Blog Titulo Mutirão da Catarata
Famílias acusam Prefeitura de omitir resultado de sindicância

Passado um mês da instauração de processo, S.Bernardo não divulgou causas da contaminação

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
16/03/2016 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Um mês depois da abertura de sindicância interna pela Prefeitura de São Bernardo para apurar falhas no mutirão da catarata, pacientes seguem sem resposta. Familiares acreditam que a administração do prefeito Luiz Marinho (PT) esconde os resultados. Isso porque a promessa da Secretaria de Saúde era de que as causas da contaminação por bactéria de 21 vítimas, sendo uma delas fatal, fossem conhecidas até o dia 13, o que não aconteceu.

“Já estive na Secretaria de Saúde para perguntar sobre a sindicância, mas a secretária (Odete Gialdi) não me recebeu. Uma funcionária me atendeu e disse que o resultado é sigiloso. Não cogitaram fazer reunião com as famílias para dar esclarecimentos”, revolta-se o autônomo Ricardo Souza, 36 anos, filho da dona de casa Elza Pereira Souza, 64, que precisou remover o globo ocular esquerdo.

A advogada Letícia Koga, 35, filha da dona de casa Genesil da Silva Koga, 65, que também perdeu a visão, revela estar desanimada com a situação. “A própria secretária já admitiu que não divulgará todas as informações. Vamos esperar a conclusão dos inquéritos”, destaca. Ela se refere ao fato de Odete Gialdi ter afirmado, em reunião com conselheiros da Saúde, que, após a conclusão do procedimento, nem todos os resultados poderão ser divulgados para a população, conforme o Diário publicou no dia 17 de fevereiro.

O tema é alvo de inquérito policial, sob os cuidados da Delegacia de Proteção ao Idoso, e também de investigação do Ministério Público, por meio da Promotoria de Saúde Pública da cidade. Ambos aguardam parecer da Vigilância Sanitária municipal sobre os motivos da contaminação pela bactéria Pseudomonas aeruginosa. O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) também instalou sindicância, que está em andamento e é sigilosa.

Enquanto isso, as vítimas e seus familiares se sentem desamparados, conforme a professora Vilma Libarino Gomes Vieira, 37. O pai, Francisco Rocha, 70, precisou remover o olho direito e só recebeu atendimento psicológico uma vez durante o período. “A gente tem que ficar cobrando para que as coisas andem. Nem tudo o que foi prometido pela Prefeitura está sendo cumprido”, reclama a moradora de São Bernardo.

Ricardo Souza ressalta que a mãe está aguardando o fornecimento de óculos há duas semanas por parte da administração. “Já era para estar pronto, mas só nos dizem que fizeram o pedido e não chegou. Demora mais de uma semana para conseguir marcar com o psicólogo. Só nos dão atenção quando fazemos escândalo na imprensa”, destaca.

A Prefeitura de São Bernardo não respondeu aos questionamentos e o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, responsável pelos procedimentos cirúrgicos, informou que não há novidades sobre o tema.

 

Infecção por bactéria deixou 18 pacientes cegos e um morto

Realizado no dia 30 de janeiro em 27 pacientes, o mutirão da catarata da Prefeitura de São Bernardo deixou 18 cegos, sendo que dez precisaram remover o globo ocular, e um morto. Os procedimentos foram feitos no Hospital de Clínicas da cidade, sob responsabilidade do Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, empresa contratada pelo Executivo desde 2013.

Desde então, a administração do prefeito Luiz Marinho (PT) suspendeu o contrato com o instituto, terceirizada que mantém convênio com a administração desde 2013, até a conclusão dos processos em investigação. Neste período, a Secretaria de Saúde de São Bernardo repassou R$ 2,4 milhões à contratada, sendo R$ 177,7 mil apenas neste ano.

O procedimento malsucedido vitimou fatalmente o aposentado Pelegrino Focher Riatto, 74 anos. Ele estava na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital das Clínicas, na Capital, recuperando-se de AVC (Acidente Vascular Cerebral), e se preparava para amputar parte da perna esquerda após ter adquirido trombose (coagulação do sangue no interior das veias). A família acredita que a morte é consequência da infecção ocular adquirida na cirurgia de catarata.  




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