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Romance relata tentações sexuais de homem nonagenário

Obra de professor da USCS exige bagagem literária para ser totalmente compreendida

Evaldo Novelini
24/02/2016 | 07:00
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Arquivo pessoal


É preciso boa bagagem literária para extrair o máximo de prazer da leitura de Meu Pé de Alecrim deu Fulô (Alpharrabio Edições, 96 páginas, R$ 30), sexto livro do professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Joaquim Celso Freire, 63 anos. O lançamento da obra está marcado para hoje, a partir das 18h, no Centro Cultural Alpharrabio, em Santo André.

A intertextualidade da obra obriga o leitor a conhecer alguns dos autores clássicos, como Albert Camus, Fiódor Dostoiévski e Voltaire. Quem desconhece Gregor Samsa, o personagem de Franz Kafka que, certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, vê-se metamorfoseado em inseto monstruoso, tem dificuldade para compreender os infortúnios de José Silva, o protagonista de Meu Pé de Alecrim deu Fulô.

José Silva, como já devem ter reconhecido os fiéis leitores de Freire, é o mesmo personagem que aparece em Um Silva de A a Z, de 2007, e O Rio das Minhas Manhãs, de 2012, livros anteriores do autor. O nonagenário passa os dias em agradável casa de campo em companhia da mulher, colhendo frutas diretamente do pé e lendo – ele tem especial interesse por volumes de poucas páginas, “finos”.

A modorra que engole, sem pressa, os dias de verão de 2013, época em que se passa o enredo, transforma-se subitamente quando o homem de 90 anos vê-se apaixonado por Laura a voluptuosa dublê de cozinheira e cuidadora. Seguem-se desejos, tentações e as intermináveis citações a clássicos literários.

Freire, aliás, utiliza a história para fazer crítica feroz à subliteratura. O início do livro é um petardo desferido diretamente no queixo da inglesa E.L. James, autora da famosa trilogia, pretensamente erótica e altamente popular no mundo todo, protagonizada pelo sedutor empresário Christian Grey e pela ingênua Anastasia Steele.

"O dia amanheceu acinzentado e tons de cinza não me animam; guio a minha preferência por cores alegres, mais vivas, mais atiçadoras de vontades, como o vermelho, por exemplo”, inicia o narrador de Meu Pé de Alecrim deu Fulô, título emprestado de verso de música popular entoada, a certa altura, pelos personagens do livro.

“Acho que lemos pouco. Ainda mais nesse momento de fartura de frases curtas e muitas vezes vazias. É sempre mais fácil (optar por) resumo na internet do que desbravar livro de 100, 200, 300 páginas. Há aí, no meu entender, um cálculo ruim: muitas pessoas preferem utilizar o tempo em entretenimentos do que debruçarem esforços em conhecimento, em conteúdos mais complexos”, analisa Freire em entrevista ao Diário.

FUTURO
Freire nem lançou o sexto livro e já pensa no sétimo, que deve ser narrado pela sedutora personagem feminina de Meu Pé de Alecrim... “Penso em dar voz a quem ‘movimentou’ as ideias do bom José Silva. Comecei um texto em que a Laura é a narradora”, adianta ele, sem dar prazo para o futuro volume ir ao prelo. Freire, como se vê, apaixonou-se pela cria. Ela, inclusive, é uma das poucas personagens que têm nome no romance, honra que nem a titular, sempre citada como “a mulher”, possui. “Ele decidiu, talvez inconscientemente, preservar a esposa”, explica o autor.




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