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'Por um Fio' se perde em um bom suspense
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
18/06/2003 | 19:00
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Por um Fio (Phone Booth, EUA, 2003), que estréia nesta quinta-feira nas salas da região e circuito, é o tipo de filme que desperdiça um argumento interessante em um desenvolvimento entediante. É passado quase todo dentro de uma cabine telefônica depois que uma ligação transforma a vida de um sujeito. Quem está por trás da produção – e da direção – é o todo-poderoso da indústria cinematográfica norte-americana Joel Schumacher, cujos trabalhos são conhecidos pelos orçamentos exorbitantes e, também, pelas bilheterias recordistas. Para citar apenas três deles: Armaggedon, Pearl Harbor (ambos como produtor) e Batman Eternamente (como diretor).

O maior erro de Por um Fio está mesmo na escalação de Schumacher para a cadeira principal. O filme teria se saído muito bem, por exemplo, nas mãos de um nome “menor”, ou até mesmo alternativo, que não fizesse da desgraça do personagem um espetáculo sensacionalista para TV, ou até mesmo uma forma de rendê-lo a uma confissão de pecados moralista e piegas. Por um Fio merecia ser mais contido, mais centrado, menos exibicionista. Isto é, menos Hollywood.

Schumacher tentou emplacar uma carreira de filmes de baixo orçamento como Tigerland – A Caminho da Guerra, que foi elogiado pela crítica e lançou o novo queridinho do cinema norte-americano, Colin Farrell, um irlandês de Dublin que até bem pouco tempo atrás passava despercebido nas ruas. Farrell é um caso a ser discutido à parte, já que tem feito, em média, três filmes por ano desde que foi descoberto por Schumacher. Para ganhar o papel em Tigerland, ele viajou até Londres e pagou a passagem do próprio bolso para se encontrar com o diretor. Foi o dinheiro mais bem gasto de sua vida. Seu cachê hoje está em torno de US$ 20 milhões.

Farrell também está em Por um Fio. Aliás, é como se só ele fizesse o filme, tamanho é seu empenho em protagonizá-lo – ajudado, também, pela desmotivação de seus coadjuvantes, como o policial de Forest Whitaker e as mocinhas de Katie Holmes e Radha Mitchell. São duas, sim, e o espectador entenderá o porquê. Stu Shepard é um relações públicas nova-iorquino arrogante que acumula uma extensa lista de pequenos pecados. Ele praticamente escraviza seu estagiário, pois não lhe paga salário e, ainda, mantém a promessa de que um dia o jovem será recompensado. Também engana seus clientes, fazendo com que eles acreditem em suas promessas furadas. E, por último, trai duas mulheres, a esposa Kelly (Radha) e a namorada Pamela (Katie), já que uma não sabe da existência da outra.

O drama de Stu na cabine telefônica começa quando ele dá seu telefonema diário a Pamela, que acontece sempre no mesmo horário e no mesmo telefone público – sim, porque sua mulher checa a conta do celular. Depois de falar com a namorada, ele recebe uma chamada de um sujeito que o ameaça de morte caso ele desligue o telefone. O homem diz ser um franco atirador que está com uma arma apontada para o peito de Stu. A confusão começa quando um grupo de prostitutas tenta usar a cabine, o que acaba com a morte do cafetão. Quem atira é o homem misterioso, mas quem leva a culpa é Stu, o que transforma a esquina onde tudo acontece em um circo: policiais, imprensa, mulher, namorada. Se em Tigerland Schumacher deslanchou numa boa carreira de independentes, Por um Fio é seu retrocesso.




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