Há exatos 100 anos nasceu Vicente do Rego Monteiro, um dos maiores expoentes do movimento modernista brasileiro. Apesar disso, o pintor pernambucano, morto em 5 de junho de 1970, ainda é pouco conhecido em seu próprio país. Pior para nós, pois sua produçao, formada sobretudo por pinturas, desenhos, aquarelas, gravuras, ilustraçoes, monotipias, caligramas e, inclusive, poemas, é justamente admirada e respeitada no exterior, principalmente na Europa. O motivo é o fato de ele ter vivido por um longo período na França, onde foi acolhido com destaque no movimento moderno denominado Escola de Paris, também notório por ter abrigado Léger, Braque e Picasso.

Apesar da data, Rego Monteiro nao receberá nenhuma homenagem especial. Mas isso nao é descuido dos profissionais responsáveis pelo agendamento e realizaçao de exposiçoes. O motivo é que a celebraçao, bastante significativa e oportuna, ocorreu em julho de 1997, quando cerca de 200 obras de Rego Monteiro foram exibidas com destaque no MAM (Museu de Arte Moderna) de Sao Paulo. Naquele ano, aliás, a Semana de Arte Moderna de 1922, movimento cultural no qual Rego Monteiro teve importante participaçao, completou seu 75º aniversário. Além disso, no mesmo ano, vida e obra do artista também foram ricamente documentadas em livro assinado pelo crítico Walter Zanini (Vicente do Rego Monteiro - Artista e Poeta: 1899-1970, Empresa das Artes/Marigo).

Bastante elogiada por público e crítica, a exposiçao teve caráter retrospectivo, pois apresentou obras nao apenas da conhecida fase da Escola de Paris, mas também muitos e representativos trabalhos de seu modernismo posterior, das décadas 50, 60 e 70, períodos ainda pouco conhecidos dos brasileiros. Outro aspecto positivo em relaçao à mostra do MAM e ao lançamento do livro de Zanini foi o verdadeiro agito que essas situaçoes provocaram no mercado de arte quando o que está em jogo é a assinatura Rego Monteiro. Até entao, sua produçao, até mesmo a pictórica, que é a mais conhecida, era a menos valorizada entre todos os artistas que estiveram vinculados ao movimento modernista brasileiro.

Do ponto de vista estético, a obra de Rego Monteiro é muito peculiar. A característica de maior evidência é, sem dúvida, o emprego de cores neutras em figuras estilizadas de modo inconfundível. É bastante interessante notar, por exemplo, que após a familiarizaçao com seu estilo, muita coisa feita posteriormente se revela como imitaçao. No Brasil, Rego Monteiro foi descoberto por Ronald de Carvalho, que logo tratou de recomendar o jovem artista aos colegas modernos que provocaram a revoluçao estética de 1922. Entre outros, Monteiro Lobato, Gilberto Freyre, Joao Cabral de Melo Neto, Carlos Ranulpho e Walmir Ayala foram alguns dos personagens que imediatamente se mostraram assombrados, conforme declarou-se Lobato à época, com a arte de Rego Monteiro.