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Um aluno do papa é de Santo André
Renata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
03/04/2005 | 19:54
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Quando o nome do cardeal polonês Karol Wotjyla foi anunciado como o papa que sucederia o então falecido João Paulo I, em 16 de outubro de 1978, quebrou-se uma longa tradição. Desde o ano de 1523, a Igreja Católica nomeara apenas italianos como autoridade máxima do Vaticano. O mundo ficou ainda mais surpreso com o fato de o novo papa ser oriundo de um país comunista. Em época de Guerra Fria, a chegada de novos tempos era mais do que evidente. Se a inovação trouxe interrogações para as demais nações de tradição católica, no Brasil espalhava-se a notícia de que um padre de Diadema, Jorge Wasilewski – hoje em Santo André – era o único morador do país que havia convivido com o novo pontifície.

Na época em que João Paulo II assumiu o pontificado, padre Wasilewski estava à frente da paróquia Santa Rita de Cássia, na Vila Santa Rita, em Diadema. Sua aproximação com o novo papa foi noticiada uma reportagem produzida pelo Fantástico, da Rede Globo.

Antes, o Diário também havia entrevistado o pároco de Diadema para a reportagem Novo papa surpreende até dom Cláudio, publicada em 17 de outubro de 1978, um dia após a eleição de Karol como novo chefe de Estado do Vaticano. E trazia a repercussão da escolha de Karol como papa entre a comunidade polonesa da região, bem como a opinião de Dom Cláudio Hummes, então bispo da diocese de Santo André.

Na ocasião, Wasilewski disse que "tinha esperança de uma aproximação maior entre o Leste e Oeste" com a eleição de um papa polonês. Dentro da ordem mundial vigente naquela época, Leste representava o bloco de países comunistas comandados pela extinta União Soviética, enquanto Oeste sintetizava o mundo capitalista encabeçado pelos Estados Unidos.

A estranheza do sobrenome do pároco não esconde: Wasilewski é polonês, radicado no Brasil desde 1967. Mas não nasceu em Cracóvia, cidade natal de João Paulo II que fica no Sul da Polônia. Ele é natural de Szczuczyn (pronuncia-se Stchetchin), localizada no Norte do país. "É quase na Rússia", explica Wasilewski, hoje com 68 anos. Exatos 26 anos e seis meses depois que João Paulo II assumiu o pontificado, padre Jorge concedeu nova entrevista ao Diário na tarde de sexta-feira – momento em que o mundo acompanhava o noticiário sobre a agonia vivida por Karol Wotjyla.

Pertencente à ordem dos dominicanos, Jorge Wasilewski conheceu João Paulo II quando partiu ainda jovem para Cracóvia para dar continuidade aos estudos de Teologia e Filosofia. Ali o padre recebeu ensinamentos do futuro papa. "Uma pessoa humilde e simples, mas que como arcebispo exigia que todos se dedicassem inteiramente ao clero", lembra.

Depois partiu para o Brasil como missionário. Wasilewski saiu de Cracóvia em 26 de dezembro de 1966, sob temperatura de 25°C negativos. Foi recepcionado no Rio de Janeiro com um calor de 40°C. "Passei por um período de aclimatação em Petrópolis (RJ), e aproveitei para aprender a falar português."

Passou por Minas Gerais, Espírito Santo e Pará. Chegou no Grande ABC em meados da década de 1970. Passou pela paróquia São José, em São Bernardo e pela Catedral do Carmo, em Santo André. Ficou 16 anos em Diadema, e há cinco está no Santuário de Santa Terezinha, também em Santo André.

Reecontrou Karol Wotjyla quatro vezes, mas somente na primeira vez foi reconhecido pelo papa, em 1980, durante uma audiência pública na praça São Pedro, no Vaticano. "Perguntei: lembra de mim? Ele me pediu duas dicas. Falei: jantar e Cracóvia. Ele disse: claro que sim! Você partiu para uma missão há mais de 10 anos", relembra. "Chorei de emoção."




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