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Dib impõe Morando e trai grupo, afirma Maurício
Rita Donato
Do Diário do Grande ABC
09/06/2008 | 08:04
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O ex-prefeito de São Bernardo e agora ex- aliado do grupo governista, Maurício Soares (PSB), respondeu no mesmo tom às críticas do prefeito William Dib (PSB) sobre a sua reaproximação com o PT nas eleições deste ano. Em entrevista publicada sábado no Diário, o chefe do Executivo afirmou que o socialista havia "perdido o caráter" ao negociar com o principal rival político enquanto ainda era o candidato à sua sucessão. "O primeiro a saber das conversas que tive com o (Luiz) Marinho (prefeiturável petista) foi o ‘moço'", afirmou Maurício, ironizando a imagem do prefeito. O socialista não poupou críticas ao comentar a postura de Dib mediante o grupo e o acusou de concentrador. "As pessoas têm medo de contrariá-lo e perder algum benefício", atacou. Pela primeira vez, o ex-prefeito falou abertamente sobre as conversas com Lula, afirmou que o presidente ofereceu a ele o Ministério da Previdência e assegurou que não aceitaria ser o vice de Marinho mesmo se o PSB fizesse intervenção na cidade. Irritado com a proporção que tomou seu afastamento do bloco, Maurício ressaltou que Dib praticamente impôs o nome de Orlando como candidato.

DIÁRIO - O prefeito considera traição sua reaproximação com o PT. Porque o sr. negociou com a sigla se era candidato do grupo governista?
MAURÍCIO SOARES - Quando você está num grupo e não se sente mais bem, não concorda mais com a política e está cercado de pessoas que você gosta, sair não é traição. O primeiro a saber das conversas que tive com Marinho foi o ‘moço' (William Dib). Eu o avisei, e ele falou: vai lá e veja o que ele quer. Ele sabia que eu estava fechado com o PT, porque nunca escondi as conversas. Não pode me acusar de traidor porque ele ficou sabendo do resultado.

DIÁRIO - O que motivou a primeira briga entre o sr. e Dib?
MAURÍCIO - Orlando Morando (atual pré-candidato tucano a prefeito). Ele veio com a proposta de Orlando (ser o vice) e eu disse que não aceitava a imposição. Eu tinha o direito de escolher o vice.

DIÁRIO - O sr. diria que o poder de liderança de Dib fez com que o grupo retirasse o apoio à sua pré-candidatura?
MAURÍCIO - Seria incompreensível de outro modo. Dib é muito bom articulador, tem poder de liderança. A revoada foi total, tanto no diretório municipal quanto dos secretários. Isso não seria possível sem ele. Ele é muito concentrador e as pessoas têm medo de contrariá-lo e perder algum benefício. O Dib tem muita força, não sei se dá para compará-lo com o poderoso chefão, porque ele era um bandido. Não é o caso do Dib.

DIÁRIO - O prefeito alegou que as pessoas demitidas trabalharam contra o governo em horário de serviço. Isso ocorreu com sua permissão?
MAURÍCIO - Nunca trabalhamos em horário de serviço. A reunião com Luiz Marinho (prefeiturável petista) aconteceu em uma lan house, em 22 de maio, dia de Corpus Christi, portanto feriado. Dizer que mandou embora as pessoas que compareceram em reunião em horário de serviço não é verdade. Tanto que muitos funcionários que foram mandados embora não estavam lá no dia. Foi pura retaliação, não tem outro motivo.

DIÁRIO - O sr. chegou a conversar com Dib sobre uma possível coligação com o PT?
MAURÍCIO - Não, porque sei o quanto ele não gosta do PT. O Dib é de outro universo. Eu vim de baixo, o Dib cresceu muito e hoje ele é um homem da elite. Eu falei que ele não olhava para os pobres, não recebia pobres no seu gabinete, só pessoa graduada. Doze anos para um grupo cria vícios, está na hora de mudar.

DIÁRIO - Como será encarar a separação depois de 12 anos?
MAURÍCIO - Ele não admite que o projetei. Mas Dib não ganhou uma única eleição (antes da formação do grupo), apenas para vereador. Ele perdeu para deputado e perdeu para vice-prefeito. Agora, quando ele entrou para meu grupo, foi secretario, passou por várias secretarias. Depois me substituiu, quando me afastei por problemas de saúde. Quem traiu o grupo foi o Dib.

DIÁRIO - Ainda há possibilidade de o PSB nacional intervir para apoiar o PT na cidade?
MAURÍCIO - Por vários motivos a nacional parece não querer a intervenção. Estive em Brasília e o presidente conversou com o PSB e alguns disseram: ‘Se formos intervir corremos o risco de ficar sem candidato'. Mas todos reconheceram que a ordem era fechar com os partidos aliados de Lula.

DIÁRIO - O sr. acredita que o ex-secretário de Habitação, Ademir Silvestre (PSB), manterá a candidatura?
MAURÍCIO - Se o Ademir mantiver a candidatura, tudo que foi feito a favor do Orlando acabou. Como o prefeito terá dois candidatos? Fica sem sentido. Não tem possibilidade de continuar, mas ele pode ser o vice.

DIÁRIO - Porque o sr. critica a união com o PT, se quando Dib entrou para engrossar o grupo o sr. era tucano?
MAURÍCIO - Isso é simples de explicar. As coisa mudaram. O PT ganhou a Presidência da República e está mudando o País, quer Dib queira ou não. Era diferente eu disputar para o PSDB sabendo que o governo era aliado e eu não querer apoiar o PSDB hoje por saber que o governo Lula está dando certo. Só não vê quem não quer. O PSDB na oposição não tem metade da competência que teve o PT.

DIÁRIO - O Dib partiu para o ataque, dizendo que o sr. perdeu o caráter porque perderá votos com sua saída?
MAURÍCIO - Não sei. Não quero julgá-lo. Mas meu valor independe dos partidos que passei. Sempre tive bons votos, independentemente do partido. As pessoas votam no homem, só 4% votam ideologicamente.

DIÁRIO - Como os petistas entendem seu retorno?
MAURÍCIO - Há 14 anos, quando saí do PT, alguns petistas me chamaram de traidor. Hoje, estamos no mesmo barco. Traição não é sair daqui ou sair dali, traição é quando você não concorda com algo, mas permanece por dinheiro, vantagem. Quando seu coração diz para abandonar, não é traição.

DIÁRIO - Qual foi o acordo com Luiz Marinho para o sr. abandonar o governo? Dib não cobriu a proposta?
MAURÍCIO - O Dib me fez uma proposta politicamente boa: eu ficaria com duas ou três secretarias e eu e ele seríamos assessores diretos do Orlando. Com o PT não negociei secretaria, nem dinheiro, mas cerca de 20 cargos. Fomos diretos ao ponto porque, se eu me demiti por solidariedade (aos exonerados), me sinto no dever de ajudar as pessoas que se expuseram por mim.

DIÁRIO -E qual foi a oferta de Lula para obter seu apoio?
MAURÍCIO - Lula não ofereceu a embaixada em Roma. Isso, de eu ser embaixador na Itália, surgiu no meio dos petistas. Ele (Lula) me disse: ‘Se o senhor quiser ser ministro, pode ocupar o Ministério da Previdência no lugar do Marinho. Mas eu tinha dúvida, não aceitei. Nesta idade recomeçar uma coisa nova é complicado. Nem vice eles me ofereceram. Se, por ventura, acontecesse esta intervenção, e o Marinho me quisesse como vice, seria um sacrifício, porque não quero ser vice.

DIÁRIO - O que achou de o Dib dizer que o sr. ‘perdeu o caráter'?
MAURÍCIO - Eu nunca vi o Dib dar uma entrevista com esta intensidade, falseando a verdade em vários pontos. Ele sempre foi prudente, de falar pouco. Mas isso a começou no dia que brigamos por conta do Orlando. Dissemos muita coisa desagradável um ao outro. Ninguém nunca tinha ousado dizer as coisas que eu disse da forma que eu disse. Ele nunca foi enfrentado, não está acostumado. Ele precisa lembrar que se comprometeu com a minha candidatura. Ele me lançou e praticamente impôs o nome do Orlando.

DIÁRIO - Por que então o Orlando saiu da chapa?
MAURÍCIO - Tem o dedo do Dib na saída de Orlando da chapa. Ele dizia que eu era o candidato, mas apoiava o Orlando. Eu disse que o partido estava inerte, continuei fazendo campanha durante muito tempo sem ajuda do partido. E agora sou traidor; veja o contra-senso.

DIÁRIO - O prefeito Dib disse que o sr. não tinha mais consenso entre o grupo, por isso retiraram o apoio à sua candidatura.
MAURÍCIO - Então ele que me dissesse, não ficasse dando declarações que eu ainda era o candidato. Ele cometeu traição comigo. Ele ouviu o que tinha de mim e daí começou a operação retaliação, a vingança. A nossa política já é considerada suja por muita gente. Quando um grupo briga entre si, a turma aponta o dedo e diz: ‘Veja como ele se tratam. Se tratam-se assim, adivinhe como nos tratariam'. Na Bíblia diz: 'Vede como eles se amam'. Aqui é o contrário: ‘Veja como eles se odeiam'.

DIÁRIO - O sr. o perdoaria?
MAURÍCIO - Conclamo Dib à razão, não podemos continuar com este nível, procurei minimizar as coisas porque com ódio não se constrói nada. Mas, formalmente, acho difícil fazermos as pazes novamente.

DIÁRIO - Voltaria ao PT?
MAURÍCIO - Vou lutar para a campanha ser civilizada e depois dizer para onde vou. De duas acontece uma: ou eu peço desfiliação ou eles me expulsam porque estou fazendo campanha para o outro lado.




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