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CDHU garante ajuda
a famílias removidas
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
21/09/2011 | 07:30
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A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano garante o pagamento de auxílio-moradia no valor de R$ 380 para todas as famílias que começaram ser removidas ontem de áreas de risco no Jardim Santo André, em Santo André. A ação de reintegração de posse teve início durante a manhã e foi pacífica, apesar dos protestos na noite anterior. Segundo a Polícia Militar, a maioria das pessoas havia deixado os imóveis até o fim da tarde. Metade das 81 moradias já foi demolida. Os trabalhos terão prosseguimento hoje.

Além do pagamento do auxílio até o atendimento definitivo em unidade habitacional, a CDHU informou também oferecer às famílias carta de crédito de até R$ 100 mil para a compra de imóvel pronto. Ainda assim, para a líder comunitária Adriana Lopes dos Santos, 33 anos, faltam alternativas para quem está sendo despejado. "Não temos problemas em deixar o local, mas queremos moradia digna. Muita gente aqui não tem para onde ir e vai depender da solidariedade de parentes e amigos até achar algum imóvel para alugar."

As tropas com cerca de 200 militares começaram a chegar à favela por volta das 8h, quando parte dos moradores preparava a mudança. O clima era de tristeza e dúvida entre moradores.

Quem não tem onde ficar terá de improvisar. Caso do motorista Silmar Braz de Lima, 41, que morava em um barraco com a mulher e o filho de 3 anos. Dono de um caminhão, Lima utilizará o veículo como moradia até que consiga outro endereço. "Não tenho nada assinado com a CDHU. Vou ficar com a minha família dentro do caminhão, pelo menos não ficamos ao relento."

A Prefeitura de Santo André informou que já construiu 118 moradias provisórias, mas não esclareceu quantas estão ocupadas e se os moradores despejados ontem irão usufruir do serviço.

A CDHU esclareceu que a reintegração faz parte do processo de reurbanização do Jardim Santo André, área que oferece risco iminente de deslizamentos e enchentes. O projeto teve início em 1998 e quase 1.900 famílias já foram retiradas.

A companhia informou ainda que o objetivo é urbanizar 2.300 lotes, construir mais 1.300 unidades habitacionais no bairro e outras 1.100 em outras áreas do município.

O investimento está estimado em R$ 400 milhões. A CDHU não informou quando iniciará as construções.

 

Demolição comove moradores e vizinhos 

Enquanto o trator derrubava as primeiras paredes, as lágrimas caiam dos rostos da população que assistia ao trabalho dos operários. O pedreiro Milton Gomes, 62 anos, observava a cena perplexo e calado. A casa onde viveu por mais de duas décadas com a família foi reduzida a pó e entulho.

"Isso é uma tristeza. Não sei o que dizer neste momento. É triste ver tudo o que construí em anos ir abaixo em alguns minutos", lamenta. Enquanto os imóveis eram transformados em ruínas, o choro atingia também os moradores que não serão desapropriados. As lágrimas foram vistas até nos rostos de integrantes da Tropa de Choque.

Outro que teve a casa destruída foi o aposentado Josué Ribeiro Petrollo, 47, que residiu por quase 30 anos no Jardim Santo André. Sem ter para onde ir, ele teme pela saúde da mulher, que sofre de epilepsia e toma medicamentos controlados. "A CDHU tinha que ter ajeitado o povo antes de sair removendo."

Há dez anos, o comerciante Antonio Gomes, 45, é dono de supermercado na Rua dos Missionários. Na manhã de ontem, os funcionários foram ao estabelecimento para o último dia de trabalho, com a missão de esvaziar as prateleiras e o estoque às pressas. "Vou tentar revender toda essa mercadoria para comerciantes amigos, para que eu consiga pelo menos pagar meus empregados", comenta. Gomes afirma que já chegou a faturar R$ 100 mil por mês com o comércio. 

MÓVEIS
Entre os desapropriados, uma das queixas era de quem não tinha para onde levar os móveis e eletrodomésticos. Nestes casos, os pertences serão encaminhados a dois galpões da CDHU. O problema é que ambos os depósitos são na Capital: um na Vila Prudente, na Zona Leste, e outro em Santa Cecília, no centro. A estatal não cobra pelo transporte dos itens. No entanto, a retirada dos materiais dos depósitos fica por conta dos proprietários.




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