Economia Titulo Mercado de trabalho
Negros recebem 37,5% menos que os brancos
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
18/11/2015 | 07:04
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Para cada R$ 100 que um trabalhador branco ou de origem asiática recebeu na região entre 2013 e 2014, um negro ganhou R$ 62,50 – 37,5% a menos. É o que mostra pesquisa divulgada ontem pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e que foi feita em parceria entre a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Além da discriminação racial, uma das explicações para a diferença no rendimento médio real é o nível de escolaridade. Por estarem inseridos em um contexto de maior vulnerabilidade social, incluindo a dificuldade no acesso à educação de qualidade, os negros têm de entrar mais cedo no mercado de trabalho e, por isso, não conseguem se preparar para disputar as melhores vagas. “O tipo de inserção requer estudos e a criação de uma rede de contatos. Os negros estão pouco presentes em cargos de direção e gerência, e isso tem tudo a ver com a falta de capacitação”, comenta o economista Alexandre Loloian, assessor técnico do Seade.

Para se ter uma ideia da diferença no nível educacional, o total de participação de trabalhadores com Ensino Fundamental incompleto no mercado é de 33,8%, enquanto, entre negros, sobe para 42,6%, e cai para 29% na população de brancos e orientais. “Por isso, é maior a presença de negros em atividades com menor nível de exigência e que, portanto, têm menor remuneração”, acrescenta Loloian.

Consequência da desigualdade socioeconômica é a análise da ocupação por faixa etária. No biênio 2013/2014, a taxa de participação de negros entre 16 e 24 anos no mercado era de 75%. Isso quer dizer que a cada quatro negros com essa idade, três já trabalhavam. Entre os brancos, o índice cai para 72,7%.

Isso reflete na outra ponta: os negros demoram mais para sair do mercado de trabalho, já que, com os salários menores, têm mais dificuldade para planejar a aposentadoria com alguma segurança financeira.

Na comparação entre gêneros, as discrepâncias são ainda maiores. Mulheres brancas e de origem asiática receberam entre 2013 e 2014 o equivalente a 70,8% da quantia paga a homens da mesma etnia. Já entre os negros, as proporções caem ainda mais: 61% para quem é do sexo masculino – em relação aos trabalhadores brancos – e 45,3% para as mulheres.

DESEMPREGO - A taxa de desemprego entre os negros teve aumento de 1,7 ponto percentual entre 2013 e 2014, passando de 10,4% para 12,1%. Para brancos e asiáticos, subiu menos: 0,2 ponto percentual, chegando a 10,1%. Apesar do aumento, as taxas apresentam redução significativa entre 1999 – início da série histórica – e o ano passado. Para os negros, caiu 14,7 pontos percentuais, enquanto para os não negros, a queda foi de 8,8 pontos percentuais.

“Isso é fruto de boas políticas afirmativas adotadas nos últimos anos, como as cotas raciais”, acrescenta Loloian. O economista salienta que, atualmente, os negros têm mais facilidade para acessar a Educação, principalmente os cursos superiores. Além das vagas reservadas, programas como o ProUni (Universidade para Todos) e o Fies (Financiamento Estudantil) possibilitam a inserção de população de baixa renda nas faculdades.

RENDIMENTO - Apesar de a diferença nos salários ainda ser expressiva, a renda média real dos negros teve aumento de 11,8% entre os biênios 2011/2012 e 2013/2014, passando de R$ 8,30 para R$ 9,28 a hora. O percentual é superior ao do total de trabalhadores do Grande ABC, cuja remuneração teve variação de 7,32% (de R$ 12,29 para R$ 13,19). Entre os não negros, a elevação foi ainda menor, de 4,79% (subindo de R$ 14,18 para R$ 14,86).

O rendimento médio dos negros teve aumento em todos os ramos de atividade, com destaque para os setores de serviços (+53,2%) e comércio (+14,8%), enquanto que, entre os não negros, as majorações foram de 7,4% e 10,5%, respectivamente.

Considerando apenas a fatia de trabalhadores brancos e de origem asiática, houve queda na renda real horária na totalidade do setor industrial (-1,3%) e na indústria metal-mecânica (-1,8%). Já entre os negros, as variações foram positivas, de 3% e 8,2%, respectivamente – veja tabela completa no alto da página.

O economista Alexandre Loloian, assessor técnico da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), avalia que o crescimento da renda média dos negros em ritmo superior ao dos não negros está ligada aos aumentos reais do salário mínimo. Entre 2003 e 2014, os ganhos do mínimo descontando a inflação somaram 72,3%, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). “A renda dos negros, por ser mais baixa e, portanto, estar mais próxima ao piso, é mais afetada pela política nacional de valorização do salário mínimo”, comenta. Nas faixas mais elevadas, os reajustes conquistados pelas categorias apresentaram percentuais mais baixos. 




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