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Alunos deixam mãe de calcinha na rua
Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
01/09/2005 | 08:49
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A vendedora M.B., 45 anos, se viu só de camiseta e calcinha em plena avenida Tijucussu, no bairro Olímpico, em São Caetano. Ela foi atacada por um grupo de cerca cem de estudantes da Escola Estadual Joana Mota, que se dirigia ao campeonato interescolar, em que estudantes dos colégios competem em várias modalidades. De passagem por uma escola rival no campeonato, a EE Yolanda Ascêncio, os jovens encontraram com a vendedora M. e a obrigaram a tirar a calça. Sua filha N., 14 anos, foi obrigada a tirar a camiseta do uniforme da escola.

O incidente ocorreu por volta das 11h de quarta-feira. M. parou o carro em frente à Yolanda Ascêncio, na avenida Tijucussu, para buscar a filha. "Quando eu vi aquela multidão chegando, parecendo uma fanfarra, até achei bonitinho. Mas quando foram chegando perto percebi que estavam de provocação", lembra a vendedora. Não demorou para que o grupo se aproximasse e confirmasse a desconfiança de M.. "Tá pagando de Yolanda", dizia o grupo a N.

Seguindo o costume das torcidas organizadas, em que os rivais tomam as camisetas um do outro, os estudantes da EE Sônia Mota obrigaram a adolescente N. a tirar a camiseta. "Como eu estava com uma outra blusa por baixo, tirei", afirma.

Mãe e filha contam que os jovens não pareciam satisfeitos. Diziam: "Essa gostosa tem que andar pelada". A mãe saiu em defesa de N. "Na minha filha ninguém mexe!", gritava. Oportunidade que faltava para que os estudantes raivosos percebessem que a calça usada por M. tinha listras vermelhas – mesma cor do uniforme da escola da filha. "Aí eles começaram a me xingar e me fizeram tirar a calça e jogar no meio da rua. Fiquei só de calcinha e camiseta", relata a vendedora. Uma outra mãe de aluna da escola também teria sido constrangida.

De carro, mãe e filha foram procurar a polícia. Segundo a vendedora, que a essa altura já tinha enrolado uma blusa ao redor da cintura, um grupo de guardas municipais as acompanhou até a escola Joana Mota, na rua Espírito Santo, no bairro Cerâmica. No local, o mesmo grupo de estudantes-torcedores reconheceu as duas. Recomeçava a confusão.

A diretora da escola e uma professora teriam tentado defender as duas e acabaram sendo agredidas, segundo o Boletim de Ocorrência 5.636. Na confusão, a adolescente N. também teria sofrido golpes de baquetas (normalmente, usadas em instrumentos de percussão) no braço.

Enquanto isso, guardas municipais tentavam fazer com que a multidão se acalmasse. O que, segundo testemunhas, custou a acontecer. M., sua filha N., uma professora e a diretora da escola Joana Mota acabaram na delegacia de polícia da cidade. Antes, porém, a vendedora M. conseguiu uma calça emprestada.

No DP, a diretora da escola disse à polícia que a torcida – que a havia agredido e obrigado mãe e filha a se despirem – foi eleita como a "mais alegre" do campeonato. Segundo o delegado de plantão, Paulo Roberto Ferraz, a diretora colaborou com a investigação. "Ela revelou o nome de três jovens que estariam envolvidos na confusão", afirma o delegado de plantão.

O plantonista Paulo Roberto Ferraz também informou à reportagem que o caso será encaminhado à Vara da Infância e da Juventude. "O caso foi registrado como ato infracional justamente porque todos os envolvidos são menores de idade", afirma Ferraz. A diretora da escola, segundo o delegado, será encaminhada para exame de corpo de delito, para averiguar as possíveis agressões. Pelo menos os três alunos mencionados pela diretora devem responder pelo ato infracional.




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