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Jardim Utinga clama por mais segurança
Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
17/10/2011 | 07:53
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Marina Brandão/DGABC

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Localizado próximo à divisa de Santo André com São Paulo, o Jardim Utinga sofre com a falta de segurança. Pelo menos essa é a principal reclamação dos moradores do bairro. Apesar de ter característica residencial, o local concentra 107 estabelecimentos comerciais e três indústrias.

São 5.381 habitantes espalhados pela área, que abriga poucas opções de lazer. "Costumo dizer que este aqui é um pedacinho esquecido de Santo André", comenta a cabeleireira Marisa Lucia de Andrade, 44 anos. Apesar de nascida e criada no bairro, ela optou por mudar para São Bernardo há 17 anos, mas mantém salão de beleza na Avenida Martim Francisco, próximo da casa de sua mãe, uma das primeiras moradoras do local.

"Hoje, ela (a mãe) já está muito doente, por isso não saberia dizer, mas quando meus pais se mudaram para cá, há quase 50 anos, meu pai até caçava aqui no morro".

Para a cabeleireira, não fosse a insegurança, o local seria perfeito. "Aqui todo mundo se conhece, mas, infelizmente, a gente fica sempre com receio ao sair", comenta. As clientes do salão de beleza completam a informação, dizendo que os assaltos ocorrem em qualquer horário. "A gente não vê um carro de polícia sequer passando", diz Marisa.

A especulação imobiliária ainda não chegou ao local, e muitos desejam deixar o bairro, já que, ao circular pelo espaço, é possível observar residências disponíveis para venda. Além disso, a maior parte das casas é ocupada por moradores antigos.

"Quando mudei para cá só tinha mato e uma trilha que utilizávamos para chegar no Camilópolis, onde tinha mercado, banco etc", lembra a dona de casa Marlene Gonçalves, moradora da rua Alexandre Herculano há 45 anos.

Há apenas uma escola estadual no Jardim Utinga. As crianças em idade de pré-escola e ensino básico utilizam os serviços oferecidos pela Emeief João de Barros Pinto, na Vila Metalúrgica. O mesmo ocorre com aqueles que precisam de serviços de Saúde, que se deslocam até a Unidade Básica de Saúde vizinha. As atividades de lazer e cultura também são nos bairros próximos: brinquedotecas podem ser encontradas na Vila Metalúrgica e Vila Sá, o Cesa fica na Vila Sá e o Ginásio Noêmia Assumpção e o Parque Antonio Pezzolo (Chácara Pignatari), no Camilópolis.

 

Primeiro mercado do bairro já chegou aos 40 anos

 

Um dos moradores mais antigos do Jardim Utinga, Sérgio Bastista, 60 anos, é o proprietário do primeiro mercado do bairro, localizado na Rua Inglês de Souza, há 40 anos. "Cheguei aqui em 1972, com meus pais. Casei e continuei minha vida no mesmo local, porque já conhecia o lugar e tinha feito amigos", conta.

Apesar da insegurança, já que foi assaltado por mais de 30 vezes, o comerciante não vai abandonar o negócio. "Até dá vontade de desistir, mas aprendemos a lidar com esses momentos. Hoje não ficamos mais abalados", diz. Para Bastista, o que mantém o mercado e, consequentemente, o bairro é a comunidade de amigos que se formou. "Não temos clientes, mas pessoas em quem confiamos e queremos bem", considera.

O bairro conta ainda com o Grêmio Esportivo Jardim Utinga, onde a disputa dos campeonatos de futebol amador é o forte. "A gente está tentando reestruturar o Grêmio, mas temos pouco investimento e não temos como ampliar nossas atividades", comenta o tesoureiro do clube, Paulo Delfino Moreira. O espaço oferece aulas de futebol para cerca de 300 crianças, por meio do projeto Bom de Bola, e realiza alguns eventos beneficentes, com distribuição de doações às crianças.

 

Loteamento está perto dos 60 anos

 

O Jardim Utinga está completando 60 anos. Sua certidão de nascimento é o processo da Prefeitura de Santo André nº 10.292, de 1951. Foi aberto por Juan Esper e Arnaldo Pereira, sob a administração da Organização Pereira Imobiliária Administradora, com sede na Praça da Sé, na Capital. No total, 329 mil metros quadrados. A ocupação deu-se por trabalhadores migrantes. Eles vieram do Interior ou de outras cidades da Grande São Paulo. Neste último caso, o objetivo era o de deixar de pagar aluguel e morar mais perto do parque industrial do Grande ABC.

Na primeira década - anos 1950 -, o Jardim Utinga manteve estreitos laços de dependência com o bairro Camilópolis. Suas crianças estudavam no bairro vizinho e mais antigo. A população frequentava a igreja do bairro e ali fazia compras, recorrendo ao insipiente comércio vizinho.

Luz elétrica domiciliar e das ruas não havia, nem qualquer outro benefício. A luz elétrica nas casas chegou apenas no fim dos anos 1950.

Os anos 1960 ampliaram a organização social do Jardim Utinga. Houve a construção da capela de Santa Isabel, criação da sociedade amigos e conquistas como a pavimentação e iluminação das ruas e escola.

Entre os antigos moradores do Jardim Utinga estava João de Avero, hoje nome da praça ao lado da capela de Santa Isabel. Avero viveu 36 anos no bairro. Faleceu em 1991, quando participava do mutirão que levou à construção da praça que tem o seu nome. Coube a companheiros da comunidade católica propor a denominação à Prefeitura. A Praça João Avero foi inaugurada em 14 de junho de 1992, com a presença do prefeito Celso Daniel.

 

DEPOIMENTOS

"Fomos construindo nossa casa devagar. A gente abria o poço de domingo. Durante a semana pegava a água. Aquele pouquinho ia amontoando. No outro domingo ia comprando mais um pouco de tijolo e ia fazendo. Banheiro não havia. A gente fazia as necessidades se escondendo no mato".

Cf. depoimento de Luzia Pereira Batista, que entrevistamos em 1991. Sua família comprou terreno no Jardim Utinga em 1951.

"Aqui no Jardim Utinga era tudo barro. Um micro-ônibus, dirigido por um motorista chamado Zé, servia a região." (Ademir Medici)

Cf. Erivaldo Gabioli. Ele mudou para o bairro em 1956 e nos concedeu uma entrevista em 1984.




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