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Mulher bebe cada vez mais cedo
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
22/11/2003 | 18:39
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As mulheres estão bebendo mais e mais cedo. No Centro Bezerra de Menezes, em São Bernardo, para cada garoto de 14 anos que inicia tratamento, há duas garotas da mesma idade consumidoras de bebidas alcoólicas e outras drogas que chegam em busca de apoio. Das 70 internações mensais feitas pela casa, 80% são de adolescentes. Nos grupos de acompanhamento laboratorial, a cada 35 alcoólatras, cinco têm menos de 18 anos. Não existe estatística recente no Brasil, mas os especialistas são enfáticos em dizer que a adesão ao álcool entre a garotada é cada vez mais precoce e que cresceu o consumo entre o público feminino, em todas as classes sociais.

No programa de atendimento à mulher dependente de álcool e droga do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, o acompanhamento ambulatorial constatou que elas se viciam mais rápido porque são mais suscetíveis. Além disso, o grupo feminino demora mais para assumir que bebe e, portanto, quando as mulheres chegam aos locais de tratamento – como o Centro de Atenção Psicossocial de Dependência Química de Santo André e o Espaço Fernando Ramos da Silva, em Diadema – a doença já está em fase avançada.

“Bebo desde os 14 anos”, admite a universitária de Santo André Mariana Boretti. A primeira vez que a estudante de Letras experimentou cerveja estava acompanhada dos pais. Três anos depois, Mariana, hoje com 24 anos, já saía de casa com o objetivo de sentar em um bar. O primeiro porre aconteceu aos 19 anos. “Tomei conhaque com cacau e parei no hospital para tomar glicose na veia.” No ano passado, a estudante voltou a exagerar, desta vez com vodka. “Agora estou mais atenta. Quando deixo de assimilar o que as pessoas estão falando, paro.”

Assim como Mariana, Amanda Maciel e Juliana Martins, ambas de 19 anos, também começaram cedo. Enquanto Amanda toma um ou dois copos de cerveja, Juliana bebe quatro garrafas da bebida e mescla com Dreyer e cacau. “Só não bebo às terças e quartas-feiras”, disse Juliana.

Para o coordenador do curso de medicina da Faculdade de Medicina do ABC, Arthur Guerra de Andrade, são vários os fatores que estimulam o jovem a beber. As influências vão desde as campanhas publicitárias até a pressão do grupo de amigos e o espelho dos pais e familiares. “Os adolescentes acabam enquadradados como consumidores pesados. Criam o hábito de beber mais de 20 dias por mês. É barato, fácil de comprar e a propaganda faz com que o consumo pareça obrigatório”, disse Ilana Pinsky da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Adolescentes – Em São Paulo e no Grande ABC, o jovem é apresentado ao mercado das bebidas em média aos 14 ou 15 anos, segundo o diretor clínico e médico psiquiatra do Bezerra de Menezes, Irineu Godinho.

A preferência é pela cerveja, mas outros tipos de bebidas não são desprezados. “O perfil do consumidor de bebidas alcoólicas mudou. Há dez anos, o alcoólatra era o homem entre 35 e 45 anos, casado, pai de família e trabalhador. Hoje não há mais divisões”, avaliou Godinho.




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