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Família assume buscas por esteticista
Fábio Munhoz
Evandro De Marco
18/11/2010 | 07:40
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Divulgação


Após mais de dois meses do desaparecimento da esteticista Sulamita Scaquetti Pinto, 32 anos, a família é quem assumiu as buscas pelo paradeiro da esteticista. Parentes e pessoas próximas acusam a Polícia Civil de ineficiência. "A polícia não tem preparo para fazer as investigações", sentencia o sociólogo Moacyr Pinto da Silva, pai de Sulamita. "Não há coesão e comunicação entre as equipes de busca, a gente sempre viu uma completa desarticulação", observa.

O namorado de Sulamita, o engenheiro Antonio Sérgio Moreira, 44, considera que a polícia está parada. "A gente sabe muito pouco do que a polícia está fazendo. Raramente entram em contato conosco."

A família diz que aumentou a mobilização pelas buscas. "Concentramos a divulgação na internet e renovamos os cartazes com a foto dela", conta a professora Rosa Maria Scaquetti, irmã da esteticista. Rosa diz que a divulgação maciça tem dado resultados, mas até agora, nada com precisão. "Na semana passada recebemos muitas ligações de que a tinham encontrado, mas na verdade acharam uma pessoa muito parecida", lamenta.

Mesmo com tantos dias de angústia, a família alimenta esperanças de que a esteticista possa ser encontrada com vida. "Esperança é a última que morre. Mas, o meu medo é que ela esteja mendigando ou fique na mão de nóias", comenta a aposentada Irani Maria de Assis, tia de Sulamita.

Por meio da Secretaria de Segurança Pública, o delegado Élcio Álvares, titular do 6º DP (Distrito Policial) de São Bernardo, responsável pelas investigações, afirmou que não há novidades no caso Sulamita, mas garante que as investigações continuam e se concentram em verificar denúncias feitas à família ou à polícia.

Ivanise da Silva Santos, presidente da organização não governamental ABCD (Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas), também conhecida como ‘Mães da Sé', suspeita que a investigação do caso Sulamita esteja estagnada. "Têm momentos em que a polícia não tem mais onde procurar, a investigação se esgota, até por falta de informações. São cerca de 60 novos desaparecimentos todos os dias no Estado de São Paulo e a polícia não tem como investigar todos os casos. Desaparecimento não é crime e, por isso, não é instaurado inquérito."

Para a presidente da ABCD, muitos policiais que lidam com este tipo de situação ainda são despreparados e, por isso, não conseguem prestar um serviço de melhor qualidade à população. "Tem policial que se envolve com o sentimento da família e sofre com isso. É preciso entender que, nesses casos, ele tem que agir como policial, assistente social e até psicólogo. Mas, precisa se qualificar", defende.

 

ANGÚSTIA

A agonia pela espera de novos desdobramentos faz com que a família sofra mais do que se fossem confirmadas notícias sobre a morte.

A psicóloga Hilda Capelão, coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Metodista, explica que a dúvida pode desestruturar a família e gerar doenças psicológicas.

"No caso da pessoa comprovadamente morta há uma certeza, ou seja, a situação já se configurou. Neste momento, a família pode se despedir, realizar seu funeral e assumir o luto da perda. Acabam as incertezas e a família se organiza psicologicamente para viver os sentimentos de perda definitiva da pessoa desaparecida", comenta a psicóloga.

 

SERVIÇO

Sulamita desapareceu em 16 de setembro, quando deveria ter ido buscar o filho de 5 anos em uma creche. Dia 20, foram encontradas as roupas da esteticista em um terreno no bairro Montanhão, em São Bernardo. A esteticista tem 32 anos, 1,70 m, olhos claros e uma tatuagem tribal colorida no final das costas. Disque-denúncia: 181.

 

 

 

Esteticista pode estar longe da região

 

 

Especialistas avaliam que Sulamita Scaquetti Pinto pode não estar no Grande ABC. A esteticista tomava medicamentos antidepressivos e havia parado o tratamento pouco antes do desaparecimento. "Ela suspendeu a medicação após estímulo da igreja evangélica que frequentava", diz o namorado de Sulamita, Antonio Sérgio Moreira,

A psiquiatra Cíntia Marques Périco, professora da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) acredita que Sulamita possa ter tido um surto psicótico. "O paciente desconfia de tudo e fica temeroso em relação à família, acha que todos querem lhe fazer mal, por isso ‘some' do mundo", explica.

A esteticista Maria de Lourdes de Moraes, que trabalhava com Sulamita, diz ter visto a colega pela última vez em 14 de setembro - dois dias antes do desaparecimento. "Ela parecia assustada e disse que não voltaria a trabalhar aqui porque vaidade era coisa do demônio", revela.

Cíntia avalia que o desaparecimento pode ter ligação com a ausência do medicamento. "A medicação contém o delírio e as alucinações. Com a ausência do remédio, os sintomas podem ter aflorado." Em surtos psicóticos, os pacientes não perdem a memória, ou seja, sabem onde estão e como sair do local. "A pessoa tem condições, por exemplo, de pegar um ônibus e ir para um lugar distante."

Ivanise da Silva Santos, presidente da organização não governamental ABCD, revela que existem muitos casos de pessoas que tinham problemas como Sulamita e foram encontradas longe.

"Um rapaz com esquizofrenia desapareceu em São Paulo e foi encontrado internado em uma clínica em Recife, outro saiu de Diadema e foi parar em Fortaleza. Pode ser que ela também tenha ido para longe", afirma a presidente da ONG, que defende a criação de um cadastro nacional de desaparecidos. Segundo ela, "essa seria nossa principal ferramenta de busca". FM/EM




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