspensão. Quem também voltaria após ficar fora do jogo contra a Lusa era o zagueiro Vitor Hugo, que sentiu dores no treino de ontem e será poupado por Sandro Gaúcho.

O time deverá ser o mesmo que enfrentou a Portuguesa, apenas com as entradas de Godri e Allan, além de Luciano Fonseca na ala direita.

 

São Caetano aposta em bateria antiaérea

Ciente de que a bola alta na direção dos atacantes é uma das armas do Santo André, o São Caetano já preparou sua bateria antiaérea. Após o rachão de ontem, o técnico Ademir Fonseca separou atacantes e defensores. Os primeiros foram para um lado treinar finalizações, enquanto os demais testaram o impulso para afastar as jogadas de cabeça.

No entanto, os lances aéreos também têm sido instrumento bastante usado pelo Azulão nos confrontos, tanto que Artur fez o gol do empate por 1 a 1 com o Palmeiras, de cabeça, após cobrança de escanteio.

"É importante treinar bastante esse tipo de jogada, porque muitos jogos têm sido decididos na bola parada. Eles usam muito isso, então precisamos ficar atentos", comentou o zagueiro Thiago Martinelli, que pode fazer sua terceira partida seguida como titular caso Fonseca decida armar a equipe com três zagueiros.

Caso a opção se confirme, Martinelli, que ontem se casou no civil, vai atuar ao lado de Jean e Anderson Marques, que voltam de suspensão.

Acostumado a disputar o clássico, Anderson Marques prevê um jogo truncado, embora as equipes necessitem da vitória.

"Será um duelo pegado. Ninguém vai se jogar logo de cara, apesar da necessidade de vitória. Estamos preparados para uma guerra. Para vencer, precisamos ter tranquilidade", disse o zagueiro. Marco Borba

 

Walter Minhoca se espelha em dérbi campineiro no clássico

Agora que virou um dos homens de confiança do técnico Ademir Fonseca, o meia-esquerda Walter Minhoca faz pela primeira vez o clássico regional.

Apesar da melhor condição do São Caetano na tabela - nono colocado, com 20 pontos -, o jogador avalia que o time não é o favorito.

"Quando é clássico iguala tudo. É mais um jogo decisivo para a gente. Será difícil, porque o time deles também precisa da vitória e vem evoluindo", diz o meia.

Minhoca revela que só passou a ter dimensão dos clássicos após participar dos confrontos entre Ponte Preta e Guarani, seu ex-time. "Por isso, me preparei melhor para este jogo." Marco Borba




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