Cultura & Lazer Titulo
Fim do jejum: Hannibal voltou
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
22/02/2001 | 18:53
Compartilhar notícia


Hannibal (idem, EUA, 2001) rompe um jejum de dez anos e traz de volta aos cinemas da região e de São Paulo o horror do psiquiatra psicopata Hannibal Lecter, alardeado desde o tititi sobre a escolha dos protagonistas. Grandes expectativas foram lançadas para essa seqüência anunciada de O Silêncio dos Inocentes (1991) que, como na maioria dessas situações, desaponta, apesar da bilheteria superior a US$ 107 milhões nos Estados Unidos, em duas semanas.

O diretor Ridley Scott, que emplacou Gladiador com 12 indicações ao Oscar e fez a fama com Blade Runner, Thelma e Louise e Alien, o Oitavo Passageiro, sabe interpretar um bom material. Só que dessa vez teve a ingrata missão de dar continuidade a uma história ganhadora de cinco Oscar (melhor filme, diretor, roteiro adaptado, ator e atriz). Ao imprimir sua visão pessoal a um mito da vilania, Scott se vira entre o humor e a escatologia e se perde na narrativa.

Sir Anthony Hopkins repete o papel de canibal sem pôr um grama de carne na boca, mas sua força dominadora ficou diluída. Quem não viu o filme anterior nem leu os livros de Thomas Harris, encontra um assassino em série comum. Culto, sofisticado, bom gourmet e menos terrível do que o Hannibal Lecter que perturbava a novata e titubeante agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster, na época). Mesmo enjaulado, mantinha aura de caçador.

Livre em Hannibal, ele está bem simpático. Lecter é elegante até para servir miolo humano, refogado com alcaparras e vinho branco, para a própria vítima (Ray Liotta) ainda viva e com o cérebro à mostra. A cena tem sabor de filme trash, bem como o banquete humano servido para uma manada de javalis.

Dois pontos soltos do filme anterior ficam amarrados em Hannibal: Lecter e Clarice. Ela agora é uma determinada e experiente policial na pele de Julianne Moore. O que era um exercício de conhecimento mútuo nos interrogatórios do assassino preso em O Silêncio dos Inocentes vira sedução explícita em uma cena na cozinha. Vilão e mocinha, vestidos para o jantar, lembram o dueto de um musical da Broadway.

O filme se passa exatamente dez anos depois da fuga de Hannibal Lecter para um paraíso tropical. No livro, esse paraíso é o Brasil, pátria de cirurgiões plásticos e lar favorito de criminosos foragidos, segundo o autor. Mas Lecter preferiu viver em meio à sofisticação renascentista de Florença, na Itália. O cenário é mais adequado ao seu nível intelectual, que lhe valeu um cargo de diretor de biblioteca após o “sumiço” do antigo ocupante. Desfilando com um chapéu panamá e um sobretudo pelas ruas da cidade, Dr. Lecter, agora Dr. Fell, mantém seu anonimato. Florença, pela história de crimes e assassinatos, também é adequada a sua personalidade.

Nos Estados Unidos, Clarice Starling é a agente feminina que mais matou gente segundo o Guinness Book. Ela lidera mais uma operação desastrada e é afastada. Uma suposta carta de Lecter lhe traz a lembrança daquela voz fria e sedutora e ela retoma a investigação por conta própria. Quem a estimula, na verdade, é o multimilionário Mason Verger, vítima de Lecter que sobreviveu e teve o rosto totalmente desfigurado. Ele deseja uma dolorosa vingança e usa Clarice como isca. Verger é Gary Oldman com uma maquiagem que o torna irreconhecível e com uma presença mais risível do que causadora de piedade.

São os vértices de um triângulo, no qual Lecter é a caça, com final diferente do livro homônimo lançado em 1999. Há ainda uma boa participação de Giancarlo Giannini como o policial italiano que descobre Lecter e está interessado na recompensa de Verger por informações sobre seu paradeiro. Lecter, por sua vez, diz estar interessado em “comer” a mulher do policial. Anthony Hopkins é o melhor do filme, mesmo com um Hannibal Lecter que deixou o terror para trás, na imaginação de Clarice e do público.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;