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Deu mesmo o que falar

Fiquei surpreso ao saber que uma frase de Simone de Beauvoir...

Rodolfo de Souza
05/11/2015 | 07:00
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Fiquei surpreso ao saber que uma frase de Simone de Beauvoir mais o tema da redação, ambas deste último concurso do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), foram suficientes para desencadear a ira e estremecer os brios de dois políticos aqui desta terra de meu Deus! A igualdade entre homens e mulheres teria sido o epicentro da discussão que, ao que tudo indica, desagradou os sujeitos que acusaram de doutrinadores os responsáveis pela organização do evento.

Por que, afinal, teriam reagido desta forma? E se os candidatos, todos garotos ainda, tivessem pela frente outro tema e soubessem escrever direitinho a respeito. Quem sabe, a conivência do poder público com relação à devastação desenfreada da Amazônia, ou a propina que rola solta neste chão, ou sobre as negociatas e demais absurdos recorrentes da péssima atuação política na vida deste país? Por certo que haveria, além destes, uma infinidade de outros exemplares da espécie se remoendo de ódio diante de tudo que o jovem despejaria no papel. A bem da verdade, que manifestação assim não iria para as redes sociais, sob pena de ser denunciado o meliante por causa da carapuça que, certamente, seria o seu número. 

Mas neste caso, sinceramente não vejo razão para tamanho espalhafato, até porque, a questão colocada em prova é mais uma tentativa de voltar o olhar do povo para um problema que é antigo no mundo e nesta pátria.

Logicamente que a diversidade de opiniões é sempre bem-vinda, porque tende a enriquecer o debate com opiniões em favor ou contrárias. Contudo, é de causar espanto o fato de ninguém dizer palavra quando se fala em agressão à natureza, quando a pauta gira em torno da violência no trânsito ou, ainda, quando há um grito preso na garganta, implorando por um ponto final na criminalidade. Neste último, inclusive, há alguns que apóiam o clamor, embora o silêncio ainda fale mais alto. 

Por que, então, agora que a discussão gira em torno da igualdade de gêneros, contra os crimes de que foram e ainda são vítimas as mulheres, os digníssimos representantes do povo, ultrajados como só eles, gritam a plenos pulmões, seu descontentamento, sua revolta? Acaso estariam espancando as suas companheiras e defendem o seu direito de fazê-lo? Penso que não. Se assim fosse, a Maria da Penha tomaria logo conhecimento e a situação se reverteria contra os tais. 

Ou, teriam aqueles, alguma aversão à fêmea da espécie humana? É possível. Mesmo assim, é preciso que respeitemos o gênero que não tolera a concorrência feminina. Ih! Parece que embolou o meio de campo!

Está vendo no que dá implicar com temas polêmicos que procuram despertar a consciência popular masculina para a necessidade de se respeitar a mulher e dedicar a ela todo o carinho deste mundo? 

A quem tomou a iniciativa de elaborar a prova com este desafio, toda a minha consideração. Afinal, vovó era mulher, mamãe também, e a mulher que o diga... Por que, então, criticar duramente o cidadão que tem o bom senso de colocar questões num concurso com esta homenagem. Baita homenagem!

* Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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