Os vizinhos do prédio que um dia abrigou o Cine Teatro Carlos Gomes, no Centro de Santo André, cobram da Prefeitura a reabertura do espaço. As instalações foram interditadas pela Defesa Civil em janeiro do ano passado devidos às más condições estruturais. Inaugurado em 1912, o Carlos Gomes era o cinema mais antigo do Grande ABC.

Estudante de Letras e funcionário de uma padaria em frente ao cine teatro, Giuliano Araujo di Caprio, 28 anos, iniciou na semana passada abaixo-assinado pela reabertura da casa de espetáculos. O documento já soma mais de 60 assinaturas, a maior parte delas de comerciantes da região.

"Guardo boas lembranças dos filmes e peças que lá assisti, por isso tive essa ideia. Os comerciantes e os clientes da padaria acreditam que a gente precisa atrair mais pessoas para o Centro", afirmou. O objetivo de Giuliano é entregar o documento ao secretário de Cultura, Esportes e Lazer de Santo André, Edson Salvo Melo.

A comerciante Regina Magno, 48, é uma das que apoiam a reabertura do antigo centro de entretenimento. "A gente gostaria que (o Carlos Gomes) voltasse a abrir. Um prédio do porte do cinema estar abandonado não é nada bom. Acredito que traria mais movimento para a região central", avaliou.

Opinião semelhante é a da também comerciante Raquel Varuzza, 28, que guarda em sua memória os espetáculos teatrais que viu no local em sua infância. "Assisti muitas peças lá, por isso acho muito importante a reabertura, para a vida cultural do Centro. Acredito que com isso o comércio poderia permanecer aberto ao longo da noite. Teria mais movimento de pessoas", disse.

HISTÓRIA - O cinema iniciou operações na Rua Coronel Oliveira Lima. Em 1925, se transferiu para o edifício da Rua Senador Flaquer, onde operou até o fechamento, no fiml da década de 1980.

Em 1992, o prédio foi tombado pelo Condephapaasa (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André). Desde então, ele funcionou de forma intermitente até a interdição, no ano passado.

Prefeitura não tem recursos para iniciar reforma na casa

O projeto de revitalização do Cine Teatro Carlos Gomes, elaborado pela Prefeitura em 1999, ainda não tem data para começar. A reforma do local foi uma das bandeiras defendidas pelo prefeito Aidan Ravin (PTB) durante a campanha eleitoral.

Segundo o secretário de Cultura, Esportes e Lazer de Santo André, Edson Salvo Melo, não existem recursos da Prefeitura para a execução da obra. "A reforma terá um custo de R$ 8 milhões. Estamos trabalhando para conseguir esse dinheiro por meio do Ministério da Cultura ou por uma parceria com a iniciativa privada."

Ainda segundo ele, o projeto inclui também a aquisição de um novo equipamento de projeção de filmes e a construção de uma nova fachada. "Ela irá reunir elementos arquitetônicos da fachada dos anos 1920 e da reforma dos anos 1950", completou.EE

Derradeira atividade narra processo de desestruturação

A derradeira atividade no Cine Teatro Carlos Gomes teve como protagonista um ator bastante ligado aos palcos de Santo André. Antonio Petrin rodou, em 2007, o filme O Último Chá (sem data de lançamento), melodrama sobre a desestruturação de uma família na ditadura. Foi filmado no palco, ao estilo Dogville (de Lars Von Trier), com cenários sem paredes dividindo ambientes. O personagem de Petrin, anticomunista, que teve o filho esquerdista morto na repressão, sofre conflito interno enquanto seu lar é demolido.

Uma das falas, "Eu nasci nessa casa, a melhor do bairro, que virou teatro", soa como metalinguagem do Carlos Gomes, interditado desde janeiro de 2009 pela Defesa Civil. Tombado pelo patrimônio histórico andreense, mas nunca, de fato, respeitado como tal. (Alessandro Soares)