Setecidades Titulo
Feto some no lixo
do Hospital Nardini
Evandro De Marco
Do Diário do Grande ABC
27/11/2010 | 08:46
Compartilhar notícia


Um casal de jovens viveu momentos de tristeza e angústia durante todo o dia de ontem. A morte da filha aos sete meses de gestação não foi a única tragédia que se abateu sobre a balconista Luciana Alves da Silva, 25 anos, e do gesseiro Rafael da Silva, 23.

O corpo da menina que nasceu morta no Hospital Doutor Radamés Nardini, em Mauá, desapareceu misteriosamente e só foi encontrado depois de cerca de 12 horas, no início da noite, em meio a placentas e demais restos hospitalares em um aterro de lixo industrial, contratado para incinerar os resíduos.

O drama teve início na manhã de anteontem quando Luciana começou a passar mal e procurou atendimento no Posto de Saúde do Jardim Flórida. "Disseram que não tinha mais batimento cardíaco e que a criança estava morta", lamentou a mãe.

A balconista se dirigiu ao Hospital Nardini onde deveria passar por procedimento para interromper a gravidez. Segundo ela, recebeu medicamento para auxiliar no procedimento e permaneceu deitada sozinha em uma sala destinada a pré-partos. "Comecei a sentir muita dor e fiquei gritando pedindo ajuda, mas ninguém apareceu."

Ainda de acordo com Luciana, depois de cerca de uma hora apareceram os enfermeiros. "Eles chegaram quando eu já tinha parido."

A balconista confirmou que a filha estava morta quando deu à luz. "Ela estava roxinha e sem vida", garantiu. A partir daí, Luciana não foi informada para onde o corpo foi levado e recebeu alta por volta das 10h.

DESAPARECIMENTO - Durante todo o dia, Rafael e Luciana se dedicaram a preparar o velório e enterro, marcado para o Cemitério de Santa Lídia, em Mauá.

Para surpresa do casal, no fim da tarde, a família recebeu um telefonema do IML (Instituto Médico Legal) avisando que o corpo de Ana Luiza - como se chamaria o bebê - havia desaparecido.

De acordo com o delegado do 1º DP (Distrito Policial), Luiz Vanderlei de Lima, que registrou o desaparecimento do corpo da menina, um funcionário do setor de descarte de material humano acabou descartando o corpo junto com restos hospitalares.

O pai diz que um representante do hospital afirmou que, "possivelmente" o corpo havia sido descartado e levado por um dos caminhões da empresa Boa Hora - responsável pela incineração dos resíduos hospitalares - por volta das 7h30. O funcionário suspeito de ter cometido o erro ainda não havia sido localizado até o fim da noite de ontem.

O delegado avaliou que não houve crime, mas negligência por parte do funcionário. "Em nenhum momento houve a intenção deliberada de sumir com o feto, e sim um erro lamentável."

O corpo foi encontrado em um dos sacos enviados pelo hospital e estava prestes a ser incinerado. "Assim que souberam do desaparecimento, a empresa parou e os funcionários abriram cada saco até encontrar o feto", afirmou o delegado.

Hospital vai abrir sindicância para apurar o caso

A Direção do Hospital Nardini e a Prefeitura de Mauá garantiram, por meio de nota, que sindicância será aberta para apurar as circunstâncias do "breve" desaparecimento da filha do casal Rafael e Luciana da Silva.

O objetivo é apurar como se deu o fato e encontrar o responsável pelo descarte indevido do corpo. Ainda de acordo com a nota emitida, as medidas cabíveis serão tomadas.

ESPERA - No fim da noite de ontem, a família ainda aguardava para saber se poderia, enfim, sepultar a menina. "Sei que minha filha morreu, mas tenho direito de enterrá-la", disparou Luciana. Ela quer que o culpado pelo desaparecimento seja identificado e punido.

Às 23h, ainda era aguardada perícia na empresa Boa Hora, localizada no bairro Sertãozinho, em Mauá, para que o corpo fosse encaminhado ao IML onde deverá passar por exame de DNA e liberado para que a família, finalmente, realize o sepultamento de Ana Luiza no Cemitério de Santa Lídia.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;