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Até que ponto OAB tem credibilidade?

Por que a denúncia do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, unidade de Santo André, contra a Administração do prefeito, não ganhou destaque na primeira página, com potencial de manchetíssima da edição da última sexta-feira?

Daniel Lima
30/08/2015 | 07:07
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Há uma questão em suspense que tem tudo a ver com a Carta do Grande ABC publicada por este Diário na primeira página de 11 de maio com cláusulas pétreas de nova fase editorial. Trata-se do seguinte: por que a denúncia do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, unidade de Santo André, contra a Administração do prefeito Carlos Grana, não ganhou destaque na primeira página, com potencial de manchetíssima (manchete principal) da edição da última sexta-feira? Antes, recomendo que a resposta seja condicionada a duas vertentes.

Primeira: se o presidente da OAB-Santo André, Fábio Picarelli, conta com credibilidade, respeito e independência, a denúncia encaminhada ao Ministério Público deveria disputar não só o topo da primeira página como também, na página interna, a reportagem deveria estar acima de todas as demais, não abaixo.

Segunda: se o presidente da OAB-Santo André, Fábio Picarelli, não é um dirigente com credibilidade, respeito e independência, a denúncia encaminhada ao MP nem deveria ter sido publicada; ou poderia ser reservado microespaço, de simples registro.

Imaginem em Brasília
Para que os leitores entendam que não estou a ver fantasmas, faço a seguinte analogia: qual seria o comportamento dos jornalões brasileiros, Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo, se o presidente nacional da OAB anunciasse que recorreu ao MP para denunciar a presidente Dilma Rousseff em caso de corrupção administrativa? É claro que seria um Deus-nos-acuda.

É verdade que Dilma Rousseff caminha sobre corda bamba ante o bombástico escândalo da Petrobras, com envolvimento direto de seu partido, o PT, e algumas das agremiações da base do governo. No caso do prefeito Carlos Grana, temos situação diversa, mas nem por isso excludente de ação jornalística impositiva no sentido de reafirmar pressupostos da ‘Carta do Grande ABC’. Até prova em contrário, tudo que diz respeito à região tem este jornal como protagonista na intermediação de informação aos leitores.

Este Diário teria errado ao minimizar a denúncia, reservando apenas uma chamadinha de primeira página e ao enfiar a reportagem lá embaixo em página interna, discretissimamente, ou acertou em cheio porque, no fundo, no fundo, desconfia das intenções do presidente da OAB?

Teria Fábio Picarelli – cuja entidade se omitiu em muitos dos escândalos dos últimos anos em Santo André – decidido partir para uma disputa abertamente político-partidária ou, arrependido da omissão de vários anos, desfraldou a bandeira da moralidade pública?

Seja qual for a situação, houvesse este Diário iniciado com a intensidade desejada uma nova etapa editorial, na qual as fontes de informações não teriam o controle da pauta para se locupletarem, tudo seria diferente. A corrupção sugerida na Administração petista – essa é a lógica da denúncia que pretende atingir diretamente o então secretário de Mobilidade Urbana, Paulinho Serra, renunciante ao cargo para disputar a sucessão de Carlos Grana – é assunto para grande destaque sim. Um destaque que contemplaria para o bem ou para o mal o denunciante e também a compreensão da operação editorial pelos leitores.

Como encaminho esta coluna toda sexta-feira à noite para publicação aos domingos, é possível que tanto no sábado quanto hoje haja desdobramentos do caso. Tomara, mas não é possível reparar a edição de sexta-feira: a manifestação da OAB junto ao Ministério Público é assunto de elevadíssimo interesse público nestes tempos de Petrolão e, mais que isso, de tentativa de a OAB, em várias circunscrições, botar o dedo em feridas que há muito tempo pareciam não existir porque, em larga escala, a instituição optou pela política partidária replicada em Santo André.

Reage espera por cobertura

Outra questão que este Diário deve resolver é o futuro editorial do Reage ABC, movimento que foi às ruas de Santo André e, depois de colhido de surpresa pela reação do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Regional, reorganiza-se para influenciar o destino da economia local. Por mais que aquela manifestação tenha revelado vícios político-partidários, prevalece a inquietação sobretudo dos pequenos e médios empresários do setor industrial, parte importante de uma economia em frangalhos. Deixar ao sabor dos ventos o acompanhamento da iniciativa enfraquece aqueles agentes econômicos. Este Diário não pode se esquecer de que um dos 10 pontos da ‘Carta do Grande ABC’ é a chamada desindustrialização. Os manifestantes do Reage ABC, apesar de todos os pecados que cometeram na organização do evento e pós-evento, representam classe duramente impactada pela queda do PIB Industrial da região ao longo dos anos.

Para completar, este Diário foi coerente no tratamento à cassação temporária do direito do ex-prefeito José Auricchio concorrer à Prefeitura de São Caetano em 2016. Embora tenha deixado de dar o esperado destaque à decisão do Legislativo na edição de terça-feira, enquanto os demais veículos da região alçaram a informação à manchetíssima, no dia seguinte, revogada pelo Judiciário, a decisão contou com idêntico tratamento editorial. Bem diferente das demais publicações, que esconderam a notícia dos leitores.
 




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