A chuva fina e o vento forte comprometeram a chegada tradicionalmente glamourosa das celebridades ao Palácio dos Festivais, onde todos os anos se realiza o Festival de Cinema de Cannes. O público que se acotovelou nesta quarta-feira aos pés da escadaria do Grand Théâtre Lumière, prestigiando a sessao inaugural do evento, teve de se contentar em ver os astros desfilando de guardas-chuvas coloridos. A chuva só cedeu faltando poucos minutos para o início da projeçao de "Vatel", quando os protagonistas do filme, Gérard Depardieu e Uma Thurman, desembarcaram no boulevard de la Croisette.

Cerca de 800 pessoas cercaram a entrada do palácio para ver de perto os convidados da noite de abertura do festival, que teve a atriz Virginie Ledoyen (a francesa de "A Praia") como mestre de cerimônias. Só que o esforço nao valeu a pena, principalmente para quem passou mais de 10 horas no local, esperando pela chegada dos astros e estrelas. Com a chuva que caiu sobre o balneário, as poucas personalidades que compareceram economizaram nos acenos e nos sorrisos, entrando rapidamente no teatro.

Os membros do júri, presidido nesta 53.ª ediçao pelo cineasta Luc Besson, fizeram uma passagem-relâmpago pelo tapete vermelho. O público mal pode apreciar os detalhes do elegante vestido da atriz Kristin Scott Thomas ou mesmo reconhecer o ator Jeremy Irons, que deixou a barba crescer. Calista Flockhart (a protagonista da série Ally McBeal) foi uma das poucas que cedeu aos apelos dos fotógrafos, posando um pouco na entrada do Palácio, sob um toldo que cobre apenas uma parte de área - a escadaria é totalmente descoberta. A atriz está na Riviera Francesa para promover "Things You Can Tell Just By Looking at Her", selecionado para a mostra "Un Certain Regard".

Gérard Depardieu chegou ao teatro acompanhado da atriz e modelo Carole Bouquet, quando a chuva começava a ceder. Mesmo assim, a ventania foi suficiente para deixar o astro com os cabelos alvoroçados - a tal ponto que Carole tentou ajeitá-los antes da sessao de fotos. Uma Thurman, que faz par romântico com Depardieu em "Vatel", filme exibido em caráter nao-competitivo, foi a presença feminina mais marcante da noite. Ela vestia uma saia longa preta e uma insinuante blusa branca que deixava a barriga e as costas de fora.

Depardieu e Thurman circularam pelo Palácio dos Festivais na parte da manha, quando compareceram à primeira coletiva do festival - logo após a exibiçao de "Vatel" para a imprensa. Ainda que Thurman tenha atraído mais o flash dos fotógrafos, foi Depardieu quem monopolizou as atençoes. Com o característico bom humor, disse que abandonou o regime em nome do prazer. "Adoro viver", disse, levantando da cadeira e acariciando a barriga pouco discreta. No filme dirigido por Roland Joffé (de "A Missao"), ele interpreta um artista que cria maravilhas gastronômicas, além de entreter o insatisfeito rei Luís 14.

Como seu personagem se envolve romanticamente com Uma Thurman, Depardieu foi convidado a falar sobre sua faceta sex symbol. "Nao sei o que as mulheres vêem em mim. Talvez eu me dê bem com elas porque sei como apreciá-las", comentou o ator, que parece se sentir em casa no Palácio dos Festivais. "Nao vim no ano passado, mas estava representado por meu filho (Guillaume Gepardieu, do filme "Pola X"). Uma Thurman, por sua vez, se mostrou deslumbrada com toda a pompa do festival francês.

"Cannes é o evento que melhor retrata o glamour do cinema. Seus organizadores sabem respeitar como ninguém a arte e os artistas", afirmou a atriz, que voltará a subir a escadaria do Grand Théâtre Lumi re ainda nesta ediçao. Thurman também integra o elenco de "The Golden Bowl", título de James Ivory que disputa a Palma de Ouro. "Quando estou em Cannes nao quero que os dias acabem", confessou. O entusiasmo da atriz contrastou com a apatia dos membros do júri que também se reuniram com a imprensa na manha desta quarta-feira.

Júri - Monossilábicos, eles passavam as perguntas adiante, como se fossem batatas quentes. Luc Besson só falava quando se sentia ofendido - como quando foi questionado se daria prioridade aos filmes comerciais, como os que dirige. "Nao vejo mal nenhum em atingir o público", rebateu. Sobre a decisao do prefeito de Cannes de proibir as festas na praia após a meia-noite, o assunto mais comentado nesta quarta-feira no balneário, Besson se mostrou indiferente. "Depois de ver três ou quatro filmes por dia, pretendo cair na cama mais cedo".