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Problemas que assustam mais que o zika vírus

Nestes últimos dias busquei fazer imersão em textos, vídeos, podcasts...

Carlos Ferrari
16/02/2016 | 07:00
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Nestes últimos dias busquei fazer imersão em textos, vídeos, podcasts e outras publicações que me ajudassem a compreender o tamanho do problema zika vírus. Espero compartilhar com vocês síntese de tudo que li e ouvi, e para tanto procurei organizar nossa conversa a partir de problemas que, em minha percepção, são até maiores que a existência do próprio vírus.

Comecemos pela postura de nossas autoridades. É nítido que estão perdidos e assustados, mas pior que isso, apresentam-se sem propostas concretas que nos deem perspectiva de solução. O ministro da Saúde, Marcelo Castro, quando questionado sobre o assunto, posicionou-se por várias vezes de forma infeliz e equivocada, chegando ao ponto de afirmar que o melhor seria que as mulheres se infectassem antes da idade fértil. A presidente da República tem feito a população rir para não chorar com frases confusas e sem qualquer conteúdo que sinalize luz no fim do túnel. No dia 29 de janeiro, em videoconferência com governadores de São Paulo, Pernambuco, Paraíba e Bahia, ela, que sempre tem fugido do debate em torno do aborto, disse: “Temos que matar o mosquito de preferência antes dele nascer.”

Enquanto isso, na vida real, a população de todo o País fica perdida sobre como combater um mosquito que parece, inclusive segundo as falas oficiais, ser quase imbatível. Ele se apresenta como vilão tão poderoso que tem unido adversários políticos históricos em reuniões intermináveis para traçar estratégias de guerra para derrotá-lo. O exército já foi chamado, marqueteiros foram contratados, hashtags foram criadas e campanhas com agendas específicas foram lançadas em rede nacional. Todo esse barulho, no entanto, ainda não respondeu por exemplo, quais as certezas que fazem a mídia e tantas autoridades correlacionar o zika com a microcefalia? Quais outros vírus podem ser disseminados pelo mosquito? Quais as estratégias verdadeiramente eficientes que o Estado brasileiro lançará mão para combater os vírus como dengue, zika e chikungunya?

Quanto mais buscamos informações, mais dúvidas surgem a respeito do caminho correto a se tomar. Há quem diga, por exemplo, que melhor que eliminar a água parada é deixar para que os ovos eclodam, as larvas surjam e, assim possam a cada dois ou três dias serem eliminadas. Já se sabe que o mosquito tem se adaptado com grande velocidade aos meios urbanos, e condições que para ele até bem pouco tempo eram inóspitas, como água suja, agora já se configuram como ambientes acolhedores para que possam se reproduzir. Essa coluna é um chamamento para que fiquemos atentos e alertas para problema que, infelizmente, ainda pode ganhar corpo muito maior. É fundamental buscar informações, combater o mosquito e atuar sempre na perspectiva de provocar esse debate e encontrar, nos mais diferentes espaços em que atuamos, alternativas coletivas para vencermos essa situação.

* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 




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