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O Grande ABC tem três points GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Todos bares ficam no Centro de São Bernardo. O Koka’s Bar é o mais antigo. Completa oito anos em 12 de julho. Já mudou quatro vezes de proprietária e está prestes a trocar mais uma vez de mãos. A alguns passos do Koka’s Bar fica o Bar La Cassia, com três anos de vida. Não muito longe dali, encontra-se o Bar da Bete, o mais novinho deles, com um ano e sete meses de embalos noturnos.
Um quarto bar, o Santana’s, também é freqüentado pelo público GLS, mas seu proprietário rejeita a denominação. Reinaldo da Silva, há um ano à frente do Santana’s, diz que seu público é "eclético" e "familiar", ainda que às sextas-feiras e domingos "a predominância seja GLS" (lésbicas nas sextas e gays aos domingos).
O Koka’s e o La Cassia são quase vizinhos e enfrentam os mesmos problemas: a violência do entorno e o assédio de ambulantes. Gays e lésbicas, que freqüentam esses dois bares, têm sofrido agressões físicas e verbais. A polícia é chamada, mas nenhuma medida repressiva foi percebida pelos donos.
O proprietário do La Cassia, Marcelo Rodrigues Macedo, o Buda, 24 anos e 17 piercings no corpo, diz que o poder público só atrapalha. "Quando tem confusão na rua, a gente chama a polícia, mas, talvez por preconceito, eles não nos dão apoio." Ele diz que os policiais, quando aparecem, humilham seus clientes.
Silvana Sandaniel, 32 anos, proprietária do Koka’s, faz a mesma reclamação. "A polícia raramente pára por aqui. O meu bar está num lugar superlegal, só que toda semana acontecem roubos e a polícia não toma providências."
Felipe Escouto, 20 anos, morador em Santo André, vai regularmente ao Koka’s e ao La Cassia. Por duas vezes, foi perseguido por agressores. "Eu saí andando de mãos dadas com um amigo e um grupo correu atrás da gente. Eles estavam com pedaços de pau na mão. Conseguimos fugir." Em outra perseguição, Escouto se escondeu em um bingo.Escouto faz uma comparação entre São Paulo e Grande ABC: "A região é 50 mil anos atrasada. São Paulo está muito mais à frente e tem mais glamour. A maioria dos redutos GLS que abriram no ABC acabaram fechando, porque o pessoal não sabe valorizar seus points".
Mudança de vida – Buda virou dono do La Cassia, depois de um acidente sentimental. "Eu namorava uma garota, que era lésbica. Só que eu não sabia. Foi um choque." Ele se aproximou da turma da ex-namorada e acabou assumindo o bar. "Hoje é o meu ganha-pão."
No caso da gerente administrativa Elisabete Torricelli, 53 anos, foi um tombo financeiro que a fez lançar o Bar da Bete. "Abri um restaurante e perdi R$ 120 mil em um ano." Bete salvou a pele, depois que abriu o bar para o segmento GLS. "A região não oferece quase nada para esse público, que gasta bem."
Segundo Bete, o Grande ABC é "um horror" em termos de point para gays e lésbicas. "Os órgãos públicos não dão respaldo, a Prefeitura não se interessa e ainda existe muito preconceito."
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