Foliões desmotivados pela falta de competição entre as escolas deram o tom do desfile de Carnaval em Diadema, na noite de sexta-feira e madrugada de sábado. A desorganização e as fantasias pobres também marcaram o evento. Programada para ter início às 21h, a apresentação só começou às 23h.

Devido a falta de verba (as 11 escolas receberam R$ 150 mil da Prefeitura para dividir entre si), foi decidido que não seria colocado em jogo o título de campeã. Cada agremiação recebeu um troféu por participação.

"O fato de não ter disputa desestimula as pessoas. O gostoso é competir. Muitas escolas perderam integrantes por causa disso", afirmou o presidente da Liesda (Liga Independente das Escolas de Samba de Diadema), Carlos Lima.

Um dos reflexos foi o esvaziamento do desfile. Apenas a Estopim da Fiel contou com mais de 200 componentes. As outras agremiações levaram para a avenida pouco mais de 100 pessoas. "Já tivemos carnavais com 800 integrantes. A falta de verba e de competição desmotiva muito", avaliou João Farinha, 53, carnavalesco da Unidos da Vila. Várias escolas tiveram alas com apenas quatro ou cinco pessoas.

"Todas escolas e os integrantes querem disputar e serem campeões. Se estivéssemos competindo pelo título, seria outra história", comenta Claudio Gonçalves da Silva, mestre-sala da Vila Nogueira. Sua companheira de avenida, a porta-bandeira Luana Monteiro dos Santos, também criticou a decisão de não haver disputa de título. "Desanima não brigar pelo título de melhor de Diadema."

Segundo a Polícia Militar, cerca de 20 mil pessoas passaram pelo sambódromo montado na Avenida Doutor Ulysses Guimarães. Mas o que se via era um público desinteressado, que muitas vezes sequer estava vendo o desfile, preferindo comer, paquerar ou simplesmente bater papo.

O sistema de som contribuía para o desinteresse. A má qualidade provocou vários ruídos e microfonia durante os desfiles. Era difícil ouvir o samba-enredo. A bateria soava embolada nos auto-falantes e só era possível perceber a ótima qualidade de algumas agremiações nesse quesito quando passavam em frente dos camarotes. Foi o que aconteceu com a Raposa do Campanário, Eldorado Estação do Samba, Unidos de Vila Nogueira e Unidos da Serraria, que mostraram ótimos arranjos e coreografias.

‘Poderia ter até um sambódromo regional'

O projeto do Carnaval regional, com todas as escolas do Grande ABC, empolga a secretária de Cultura de Diadema, Maria Regina Ponce. "Poderíamos até pensar em um sambódromo único."

DIÁRIO -Você acredita na criação de um Carnaval regional?
MARIA - Acho positiva a ideia de se criar um Carnaval único para a região. Mas é preciso ter um projeto sólido. Tudo aumenta: a verba, a estrutura e a vontade de competir. Quem sabe o campeão possa ser levado para São Paulo? Seria interessante. Poderíamos até pensar em um sambódromo único na região. É uma proposta que me deixa muito entusiasmada e acho que a Prefeitura apoiaria.

DIÁRIO - Esse projeto seria viável já para o próximo ano?
MARIA - Se começássemos a trabalhar nisso logo na quinta-feira, após as comemorações, acredito que já seria possível termos um Carnaval como esse.