Economia Titulo Crise
Produção de veículos cai 31,6% no bimestre

Operação Lava Jato contribui para agravar
crise no cenário econômico, segundo Anfavea

Marina Teodoro
Especial para o Diário
05/03/2016 | 07:19
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Marina Brandão/DGABC


No primeiro bimestre do ano, a produção de veículos leves em todo o País apresentou queda de 31,6% comparado ao mesmo período do ano passado. Os dados são de balanço divulgado ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Em outras palavras, nos dois primeiros meses do ano deixaram de ser fabricados 107.195 veículos, o que equivale a quase o total produzido em fevereiro deste ano, quando foram feitas 131.313 unidades. Em números absolutos, em janeiro e fevereiro saíram das fábricas 281.419 veículos. Ao comparar o resultado bimestral em 2015, ante o mesmo período de 2014, houve retração de 26%.

De acordo com o vice-presidente da Anfavea, Luiz Carlos Gomes de Moraes, esta é a pior crise da indústria de veículos comerciais no País. “Nunca vi algo assim antes”, afirma. O presidente da entidade, Luiz Moan, associa as dificuldades do cenário econômico à Operação Lava Jato, que investiga esquema bilionário de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos.

Para Moan, o maior problema é a baixa confiança do investidor, resultado da forte insegurança na economia brasileira. “Ao misturar política com economia, as questões políticas corroem, contaminam e contribuem para o pessimismo do investidor e do comprador. E todo esse pessimismo leva à depressão, seja ela psicológica ou econômica.”

De acordo com os dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na quinta-feira, houve queda de 14,1% no volume total de investimentos realizados em 2015. Dessa maneira, com os investidores deixando de apostar no País, a produção de veículos é afetada diretamente, pois diminui-se a necessidade de empregados, crescem as demissões e o consumo é diminuído.

No ano passado, para se ter ideia, o Brasil deixou o quarto lugar no ranking mundial de fabricação de veículos e caiu para sétimo, de acordo com a Oica (Organização Internacional de Construtores de Automóveis). Com recuo de 27%, o segundo pior desempenho do mundo, perdendo apenas para a Rússia, sob embargo comercial. Em 2015, a produção nacional atingiu 2,429 milhões de unidades, desempenho que volta ao patamar de 2006, quase dez anos atrás.

ESTOQUE - A produção está tão a ‘passos de tartaruga’ que o estoque de veículos recuou de 51 dias em janeiro para 46 dias em fevereiro. Ainda assim, é necessário mais que um mês e meio para desovar todos os 241,4 mil veículos prontos nos pátios das montadoras e nas concessionárias.

Nesse cenário, a capacidade ociosa nas fabricantes chegará a 52% do total ao fim do ano, com apenas 48% de utilização. É possível produzir 5,05 milhões de veículos, porém, a projeção da Anfavea é que 2016 encerre com leve alta de 0,5% ante o resultado do ano passado, e atinja a soma de 2,440 milhões de unidades. Por ora, a entidade não considera necessário rever a projeção para o fechamento do ano.

Considerando apenas os automóveis e comerciais leves, a ociosidade média será de 50%. No caso dos pesados, entretanto, deverá chegar a 74%.

A propósito, o tombo na fabricação de caminhões nos dois primeiros meses do ano foi de 40,7%, com 9.452 unidades. E a situação é ainda pior considerando os ônibus, com recuo de 45,2%, totalizando 2.685 veículos.

Considerando o desempenho dos carros, a queda foi de 31,1% no bimestre, somando 269.2 mil deles.


Empregados em lay-off e PPE na região somam 23,7 mil

A situação nas montadoras reflete diretamente nos empregos dos trabalhadores do setor automotivo. Considerando apenas as fábricas do Grande ABC, são contabilizados 23,7 mil funcionários afetados, seja pelo lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) ou pelo PPE (Programa de Proteção ao Emprego), criado pelo governo federal, como alternativa às empresas em momento de crise, ao reduzir em até 30% salários e jornada de trabalho. Esse total representa 62% de todos os empregados na mesma situação no País, de 38,2 mil pessoas. Na região, são 3.700 trabalhadores em lay-off, um pouco mais da metade do total de 7.300. Em PPE, a fatia das sete cidades é de 64,72% dos 30,9 mil nesse cenário.

Apesar do crescimento de 0,7% no número de operários nas montadoras do País em fevereiro, essa alta não representa o cenário do emprego na indústria, já que a alta se deve à contratação de 2.000 terceirizados no inicio do mês de fevereiro por uma das fabricantes, que não teve o nome revelado pela Anfavea.

Em relação ao segundo mês do ano passado, há recuo de 8,5% no total de funcionários, somando 130.262 na ativa, contra 142.317 no mesmo período em 2015.  




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