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Defesa dos direitos da mulher não é mimimi
Carlos Ferrari
08/03/2016 | 07:00
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Sempre que chegamos a uma data que marca a luta de determinado segmento, é comum ouvir grupos quantitativamente expressivos da sociedade se insurgindo contra as manifestações com um discurso simplista de que tais pleitos e pautas já não fazem mais sentido, sempre fechando com a terrível frase: “Hoje já estamos bem melhor!” Na semana em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, é fundamental que nos coloquemos contrários a tais posturas, que aparentemente podem parecer simpáticas e até justas, mas logo se tornam cruéis e descabidas se abrirmos um pouco mais os olhos para observar o cenário como um todo.

A violência contra a mulher ainda se faz presente como uma prática social que perpassa diferentes camadas e variáveis do convívio humano. Talvez seja o único fenômeno fortemente presente, independentemente da condição econômica, opção religiosa, localização geográfica, manifestação cultural ou categoria profissional. Seja silenciosa, escancarada ou até disfarçada, a violência é um fantasma que assombra mulheres do mundo todo, com uma permissividade coletiva, que bota em xeque, se analisada a fundo, todos os nossos avanços.

Neste texto lhes convido a refletir a partir de posturas que homens e mulheres ‘de bem’ adotam, reforçando ainda mais a cultura machista e discriminatória, botando em risco pessoas que amam e, em muitos casos, a própria qualidade de vida.

1 – Objetificação do corpo feminino

Pode parecer natural, e até atraente, a inserção de mulheres no centro da estratégia de vendas de bebidas, automóveis e até ferramentas de manutenção. Elas aparecem lindas, extremamente sensuais e as pessoas aplaudem, invejam e, por fim, quase sempre acabam se curvando diante do apelo midiático causado por essa ação, comprando, comprando e comprando.

Infelizmente o empoderamento das mulheres nestes casos é próximo de zero. Quem vê tudo isso com naturalidade esquece que seria muito mais bacana se essas belas mulheres de fato fossem protagonistas e alavancassem a venda dos produtos dando opiniões a respeito, apontando as potencialidades e reforçando a importância de tais marcas para a sociedade como um todo. Muitas agências já sacaram que esse pode e deve ser o grande caminho, e essa mudança de rota não fez com que as coisas se tornassem mais chatas nem menos belas.

2 – Culpabilização da vítima

Uma cena comum infelizmente ainda persiste em nosso cotidiano. Trata-se de diálogo longo ou conversa rasa que tem em comum a pretensão de encontrar justificativas diversas, logo após alguma espécie de agressão sofrida por uma mulher. “Ninguém mandou vestir roupa curta; “Quem mandou casar com aquele cara”; “Ele é homem, ela deveria saber disso.”

Hoje com 40 anos e pai de uma menina, vejo como essas expressões são ameaçadoras para a sociedade como um todo. Elas botam em risco não apenas quem vive no presente, mas todo o futuro de uma geração que pode ser contaminada com discursos que, por parecerem lógicos para alguns, acabam ganhando status de óbvio para a grande maioria.

Mulheres tem o direito de estar onde quiserem, vestindo-se como entenderem melhor e jamais devem correr riscos de violação de sua integridade física ou psicológica por conta dessa autonomia, que felizmente, já sabemos, não tem porque não existir.

3 – Estatização do corpo feminino

O Estado brasileiro precisa com urgência compreender que a mulher deve ter direito absoluto sobre seu corpo. Assim, a criminalização do aborto deixa de ter sentido, pois o que se espera desse Estado é que haja mecanismos de proteção e de cuidados, nunca de opressão. O parto, a amamentação, o cuidado com os filhos recém-nascidos precisam ser protegidos, assegurando à mulher o direito de conduzir suas escolhas independentemente da condição econômica.

Precisamos ficar alertas, pois a todo momento acabamos reforçando ideias que agridem os direitos das mulheres. Entendo que devemos assumir essa luta não apenas por elas, mas principalmente em nome de uma sociedade mais justa e equitativa. Feliz Dia Internacional da Mulher!

* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 




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