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Médico afirma que é
preciso nova pesquisa
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
29/06/2011 | 07:47
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O endocrinologista Geraldo Medeiros Neto rebateu ontem o estudo da médica Maria Ângela Zaccarelli, no qual ela aponta que moradores do entorno do Polo Petroquímico de Capuava sofrem cinco vezes mais de problemas na glândula tireoide do que os de outra região pesquisada, em São Bernardo. Segundo o estudo da especialista, publicado pelo Diário semana passada, eles podem estar sendo contaminados por poluentes oriundos do complexo industrial.

Medeiros Neto, que já foi consultor do Polo, é autor de estudo que relaciona o alto número de moradores com tireoidite de Hashimoto ao consumo excessivo de iodo, publicado em 2005. O profissional de Saúde afirmou ao Diário que existe a necessidade de outras pesquisas para saber se agentes externos estão relacionados ao aumento da enfermidade na região dos bairros do Capuava, em Santo André, Sônia Maria e Silvia Maria, em Mauá, e São Rafael, em São Paulo.

A afirmação foi feita em seu consultório, no bairro do Itaim Bibi, na Capital, após o jornal publicar série de matérias sobre o alto número de pessoas que desenvolveram o mal de Hashimoto e diversas doenças respiratórias na vizinhança do Polo. Em alguns momentos o médico se mostrou nervoso, mas incisivamente desconsiderou o trabalho da endocrinologista e professora da Faculdade de Medicina do ABC Maria Ângela Zaccarelli Marino. "As conclusões da professora são muito fortes", disse.

Ela fez sua pesquisa entre 1989 e 2002, com 491 pacientes, e constatou que os moradores do entorno do Polo sofriam cinco vezes mais de problemas na glândula da tireoide do que outra região em São Bernardo. Em 2009, a médica publicou o trabalho ‘A iodúria de pacientes portadores de tireopatias autoimunes em São André, SP, é comparável à dos indivíduos normais e estável nos últimos dez anos', em uma revista especializada que derrubaria a tese do médico Medeiros, publicada em 2005, com 829 pessoas divididas entre os bairros de Capuava, em Santo André, e Paulicéia, em São Bernardo. "Os números de pacientes são pequenos no estudo da Zaccarelli", disse o médico. As duas pesquisas, porém, foram financiadas e aprovadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

"Os meus resultados apontaram para uma causa hereditária. Acredito que o aumento do iodo funcionou como um gatilho para desenvolver o mal de Hashimoto", frisou. Informado sobre o estudo do Centro de Vigilância Epidemiológica, de 2008, que pede a realização de novas pesquisas para identificar se os poluentes das empresas petroquímicas podem ser responsáveis pela contaminação, afirmou: "Definitivamente, não". Voltou atrás na sequência e disse: "Não descarto, é que nunca procurei por isso".

O endocrinologista, que é diretor-presidente do Instituto da Tireoide e professor sênior da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, confirmou que prestou consultoria para as empresas do Polo Petroquímico. "Prestei consultoria. Eles me ligaram e conversamos, como estou fazendo agora." A entrevista foi acompanhada por dois integrantes da Associação das Indústrias do Polo Petroquímico. A equipe questionou se o médico recebeu alguma quantia. "Nunca recebi um centavo. Estava muito interessado", disse.

O Ministério Público Estadual pediu ao Laboratório de Poluição Atmosférica da USP os novos exames solicitados pelo CVE. O coordenador do laboratório, Paulo Saldiva, informou ao Diário que os primeiros resultados devem sair em setembro.

 

Empresas se dizem dispostas a colaborar com estudos

A Associação das Indústrias do Polo Petroquímico informou que está disposta a colaborar com novas pesquisas para identificar se os poluentes das indústrias têm alguma ligação com o aumento dos casos de mal de Hashimoto nos moradores do entorno.

"A Apolo está e sempre esteve aberta a colaborar ou promover estudos e pesquisas científicas para esclarecimento definitivo desse tema. No entanto, para que haja o apoio faz-se necessário o estabelecimento em conjunto das metodologias", disse Luís Almudi, diretor executivo da entidade.

Sobre as medidas para controle da emissão de poluentes que foram tomadas nos últimos anos, a Apolo informou que trabalha "dentro dos mais altos padrões internacionais de segurança e preservação ambiental". O diretor executivo comentou que as empresas investiram mais de R$ 200 milhões em equipamentos e treinamentos para manter seguro o ambiente industrial, tanto para funcionários quanto para as comunidades do entorno.

O Programa de Sustentabilidade Socioambiental é uma das atividades de responsabilidade social voltadas aos moradores vizinhos das indústrias.

A respeito das queixas dos moradores sobre a fuligem que invade as residências diariamente, Almudi disse que "vale destacar que a região do entorno do Polo é muito densa em veículos pesados (movidos a diesel) e leves, que contribuem de forma relevante com a poluição da região, em especial com a fuligem". Outro questionamento dos vizinhos é referente às explosões que são ouvidas no entorno: "As empresas possuem sistema de segurança em seu processo produtivo que, eventualmente, podem ser acionados gerando ruídos que podem ser confundidos com explosão", completou o executivo.

Para o representante da Apolo, o estudo do Centro de Vigilância Epidemiológico não é conclusivo em relação à vinculação da doença ao Polo Petroquímico, mencionando somente a prevalência da tireoidite de Hashimoto na região. sendo que não foi considerado o fator genético nesta avaliação. Almudi conclui que o estudo do CVE não é contrário ao elaborado pelo endocrinologista Geraldo Medeiros Neto.




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