Conhecido no Brasil pelo filme "Medos Privados em Lugares Públicos", Alan Ayckbourn tem um extenso currículo de escritor exercido em diferentes linguagens. Em São Paulo, para o teatro, já teve encenada a trilogia cômica "Enquanto Isso..." e "A Serpente no Jardim", que tem exibição gratuita amanhã, às 15h, no Sesc Santo André.

O enredo conta a história do reencontro de duas irmãs que voltam a ter contato depois da morte do pai. Em meio ao luto, surgem as disputas pela herança e as mágoas do passado chegam para corroer qualquer tentativa possível de reconciliação.

O elenco é formado por Cristina Cavalcanti, Alejandra Sampaio e Lavínia Pannuzio e a direção leva a assinatura de Alexandre Tenório. A apresentação faz parte de projeto voltado à terceira idade, mas é aberto a qualquer um e vale a pena ser visto por jovens e idosos.

O clima de tensão que permeia a montagem é endossado pela iluminação. O cenário é um jardim de cores desbotadas, onde o contraste de luzes e sombras permite que o espectador perceba o clima soturno que o rumo da história vai tomando conforme avançam as conversações entre as irmãs.

O problema das duas, que passam a peça a trocar farpas, é a enfermeira Alice Moody, a causadora do terror psicológico que se instala no ambiente. Oportunista, a ex-funcionária ameaça revelar todos os segredos da família caso não receba parte da herança do patrão morto.

Os contornos dos personagens no texto de Ayckbourn, ao longo do espetáculo, tornam-se móbiles que não revelam com clareza as intenções das mulheres do jardim ou de quem, com certeza, é a serpente da história.

O espectador enreda-se para uma trama obscura com boa parte dedicada à risadas, mas que instiga o raciocínio a buscar as resoluções do drama. Quem acaba fisgado, nesse jogo de verdades e mentiras, é o próprio público, que ao levantar questionamentos vê as aparências e os julgamento caírem por terra.


A Serpente no Jardim Teatro. No Sesc Santo André - Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Amanhã, às 15h. Grátis.