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Livro revela faceta literária da pintora Frida Kahlo
Da AFP
27/04/2004 | 15:02
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A pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), além de materializar nas telas o mais profundo de sua personalidade, deixou uma obra póstuma de 200 textos que revelam uma clara vocação literária. A partir de maio, os textos poderão ser apreciados num livro que será publicado no México pela crítica Raquel Tibol.

"São 249 textos de Frida Kahlo, entre os quais cartas, recados, recibos, escritos longos, como o retrato de Diego Rivera que escreveu em 1949, e muitas cartas em inglês, que vão de 1922 a 1954, ano de sua morte", explicou a crítica de arte mexicano-argentina Raquel Tibol, uma mulher de 81 anos que ostenta com orgulho o fato de ter sido a única jornalista a quem Kahlo ditou sua biografia, em 1953.

Intitulado "Escrituras de Frida Kahlo" (editora Plaza y Janés), inclui o que poderia ser o primeiro poema escrito pela pintora, quando tinha 15 anos, e a correspondência trocada com o marido, o muralista mexicano Diego Rivera (1886-1957), e com alguns de seus amantes.

"Frida tem uma linguagem 'zombeteira', mas também poética e metafórica; com a publicação de seus escritos, deverá ser considerada no rol do melhor da literatura mexicana confessional do século XX", afirmou Tibol.

"Eu sorri. Nada mais. Mas a claridade foi em mim e no fundo do meu silêncio (...)", escreveu a pintora mexicana em 1922, num melancólico soneto que parece antecipar sua profunda e recorrente depressão, cujo início remonta a 1926, após um terrível acidente de carro que lhe deixou uma tripla fratura da coluna vertebral.

Nas "Escrituras...", ordenadas cronologicamente, Raquel Tibol faz algumas anotações, que põem o leitor em contato com a situação pessoal e artística que Frida Kahlo vivia, embora no geral quem fala é a pintora.

Os textos, cuja publicação é outra das homenagens que o México prepara para lembrar os 50 anos da artista, em julho próximo, "fazem parte de coleções privadas ou das famílias dos destinatários de suas cartas, que gentilmente me forneceram o material", contou Raquel Tibol.

"Embora certamente haja outros textos, de quando em quando eles são leiloados por enormes quantias de dinheiro, (pois) ter hoje uma carta original de Frida é muito rentável", continuou.

Quando a crítica de arte conheceu Frida Kahlo, a artista "já sabia que iriam amputar-lhe a perna direita, já estava num grau de drogadição extremamente avançado e tentava amenizá-lo com álcool, geralmente conhaque".

Devido às dores causadas por uma cirurgia mal sucedida na coluna, Frida Kahlo desenvolveu o vício do analgésico à base de morfina "demerol", do qual "tentou se libertar através do álcool; chegou a tomar até dois litros de álcool por dia, conhaque principalmente", contou Tibol.

Em várias de suas cartas publicadas no livro, Frida Kahlo admitiu que tentava "não tomar tantas copiosas... lágrimas", em alusão às taças que ingeria para afogar suas mágoas, "embora as condenadas tenham aprendido a nadar". "Para um corpo tão lacerado quanto o de Frida, as dores devem ter sido brutais e isto o refletiu tanto em seus quadros, quanto em seus textos", continuou Raquel Tibol.

Em outras cartas publicadas no livro, Frida Kahlo expressava abertamente sua bissexualidade. É claro que não poderiam faltar longos e sentidos protestos dirigidos ao companheiro, Diego Rivera, com quem se casou duas vezes. Uma relação tempestuosa na qual sempre existia outra mulher.

Revelando um lado mais mundano que choca o leitor, Kahlo reclamava da "falta de mosca", como chamava o dinheiro, e das dificuldades de vender ao preço de apenas US$ 300 — segundo escreveu a seus possíveis compradores -- muitos dos quadros leiloados na última década por somas milionárias.




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