Economia Titulo Investimento
Braskem aporta US$ 5,2 bi em fábrica no México

Primeira unidade no país deve reduzir em US$ 2 bi deficit da balança comercial

Leone Farias
Enviado à Cidade do México
12/11/2015 | 07:27
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Em meio ao cenário atual em que a indústria petroquímica brasileira enfrenta a falta de um acordo de longo prazo com a Petrobras para que a estatal forneça matéria-prima ao setor, a Braskem, que tem fábricas no Grande ABC, inaugura em dezembro sua primeira unidade fabril no México, com investimento de US$ 5,2 bilhões.

Esse é o maior aporte já realizado por empresa privada nesse país e, além de gerar 3.000 empregos durante a fase de obras, há a perspectiva, entre outras coisas, de reduzir em US$ 2 bilhões ao ano o deficit da balança comercial mexicana – em 2015 estimado em US$ 8,7 bilhões –, devido à substituição de importações de produtos petroquímicos (itens utilizados para a fabricação de embalagens e peças de plástico).

Realizado em parceria com a Idesa, que é uma das maiores petroquímicas mexicanas, o projeto da fábrica, que vai gerar 1 milhão de toneladas anuais de resinas plásticas, resultou de processo de licitação aberto pelo governo mexicano em 2008, após mudanças regulatórias – na Constituição Federal – que permitiram a quebra do monopólio da estatal petrolífera Pemex (Petróleos Mexicanos) nesse setor.

O México, segundo especialistas, tem feito sua lição de casa para atrair investimentos e seguir crescendo. O país, que deve ter expansão de 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto), de US$ 1,3 trilhão, fez uma ampla reforma energética, que possibilitou a abertura do mercado tanto no setor químico quanto na área de petróleo – a Pemex, que dominava até este ano o segmento, incluindo a distribuição de combustíveis, deixará de ter o monopólio, com a abertura de licitação de novos blocos de exploração e produção – e também de energia elétrica, que era controlado por uma única empresa estatal, a CFE (Comisión Federal de Electricidad).

Não é só isso. O México tem um sistema simplificado de tributação. Possui apenas um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) de 16% e não um monte de tributos diferentes sobre a atividade fabril –, que significam, somados, carga tributária da ordem de 20% do PIB. É bem menos que no Brasil, onde a carga de impostos fica próxima de 35% do PIB, de acordo com o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário).

Outra vantagem é o custo da matéria-prima para a produção de etileno (principal produto petroquímico) da Braskem, bem mais barato no México do que no Brasil – a Pemex vai abastecer a fábrica com insumo que toma como referência de preço a cotação norte-americana, que tem um dos custos mais baixos do mundo.

E, nos últimos anos, o México fechou acordos comerciais com grande número de países. A ex-secretária de Comércio Exterior do México e sócia da consultoria SAI Derecho & Economia Beatriz Leycegui cita que a partir de 2011 houve a realização de negociações megarregionais que resultaram em 11 acordos de livre comércio e 32 de alcance parcial, que abriram a economia do país e permitiram o acesso a 70% do PIB mundial.

MANUFATURA - Com a ajuda dos acordos comerciais, as exportações mexicanas cresceram 6,5 vezes em dez anos (de 1994 a 2014), e indústrias manufatureiras, como a automotiva, de eletroeletrônicos e espacial, têm ganhado impulso. Em 1982, as vendas externas desse país eram 70% do setor petrolífero e apenas 25% da manufatura. Hoje, 82% da receita com as encomendas ao Exterior já provêm das manufaturas e apenas 12% do petróleo, assinala Beatriz.

Essa mudança fez parte da estratégia de abertura adotada pelo governo mexicano, entre outros fatores porque, a partir de 2004, quando, após pico na produção, a produção de petróleo começou a gerar receitas decrescentes. “Acabou a época do petróleo fácil, as reservas em águas baixas do Golfo do México que davam 60% da produção, começaram a dar bem menos, e precisávamos de capital e tecnologia para explorar campos em águas profundas e não os tínhamos”, explica o secretário (correspondente no Brasil a ministro) de Energia, Pedro Joaquín Coldwell. Além disso, nos últimos anos, a cotação dessa commodity (que chegou a US$ 100) vem em queda e hoje gira em US$ 50.  

O jornalista viajou à convite da Braskem




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