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Escritor contesta relação entre games e violência
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
07/03/2004 | 23:27
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Videogames, histórias em quadrinhos e desenhos como Gundam e Pokémon, que privilegiam a violência, são nocivos às crianças, certo? Errado, diz o dublê de jornalista, roteirista de quadrinhos e desenhos animados norte-americano Gerard Jones no surpreendente livro 'Brincando de Matar Monstros' (Conrad Livros, R$ 35, 298 págs.).

Antes que digam que Jones está só defendendo seu ganha-pão – ele já trabalhou com personagens como Batman, Homem-Aranha e Pokémon –, esclareça-se que ele próprio investiu vários anos pesquisando os efeitos de videogames violentos e conversando com adolescentes que os jogam, para concluir que “os games são, de todas as formas de violência no entretenimento, a menos poderosa e menos perigosa”.

A psicologia já fala há bom tempo da importância, para o desenvolvimento da criança, de poder brincar com a própria agressividade. Brincando, a criança pode aprender que sua agressividade não afeta a realidade, que desejar a morte de alguém não significa que esse alguém morrerá. Nos jogos, afinal, é possível matar e morrer e – claro – ressuscitar quando bem entendem os participantes.

Escrito em 2002, sob o impacto do fatídico 11 de setembro de 2001, Brincando de Matar Monstros, que leva o subtítulo Por Que as Crianças Precisam de Fantasia, Videogames e Violência de Faz-de-conta, vai muito além da panfletagem.

É um estudo sério, que deveria ser lido por pais que proíbem seus filhos de curtir os desenhos mais violentos do Cartoon Network e insistem em fazê-los assistir exclusivamente aos politicamente corretos Barney e Jay Jay Jatinho no Discovery Kids. “Adultos em geral reagem a imagens violentas de modo bem distinto – e, no abismo existente entre as reações juvenis e adultas é que nascem nossos maiores mal-entendidos e nossas brigas mais prejudiciais”, escreve Jones.

Nos meses seguintes aos ataques de 11 de setembro de 2001, pesquisas indicaram que as lojas de brinquedos registraram aumento nas vendas de brinquedos do universo militar. “Alguns desses negociantes”, segundo Jones, “tiraram tais brinquedos das prateleiras, em resposta aos pedidos de pais (...). Muitos de nós ficamos preocupados sobre como ajudar as crianças a lidar com o horror do 11 de setembro, mas, quando fui às salas de aula, descobri que as crianças tinham sido muito menos afetadas do que seus pais ou professores. A maior parte delas falava das imagens terríveis que haviam visto com uma mistura de raiva e euforia – e muitas delas queriam fazer desenhos, contar histórias ou fazer jogos com aviões destruindo prédios ou soldados derrotando terroristas”.

Ora, isso não significa incapacidade das crianças para lidar com isso, mas que, quando algo as incomoda, sentem necessidade de brincar com o fato até que pareça mais seguro. “Explorar o que é impossível, perigoso demais ou proibido, para elas, em um contexto controlado e seguro, é uma ferramenta importante para que aceitem os limites da realidade. Brincar com o ódio é uma maneira valiosa de reduzir seu poder. Ser mau e destrutivo na imaginação é uma compensação vital para a loucura a que todos nós precisamos nos submeter se quisermos ser uma pessoa boa”.




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