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Pais se rendem à tecnologia
Caroline Garcia
Marília Montich
Do Diário Online
09/08/2015 | 08:00
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Arquivo Pessoal


Tablets, smartphones, computadores de última geração, televisões digitais e até paineis de carros. Não adianta fugir. Para onde quer que se olhe, lá está ela: a tecnologia. Hoje mais democrática, ela deixou de ser exclusividade dos jovens para fazer parte da vida dos pais dessa geração hiperconectada.

O empresário de São Bernardo Humberto Dotto, 54 anos, é um verdadeiro aficionado pelo tema. Interessado em ciências e desenvolvimentos tecnológicos desde criança, ele hoje não abre mão de celular, notebook, tablet, PS3, aplicativos, nuvem para armazenamento de arquivos, wi-fi, conectividade no carro, mídias sociais e TV de plasma. A paixão pode ser considerada quase um vício. “Já tive que me 'desconectar''' . No início, com tranquilidade, porque estava de férias, porém após alguns dias, a ansiedade falou mais alto e acabei lendo e-mails e usando o celular”, conta.

Pai do estudante de Engenharia Bruno, 27, ele conta que o filho puxou a ele o gosto por inovações e que a tecnologia contribuiu, inclusive, para que os dois estreitassem os laços. “Serviu para que eu me reaproximasse dele na transição para a adolescência, criando um ponto comum em uma linguagem que ele entendia.”

A tecnologia também ajudou o empresário Luiz Carlos Soares, 59, e a filha Michelly, 27, a ficarem mais perto um do outro. No início do ano, a engenheira se mudou de São Bernardo para a Alemanha para estudar. Foram três meses de saudade, mas que se tornaram suportáveis com uma “mãozinha” da internet. “Nesse período, usamos o Whatsapp e o Facetime. Sem essas ferramentas, teria sido bem mais difícil, já que teríamos de usar o telefone e as tarifas seriam custosas. Ao invés de conversarmos duas vezes por dia, seriam duas vezes por semana no máximo”, brinca.

A conectividade não está presente apenas na relação entre pais e filhos já adultos. Progenitores de crianças, no geral, estão ainda mais conectados, uma vez que tendem a ser mais jovens e necessitam estar cada vez mais antenados para acompanhar essa geração que já nasceu praticamente digitando.

É o caso do consultor em planejamento financeiro de São Caetano Marcos Romano, 30. Pai de Gabriella, 3, ele se comunica diariamente com a filha pelo Whatsapp. “Ela ainda não sabe ler, sendo assim, nos comunicamos por mensagem e por algumas figurinhas que representam algo para ela, como brincadeiras, banho, dormir e etc. Claro que no celular da mamãe, pelo menos por enquanto”, diz.

Mesmo na relação ao vivo, a tecnologia continua presente entre Marcos e Gabriella. “Já em casa, como pai eu utilizo alguns aplicativos para interagir com ela. Usamos jogos para lembrar da importância das comidas variadas e da diversão na hora certa, por exemplo.”

O analista de sistemas de Santo André Fábio da Silva Polo, 36 anos, pai de Rafael, 3, também tem como aliados o Facetime e o Whatsapp para matar a saudade do pequeno. Quando o filho está no colégio, no entanto, uma outra ferramenta entra em cena. Trata-se do software Filhos sem fila, que funciona em todas as plataformas para celular e é integrado com o GPS. “Se eu mando 'estou chegando' pelo aplicativo, aparece no painel da escola 'o pai do Rafael está a cinco minutos de distância'. Então eles (professores) já deixam ele pronto para ir embora, eu chego lá e já coloco ele no carro. Além de aliviar o trânsito na porta da escola, não faz as crianças esperarem caso os pais demorem. Até eu, que trabalho com informática há 20 anos, me surpreendi com essa novidade.”

Tudo em excesso faz mal
Comer demais faz mal. Beber demais faz mal. Até dormir em excesso faz mal à saúde. Por que, então, o uso exagerado de tecnologia seria diferente? Para especialistas, a ferramenta em si, no entanto, não é boa nem ruim, mas seu uso pode se tornar produtivo ou prejudicial e gera uma mudança de comportamento na sociedade.

“Até por não existir uma 'educação para o uso das novas tecnologias', percebemos grande parte da população utilizando-as de maneira que causa muitos conflitos para as relações”, argumenta Rafael Dutra, psicólogo e educador, especialista em Psicologia Escolar e Educacional da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).

Segundo a professora Juliana Martinez Pieroni, professora de Pós-Graduação em Gestão Estratégica de Pessoas e Psicologia Organizacional da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), o vício em tecnologia não é exclusividade das crianças ou jovens. “Os pais passam a negligenciar a educação dos filhos 'por falta de tempo', pois o que sobra no dia a dia utilizam para estar com a tecnologia em detrimento de estar com os filhos”.

Por outro lado, do mesmo modo que as ferramentas de hoje conseguem afastar as pessoas, é possível também fazer o contrário. “As vantagens dos pais estarem mais conectados têm a ver com o fato de que isso permite que eles estejam mais por dentro do mundo de seus filhos, como acompanhar notícias da escola e de temas relacionados aos interesses deles. É possível mandar um Whatsapp na hora do intervalo da escola perguntando sobre como foi a prova, mandar alguns recados, ou até um vídeo engraçado para estreitar os laços, demonstrar que está pensando no filho, que está participando de sua vida, ainda que não presencialmente”, conta Dutra.

Pais modelos

É fácil encontrar vídeos de crianças que nem aprenderam a falar, mas já sabem como funciona um smarphone ou pequenos que se frustram ao passar o dedo na revista para mudar de página como se fosse um tablet. Parece que eles já nasceram com tal habilidade que o adulto demora tempos para adquirir.

“É muito importante que os pais estejam atentos aos exemplos de comportamentos transmitidos aos seus filhos, pois estão sendo observados e interpretados por eles, servindo como modelos de valores e referências a serem seguidos. É importante evitar as situações de 'faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço', afirmou Juliana.
Mas qual é o limite da tecnologia na relação familiar? “Falar em limites é sempre delicado, pois cada família tem uma dinâmica própria, mas é importantíssimo que eles existam e estejam sempre claros e bem definidos.”

Caso seja o pai que extrapole as barreiras, por exemplo, postar uma foto constrangedora em alguma rede social, o filho precisa se posicionar. “É importante que a família crie com seus filhos um espaço para o diálogo e aprimoramento constante das resoluções de conflitos. É importante que os filhos se posicionem, dizendo como se sentem diante de situações constrangedoras e sintam que têm um espaço familiar que permita que ele se sinta à vontade para esta exposição, mas cuidar também para que em suas próprias postagens não exponham seus próprios pais”, finaliza a professora da Metodista.




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