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CD resgata os grandes nomes do bolero
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
05/05/2001 | 16:39
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  Ele nasceu na Espanha, ficou famoso nas melhores salas de concerto pelas mãos de um francês – Maurice Ravel – e fez duas escalas fundamentais, em Cuba e no México, antes de conquistar de vez os salões de baile de todo tipo e qualidade em qualquer lugar do planeta. Afinal, nada como um bolerão para curar dor-de-cotovelo, cantar a distância da amada ou então curtir aquele chamego.

Tudo isso, e muito mais, está presente em doses generosas no estojo de quatro CDs intitulado Dançando ao Som de Grandes Boleros (Reader’s Digest Música, R$ 79,98 pelo site www.selecoes.com.br). O mestre de cerimônias é um dos maiores nomes do gênero, o chileno Lucho Gatica, que brilha tanto sozinho quanto em duo com alguns dos maiores nomes da música popular brasileira. De bônus, o quarto CD traz outros cantores emblemáticos do gênero, como Pedro Vargas e Gregorio Barrios.

No duro, no duro mesmo, o bolero não é lá tido em alta conta pelo chamado público mais metido a intelectual (ou besta mesmo). Mas, cá entre nós, quem já não cantou junto, borracho ou quase, canções como Sabor a Mi, La Barca ou El Día que me Quieras? E depois, música popular não pode ser friamente analisada por padrões musicológicos. Mesmo porque harmonicamente é quase sempre pobre, e as fórmulas melódicas acabam se repetindo ad infinitum. Qual é o admirador ou pé-de-valsa fanático por bolero que está interessado nisso?

O mote do bolero bem que poderia ser assinado por aquele famoso pianista e compositor acreano chamado João Donato. Que, aliás, comparece num dos CDs como criador de um notável boleríssimo intitulado Até Quem Sabe (numa versão bossajazz da competente Leny Andrade). Pois aquele ritmo dois-pra-lá, dois-pra-cá é mesmo irresistível.

Lucho Gatica funciona como eixo em torno do qual giram os mais variados intérpretes. Caso de Cauby Peixoto, num derramado dueto com o chileno em El Dia que me Quieras. Que não é tango, mas bolero, sim, de acordo com João Máximo, o jornalista que assina o bem-informado texto do folheto interno. É provavelmente a única canção de Carlos Gardel – mas que impacto eterno ela possui.

Lucho Gatica, nascido em 1928 em Rancagua, no Chile, começou a carreira em Santiago, cidade onde o cronista carioca Rubem Braga, então em missão diplomática do governo brasileiro, ouviu-o e escreveu para a revista Manchete nos idos de 1955: “Prestem atenção neste rapaz que tem o impressionante poder de acariciar as palavras”. E sugeria que os brasileiros escutassem Gatica num clássico, Besame Mucho. Lucho estreou meses depois no Brasil, um mês no Golden Room do Copacabana Palace, no Rio, outro no Lord, em São Paulo. Bem, de lá para cá o cantor tem tido platéias cativas. E não só no Brasil, mas no México e em Cuba – dois países que reivindicam para si a invenção do bolero e acabaram coroando o chileno.

Durante 30 anos ele viveu em Cidade do México e nos últimos 14 em Los Angeles. O bolero não anda muito prestigiado na mídia. Mas freqüenta com tenacidade os salões de baile no mundo inteiro. Por isso, este estojo é um muito bem-vindo oásis para o enorme público que curte o gênero e até aqui contentava-se com gravações já um tanto envelhecidas. Não é à toa que, quarta-feira passada, Jô Soares recebeu em seu programa ninguém menos do que outro especialista, Manolo Otero, que está lançando um CD em que interpreta, adivinhem, boleros do tipo La Barca, Sabrá Diós, Sabor a Mí e Aquellos Ojos Verdes. Ora, se gente como Otero e Gatica são objeto de lançamentos, isto quer dizer que bolero continua vendendo bem, sim. E esbanja vitalidade.




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