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Bingo usa olheiros para escapar da polícia
Do Diário do Grande ABC
14/04/2004 | 20:43
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  Letreiro pintado, portas fechadas, portão do estacionamento aberto e três faixas: uma informando o fechamento do bingo por decisão do governo federal, outra sobre a venda do ponto e uma terceira anunciando que agora o estacionamento do bingo é rotativo e custa R$ 1 a hora. É isso que se vê ao passar na frente do Bingo Pérola, na rua Bela Vista, no Centro de Ribeirão Pires. Mas o que só alguns sabem é que por trás dessa fachada as cartelas de bingo continuam sendo vendidas, as bolinhas sorteadas e os prêmios sendo pagos. Para driblar a polícia, quatro olheiros caminham de um lado ao outro da rua. Eles observam todo o movimento local. Quem vê, pensa serem apenas os funcionários do novo estacionamento.

Nesta quarta, um freqüentador do bingo jogou na casa e explicou à reportagem do Diário exatamente como é o seu funcionamento atualmente. Para entrar no bingo e jogar clandestinamente é necessário ser conhecido dos funcionários ou dos próprios olheiros.

Como a porta principal está fechada, o acesso dos clientes resume-se a uma portinha nos fundos do bingo – passagem que antes funcionava como saída para os freqüentadores que utilizavam o estacionamento, que era da casa.

Segundo o freqüentador, lá dentro, apenas o painel, a pipoqueira, os televisores e os computadores respeitam a MP (Medida Provisória) baixada em 20 de fevereiro pelo governo federal, que proíbe o funcionamento de bingos e máquinas caça-níqueis em todo o país. Nada disso funciona no bingo.

O sorteio dos números voltou a ser feito pelo esquema caseiro. As bolas são chacoalhadas em um saquinho e sorteadas. Os prêmios são pequenos: R$ 10 pela linha e R$ 30 pela cartela cheia. As cartelas são vendidas a R$ 1.

No salão, havia cerca de 70 jogadores nesta quarta. Uma das séries que correu foi a 0094. O jogo acontece diariamente das 15h às 21h, segundo os clientes. Quem entra, com exceção dos serviços eletrônicos e de vendedoras de cartelas uniformizadas, recebe a recepção pré-MP: mesas prontas e cafezinho à disposição.

Do lado de fora, o movimento é grande. Além do entra-e-sai de veículos no novo estacionamento, muitos entram a pé. Ao tentar passar pelos olheiros, o desconhecido é barrado, tal como aconteceu com a reportagem nesta quarta à tarde. Do corredor do estacionamento para frente, apenas quem é reconhecido consegue acesso ao salão.

Na saída, algumas pessoas contam o dinheiro que sobrou ou ganhou. Tudo sempre sob a observação dos olheiros que não cansam de andar pelo quarteirão, atravessar a rua e até mesmo se aproximar das pessoas estranhas que ficam por mais de dez minutos próximas do local. Um deles seguiu a reportagem até uma lanchonete.

Ao flagrar o funcionamento irregular, nesta quarta, o Diário tentou por várias vezes contato com os proprietários do Bingo Pérola, por meio do telefone fornecido pela sede da Abrabin (Associação Brasileira dos Bingos), em São Paulo, mas ninguém atendeu as ligações.




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