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A saga de ganhar a vida na América
Da Redaçao
06/11/1999 | 17:38
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Piloto de caça da Aeronáutica durante a 2ª Guerra Mundial, motoqueiro do Globo da Morte em um parque da diversao em Torino, na Itália, carvoeiro, dono de bicicletaria, eletricista, operário e comerciante. O currículo, vasto, é do italiano Francesco Amendola, o novo colaborador de Terra Nostra, que chegou ao Brasil em 1948, sozinho, como ele faz questao de frisar, para ganhar a vida na América.   

"Após lutar cinco anos na guerra, deixei minha família no interior da Sicília, terra da máfia, e fui em busca de trabalho. Foi uma situaçao terrível. Na Bélgica, trabalhei com 200 jovens em uma mina de carvao. Sacrifício. Mas ganhei uma fortuna." Foi com esse dinheiro que o comendador conseguiu sustentar as duas irmas e a mae. O pai e o tio também serviam na guerra. "Minha família passou fome na Itália."   

Ao chegar em Sao Paulo, Amendola conseguiu dinheiro para se hospedar em uma pensao, vendendo uma camisa de seda francesa a um chofer, que mais tarde se tornaria um dos seus melhores amigos. "Ele perguntou se eu tinha trazido muamba. O que é isso? perguntei." Ao ser esclarecido, respondeu: "Vim para trabalhar. Nao para contrabandear, oras!"   

Depois de uma passagem pela refinaria Milho Brasil, na Lapa, como eletricista, Amendola encontrou um nono brasileiro, dono de quatro caminhoes que o ajudou muito. "Reparei muito caminhao dele. Quando faleceu, me deixou uma casa e um terreninho. Foi assim que comecei a me estabelecer."   

A vinda para a regiao aconteceu em 1950, quando Amendola pegou emprestado uma máquina de filmes 9 mm da já extinta Mesbla e passou a exibir filmes em um velho galpao da Vila Gerti. "Cobrava o que hoje seriam R$ 0,50, mas mudei logo de ramo. Abri uma oficina de conserto de motores elétricos, mas como só tinha um em todo bairro, quase fali", brinca o italiano.   

Precursor do esquema adotado hoje em dia pelas concessionárias de veículo, Amendola fez sucesso nos anos 50 ao ceder para clientes bicicletas emprestadas enquanto fazia o conserto das magrelas usadas na época pelos operários de Sao Caetano. "A Casa Amendola vivia cheia."   

Quando já estava estabelecido na cidade, o comendador decidiu retribuir a ajuda que teve de amigos brasileiros e italianos, que encontrou por aqui. "O que era uma festa no Natal para ajudar os mais necessitados virou uma associaçao social, recreativa e desportiva."   

Com a perda da mulher e de um filho num acidente trágico nos fins do anos 70, Amendola fechou tudo em Sao Caetano e foi para Ribeirao Pires. "Mas como quem nasce redondo nao morre quadrado, acabei me casando de novo. Estou no auge dos meus 80 anos, me sentindo com 20."




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