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Poços: 44,7% têm água imprópria para o consumo
Luciana Schneider
Da Redaçao
27/06/1999 | 18:32
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Beber água de bica, poço artesiano ou mina é uma tradiçao para muitas famílias do Grande ABC, especialmente para aquelas que nao sao atendidas pela rede de abastecimento de suas cidades. No entanto, o que boa parte delas nao sabe é que muitas dessas fontes nao possuem água potável, podendo causar em seus consumidores males que vao desde uma simples diarréia até a morte. Só para se ter uma idéia, 68 (44,7%) das 152 bicas, poços artesianos, minas e fontes cadastradas pelos departamentos de Vigilância Sanitária dos municípios da regiao nao estao adequadas para o consumo.

O tamanho do perigo pode ser ainda maior, já que nao existe cadastro de todas as nascentes d'água. Ribeirao Pires, por exemplo, nao possui esse levantamento. Segundo o gerente de Meio Ambiente do município, Marcos Pellegrini Bandini, é difícil obter e reunir esse tipo de dado numa cidade que está 100% inserida em área de manancial .

O número aumenta também quando as bicas consideradas potáveis sofrem influências externas - uma forte chuva ou defecaçao de algum animal, por exemplo. Como a análise na maioria das cidades é feita a cada três meses, corre-se o risco de, nesse intervalo, um ou mais fatores alterarem o resultado do laudo. Por isso, todos os responsáveis pelos departamentos de Vigilância Sanitária das cidades nao aconselham o consumo de água de bicas sem antes fervê-la.

De acordo com Dora Maria Zanovello Bergantini, gerente da Vigilância Epidemiológica Sanitária de Santo André, a água é considerada potável quando o número de bactérias está abaixo de um limite determinado pelo Instituto Adolfo Lutz.

"Se esse número estiver muito acima do limite, há risco de as pessoas contraírem diarréia ou hepatite A. Se a criança estiver deficiente de anticorpos, por exemplo, e a diarréia for muito forte, ela pode até morrer. As conseqüências dependem muito da defesa do organismo de cada pessoa", explicou Dora.

A boa aparência, segundo ela, também nao deve ser interpretada como garantia de potabilidade. "O fato de a água ser transparente ou parecer limpa nao significa que ela nao contenha bactérias. Elas sao invisíveis a olho nu", afirmou Dora.

O aposentado José Bento de Melo, 68 anos, mora em Rio Grande da Serra há 30 anos e há um deixou de trabalhar. Desde entao, vai dia sim, dia nao à Biquinha do Matarazzo - cuja água é considerada potável pela Prefeitura - e enche quatro garrafas de 2 litros cada. Para o percurso de meia hora, segundo ele, nao lhe falta tempo nem disposiçao. "Indo à bica, eu saio na rua e me distraio. Na verdade, esse é o meu único lazer."

A também aposentada Leonor Montanini, 63 anos, mora próximo à tradicional Bica da Padoveze, em Santo André, onde se formam grandes filas principalmente nos fins de semana.

Leonor explica que a bica está sendo uma alternativa bastante eficiente há pelo menos um ano, porque a instalaçao hidráulica de seu prédio está enferrujada e a "água está saindo muito amarela". "Enquanto os canos nao sao trocados, venho aqui quase todos os dias pegar 7 litros de água."




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