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Paranapiacaba: o sonho da cidade no alto da serra
José Carlos Pegorim e
Márcia Pinna Raspanti
Do Diário do Grande ABC
29/09/2001 | 16:14
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Prestes a obter o status de cidade de fato – ou ser reconhecida pelo que é, um subdistrito, como prefere a líder comunitária Zilda Bergamini –, Paranapiacaba têm reivindicações tipicamente urbanas: segurança, transporte, saúde e moradia.

Os moradores aguardam o desenlace das negociações de venda entre a Rede Ferroviária Federal, dona da Vila, e a Prefeitura de Santo André, por R$ 2,2 milhões em prestações. Falta a data para assinar o contrato.

A maioria dos moradores está com aluguel atrasado ou inadimplente e, ao comprar as cerca de 360 casas da vila operária inglesa, a Prefeitura herda o problema.

Para Zilda, do seu bar ao pé da passarela que une parte alta (onde vivem os ex-ferroviários aposentados) e parte baixa (marcada por desemprego e invasões), o problema da cidade começa na sua vocação turística. “Hoje, se vierem 500 ou mil, a gente atende, mas não tem infra-estrutura. Falta banheiro, por exemplo.”

“Paranapiacaba não tem nada: não tem banco, não tem correio, e o principal tiraram, o trem. Como fazer dela ponto turístico?”, pergunta o dono da farmácia local, Gilberto Félix, 50 anos, há 25 na Vila. “E chove dentro do posto de saúde.” Sobre a venda, pergunta: “E se o próximo prefeito não quiser isso aqui?”

Palhaço profissional, Odair Cazarin, 45 anos, está há cinco com a família na Vila. Trabalha em Mairiporã, há quatro horas de distância de ônibus e trem, e tira uns R$ 500 por mês. Está há um ano inadimplente com o aluguel de R$ 128: “A gente não sabe o que a Prefeitura vai fazer.”

A desempregada Eliene Bispo de Souza, 32 anos, devedora, mora com o marido e três filhos pequenos, só um na escola infantil. Voltou à Vila há três anos. Nas reuniões de saúde, discute a “ameaça” de redução no funcionamento do posto de saúde. “Para perder (conquistas) é muito fácil.”

Com ela, freqüenta as reuniões a dona de casa Dalva Barbosa de Oliveira, 52 anos, que tem do básico à TV por assinatura e acredita que o posto de saúde é o maior problema. Mas, admite, “o atendimento é ótimo”.

A auxiliar de enfermagem Eunice Oliveira e Silva, 48 anos, trabalha no posto de saúde há 11 anos e mudou-se há três para a Vila. Este mês, começa a pagar taxa de “condomínio”. Ela aponta a segurança como o maior problema. Os policiais militares do posto circulam por todo Parque Andreense. Antes, ficavam apenas na Vila: “Você concorda comigo que não há segurança para nenhum dos dois lados?”

Natal feliz – Segundo a diretora do Departamento de Paranapiacaba da Subprefeitura, Cristina de Marco Santiago, as negociações entre Rede e Santo André “estão no fim”. A cidade não é dona, mas está quase lá. “Até o fim do ano”, garante.

Ela não fala de modelo de gestão. Sobre como vão ficar inadimplentes e invasores, considerou “uma situação muito delicada para ser comentada nesse momento”. Mas confirmou que a Prefeitura vai precisar de imóveis, sem adiantar quantos. “Está sendo feito um diagnóstico sobre os pontos fortes e fracos da Vila para que possa ser explorada turisticamente.” Os primeiros resultados serão mostrados nesta segunda-feira em uma reunião entre CPTM, Rede e moradores.




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