Carlos Boschetti Titulo Análise
Brasil, ladeira abaixo no ranking mundial
Carlos Boschetti
05/11/2015 | 07:16
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Com a recessão e a valorização do dólar, o Brasil vai terminar o ano como a nona maior economia mundial, prevê o FMI (Fundo Monetário Internacional). O País, que tinha o sétimo maior PIB global no ano passado, não apenas será ultrapassado pela Índia, como o próprio fundo previa em suas projeções de abril, como também ficará atrás da Itália. A última vez que o Brasil não ficou entre as oito maiores economias mundiais foi em 2007. Naquele ano, o País tinha o décimo PIB global, mas a crise norte-americana veio logo a seguir, arrastando a economia europeia e derrubando os PIBs de Espanha e Itália, que antes estavam à frente do brasileiro. Pelos cálculos do FMI, o PIB brasileiro será de US$ 1,8 trilhão neste ano, o menor, em valores correntes, desde 2009. Em 2014, ficou em US$ 2,3 trilhões.

O declínio do Brasil no ranking das maiores economias globais deve-se em parte à recessão atual. O fundo prevê que a economia brasileira vai encolher 3% neste ano, dois pontos percentuais mais que na sua estimativa de abril (quando solta relatório global semestral) e 1,5 ponto percentual mais que na projeção mais recente, de julho. Outra parte importante deve-se ao dólar, que subiu mais de 50% em relação ao real neste ano, chegando a ultrapassar recentemente a casa dos R$ 4, em meio a tensões externas (expectativa de aumento dos juros nos Estados Unidos) e principalmente internas (dificuldades do governo nas suas relações com o Congresso e dúvidas sobre o cumprimento da meta fiscal). Como os cálculos do FMI para comparação global são feitos em dólar, variações bruscas na cotação da moeda norte-americana têm impacto na medição do PIB de cada país. 

Segundo os agentes econômicos, a queda não vai parar nesse patamar. O agravamento do cenário político contribuiu em muito desde a reeleição da presidente Dilma, que camuflou as contas públicas até o último minuto do segundo tempo. A inércia e os conflitos de interesse no Parlamento detonaram o pacote de ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que, após dez meses, viu seu projeto ser detonado por fogo amigo de seus colegas de ministério e pelos parlamentares da suposta base parlamentar de apoio no Congresso. Em muitas votações, eles sabotaram todas as iniciativas de aprovação de medidas associadas a aumento de receita do governo através de alta de impostos.

A única certeza que temos é de que vamos continuar caindo se esse clima de incertezas não mudar. O que é difícil de digerir é a miopia de nossos governantes, que conseguiram adiar a retomada que seria possível através de medidas sérias e comprometidas com o superavit fiscal, equilíbrio das contas e o compromisso com o crescimento sério e sustentável. As condições externas macroeconômicas não proporcionam ventos favoráveis, indicam mudança somente através do consumo interno e aí todos os indicadores apontam para a continuidade da crise, afetando duramente 2016 e contaminando 2017. O preço social será imenso se algo de concreto não acontecer em 2016, pois 2015 vai entrar para a história como a perda da década de um País que ainda não aprendeu as lições de um Estado democrático. É através da riqueza da produção e do desenvolvimento tecnológico, da geração de empregos e aumento de renda com foco no crescimento econômico e não do crescimento do Estado que se promove desenvolvimento sustentável. Ao contrário, aqui, população trabalha para o Estado e não o Estado trabalha para a Nação. Quando vamos aprender?
 




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