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Grafite é alternativa para acabar com a pichaçao
Reynaldo Gollo
Da Redaçao
03/07/1999 | 16:44
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Entre mortos e feridos, na guerra entre cidadaos versus pichadores, salvaram-se os grafiteiros. Comerciantes e donos de muros em evidência estao usando cada vez mais os grafites para cobrir a sujeira e evitar que seu imóvel vire um muro de lamentaçoes indecifráveis das pichaçoes.

"Há um código de honra - se é que pode-se dizer que pichadores têm honra - entre eles e os grafiteiros", disse Sérgio Cruci, 36 anos, proprietário de uma loja na avenida Pereira Barreto, em Santo André, que pode ser chamada de paraíso dos pichadores tal a quantidade de prédios cobertos dos rabiscos dessa tribo. Cruci explica que, normalmente, pichadores "respeitam" muros e paredes grafitadas.

Há cerca de um mês, Cruci gastou cerca de R$ 1 mil com as ilustraçoes feitas por grafiteiros. "Desde entao, nao tivemos mais problemas com pichaçoes. Diversos lojistas aqui da Pereira Barreto me ligaram perguntando como fazer o mesmo."

Instalado há dez anos no 1.850 da Pereira Barreto, Cruci teve de mandar pintar sua loja quase todos os anos. Ironia do destino. O estabelecimento de Cruci se chama Toda Cor, uma loja de tintas. Ele fornece a arma para o inimigo. Adolescentes costumam comprar por lá latas de spray.

"Contratei uns garotos que passaram por aqui para fazer os grafites", disse Cruci. O capitalismo levado à perfeiçao: a gangue gera seu próprio mercado. "Os mesmos caras que picham fizeram os grafites." A montanha - Se a fé remove montanhas, as pichaçoes se mostraram mais resistentes que elas. Nem toda a fé do padre Antônio Guimaraes foi suficiente para afastar os jatos de tintas dos pichadores das paredes de sua igreja, a Nossa Senhora das Graças, na rua Guerra Junqueira, na Vila Humaitá. Uma briga de anos. Na semana passada, o padre resolveu liberar a parede para que um grafiteiro a cobrisse de desenhos com temas religiosos. "Desde que pintaram (os grafites), ninguém riscou mais as paredes", comentou Valderez Rosa, secretária da paróquia.

Os resultados da utilizaçao do grafite contra a pichaçao têm sido sensíveis. O comerciante Paulo Roberto Rasoppi, 42 anos, atesta isso. Ele comprou a padaria Novo Padrao, na avenida Santos Dumont, há seis meses. Ele a está reformando, mas disse que vai manter os grafites feitos nas paredes externas. "Nao temos problemas com pichaçoes", ao contrário da maioria de seus colegas da área. Até o poder público se curvou. As pichaçoes diminuíram muito nos muros do estádio Bruno Daniel desde que a Prefeitura os liberou para os grafiteiros.

Bons negócios - "Muita gente tem ligado para a gente encomendando grafites para combater as pichaçoes", afirmou Cristian Fernandes, 23 anos, o Crica, grafiteiro oriundo do extinto grupo de grafite Guerra das Cores. "Nao só comerciantes. Vou grafitar a parede de uma casa da qual o dono gosta do estilo country. Vou desenhar cavalos nos muros." Um serviço desses pode custar de R$ 100 a R$ 1 mil, conforme o tamanho e o estado de conservaçao do muro.




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