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A revolução das cadeiras

E aconteceu que os ataques terroristas a Paris perderam aqui, em pátria tupinambá...

Rodolfo de Souza
10/12/2015 | 07:00
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E aconteceu que os ataques terroristas a Paris perderam aqui, em pátria tupinambá, o caro espaço televisivo para o desastre ambiental que teve origem lá em Minas e alcançou o mar que Minas não tem. Até o famigerado presidente da casa, por algum tempo, andou meio esquecido diante de tanta tragédia. Não que a política brasileira não se configure, assim, desastre de igual monta e não mereça seu lugar de honra nos telejornais. Entretanto, cansou e o rico patrocinador já pensa até em fechar a mão e parar com o patrocínio por considerar o assunto por demais exaustivo e já um tanto distante do interesse popular.

Mas a lama toda, não esta, aquela que escapou da barragem, fez surgir um batalhão de pessoas preocupadas em multar, culpar, mostrar indignação e um sem fim de atos de repúdio. A bem da verdade, ninguém sabe onde é que estava a gente que não previu o sinistro. Será que não havia quem, volta e meia, averiguasse a parede que continha o barro? Agora, chora-se sobre o leite derramado, como é comum nesta pátria da fantasia habituada também a chorar depois de eleger este ou aquele para a ciranda da farra desenfreada do poder público.

Exemplo é a determinação do governo bandeirante que decidiu pelo fechamento de algumas dezenas de escolas, doa a quem doer. E, para tanto, realocou, à revelia, a população estudantil para aqui e para ali. O povo se revoltou e correu fazer passeata. Não deu em nada. Decidiu, então, ocupar algumas unidades escolares para pressionar o governo irredutível que não se deixou intimidar, permaneceu irredutível e, de sobra, veiculou linda propaganda que falava dos benefícios que sua medida traria para a educação paulista, sua preocupação primeira. Aliás, o cuidado para com o aluno é tanto que o grato governante, antes de decidir-se pela mudança, armou-se de fita métrica e partiu rumo a cada escola a ser desativada neste rico estado, com a finalidade de certificar-se de que o aluno transferido não teria que percorrer mais do que um quilômetro e meio para alcançar a sua nova carteira. Tudo pensado e calculado com muito esmero para o bem da evolução intelectual de seu eleitorado.

Mas este chiou para valer e não deixou as escolas, fez movimento bacana com as cadeiras escolares, aguentou gás lacrimogêneo, bateu o pé que não arredou da avenida até faraó se render. Garra e ousadia que, como um enorme ventilador, tocou para longe a farofa de sua alteza.

A mídia que havia se lambuzado com a lama, então, deitou e rolou neste assunto até esgotar. Não esqueceu, claro, de abusar da retórica quando o senador foi preso. É surpresa que não acaba!

Mas a lama, a despeito de tanta emoção, continua na crista de onda, já que caminhou centenas de quilômetros, intrépida. Ninguém conseguiu contê-la, da mesma forma que há séculos a lama (a outra) escorre determinada pelos corredores do poder, sem que alguém possa detê-la. A lama do petrolão é, pois, só a ponta de um robusto e vigoroso iceberg marrom. Além desta, tem a do mensalão, dos trens de Sampa (astutamente empurrada para debaixo do tapete), das pontes do Tocantins, do... Pensando bem, é melhor parar por aqui e me ater somente à lama, aquela que sujou o rio e a vida das pessoas, embora seja penoso deixar de falar desta que não deixa o Brasil caminhar para assumir definitivamente o seu lugar de gigante no cenário mundial.

Pensando bem, acho que já passou da hora de levarmos para as ruas as nossas cadeirinhas, afinal, os recentes acontecimentos deixaram claro que só elas podem conter esta lama toda.

* Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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