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CDHU prepara novas desocupações no Jardim Sto.André
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
07/01/2010 | 07:37
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O medo de perder a casa e ir morar em um alojamento causa pânico aos moradores das áreas de risco do Jardim Santo André, em Santo André.

Esse sentimento está mais perto para dezenas de famílias da região. Eles receberam aviso de desocupação da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) que deve ser realizada na primeira semana de fevereiro.

A convocação pedia que os proprietários comparecessem entre ontem e hoje no escritório do órgão na cidade para acertar a saída e para recebimento da indenização de R$ 4.500. O aviso ainda informa que a desocupação será feita com força policial.

"Está parecendo que sou bandido. Nunca fiz nada de errado na vida e agora sou tratado como um marginal", questiona o pedreiro Manoel Sousa dos Santos, 49 anos, que mora há 20 no Jardim Santo André.

As residências que serão desapropriadas pela CDHU foram marcadas com uma pichação em azul e um número há cerca de um ano. Esse é o caso da desempregada Valeria Aparecida Granato, 43. Ela mora na Rua da Paz, há mais de dez anos, na companhia de quatro filhos e disse ao Diário que não tem para onde ir, caso a remoção seja realizada.

"Sei que moro em uma área de risco. Mas, para onde eu vou? Não tem como comprar uma casa com R$ 4.500. Essa proposta da CDHU não dá para aceitar. Preciso de um local para criar os meus filhos", reclama Valeria.

Segundo levantamento de líderes comunitários da área, existem 1.937 moradias marcadas pelo órgão estadual.

Grande parte são barracos de madeira e estão em péssimas condições. Essas residências ficam, na maioria das vezes, nas encostas e no alto dos morros.

No ano passado, em outubro, dezenas de famílias precisaram deixar os seus lares, devido uma série de desmonoramentos. Essas pessoas ficaram alojadas em creches, barracas de lona e obras inacabadas.

"Não vou sair. Primeiro que não vou dormir em alojamento, sem água potável e comida. Gostaria de saber como foi feita a escolha para tirar a gente daqui? A minha casa está em terreno invadido, mas a construção foi feita de alvenaria e não está perto de encosta, como outras da região", conta o motoboy Edson Duarte de Souza, 35, que mora há 20 anos na região.

O aposentado Raul Girau, 72, está desesperado com a notificação recebida. "Isso tudo é muito sofrimento, principalmente para alguém na minha idade", argumenta Girau.

A CDHU não respondeu sobre o número de famílias que terão as casas desapropriadas e se essas pessoas vão ser incluídas em algum programa habitacional.

Desabrigados reclamam de calor e falta de água filtrada

O drama e a falta de conforto continuam para as nove famílias desabrigadas do Jardim Santo André que estão alojadas desde o dia 21 no Complexo Esportivo Pedro Dell'Antonia, na Vila Pires, em Santo André.

Os sem-teto não aceitaram os R$ 4.500 oferecidos pela CDHU e decidiram ficar no local até as suas situações serem resolvidas.

A desempregada Francisca Lourrane de Souza, 17 anos, está grávida de sete meses e reclama da falta de água filtrada e do calor que faz no ginásio.

"Fico sempre com dor de barriga e à noite não consigo dormir, por causa do calor. Esse não é lugar para minha filha nascer", comenta.

"Queremos uma moradia, não vamos aceitar esse valor", diz Adriano da Silva, 33.

A Prefeitura de Santo André informou que não recebeu notificação da Justiça ou da CDHU, mas irá manter as famílias abrigadas no ginásio o tempo que for necessário.




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