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PercPan: festa de muitas culturas
Vivian Whiteman
Enviada a Salvador 
28/03/1999 | 17:52
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O encerramento da 6ª ediçao do PercPan (Panorama Percussivo), que aconteceu sábado, em Salvador (BA), levou ao palco do Teatro Castro Alves todos os grupos e artistas que participaram do festival (com exceçao de Maria Bethânia), num espetáculo que resumiu a intençao do evento, de promover o intercâmbio entre percussionistas de várias partes do mundo.  

Mesmo quem só assistiu à última noite do festival conseguiu uma boa idéia do que foi apresentado, já que os destaques da apresentaçao de anteontem foram também os melhores nos espetáculos anteriores. Os campeoes absolutos, segundo público e crítica, foram os músicos do Tambores do Burundi, vindos da Africa.  O grupo já havia sido convidado por Gilberto Gil e Naná Vasconcelos, diretores artísticos do festival, para participar de ediçoes anteriores do Percpan. Porém, nao puderam aceitar o convite por conta da situaçao política do Burundi, que passou por uma guerra civil.   

A batida forte dos tambores gigantes dos africanos (pesam, em média, 20kg) e o carisma inacreditável dos músicos conquistaram o público desde o dia da abertura do festival. No largo do Campo Grande, no Pelourinho (ao lado do Olodum) ou no palco do Castro Alves, o grupo impressionou pela técnica, pelo vigor e pelo entusiasmo de seu ritual de apresentaçao. "Eles seguem, com muita alegria e respeito, uma tradiçao belíssima, que vem sendo transmitida há várias geraçoes", resumiu Gil.   

Outro destaque da programaçao foi o grupo Evocaçao a Pernambuco, liderado pela figura de Dona Aurinha do Coco, que tocou, cantou, dançou e levantou ao público ao som de cirandas, maracatu, coco e caboclinho. Aos 43 anos, a percussionista, que já tocou com a veterana Selma do Coco, tem energia de sobra. "Adoro estar na roda, nao me canso, só me divirto", disse.  Ficou por conta dos músicos pernambucanos a última apresentaçao da noite de sábado, que preparou a platéia para o clima de festa que marcaria o encerramento, com todos os convidados no palco cantando a música que se tornou o tema oficial do PercPan- um final apoteótico. 

Panorama - Entre as atraçoes internacionais, vale destacar o indiano Zakir Houssain, o qual, ao lado de três outros mestres, trouxe para o PercPan a música que representou o Oriente no festival. "A música na India começou com os deuses hindus. Por isso, antes de entrar no palco, nos purificamos, tiramos o sapato, meditamos. Apesar de ser muçulmano, respeito esse ritual, porque minha religiao é a música", comentou.  

Houssain, muito aplaudido em suas duas apresentaçoes, elogiou a iniciativa do PercPan, lembrando que, na India, o intercâmbio cultural promovido pelo festival começou a acontecer somente nessa década. "Agora estamos inseridos nesse período de transiçao pelo qual todas as culturas estao passando, se descobrindo umas às outras. O mundo está ficando menor", concluiu.  O troféu simpatia, sem contar os campeoes absolutos do Burundi, fica para os índios do Xingu, em especial para o pajé Sapaim, que anteontem teve sua noite de estrela. "O que mostramos para vocês é nossa dança, nossa música, nossa tradiçao. O que para o branco pode parecer nada, para nós é muito importante", afirmou o pajé.  

Além deles também estiveram no PercPan os haitianos do Ayabomnbe, os índios norte-americanos do Silverclouds, o Tambor de Crioula (com Zeca Baleiro), o grupo Techno Suggestion, os percussionistas Carlos Tarcha e Dalga Larrondo, de Sao Paulo, Egberto Gismonti e Maria Bethânia.  A diva da MPB ficou com o título de chata da noite de sexta, ao parar o show por conta de um microfonia, chamando a atençao de Gil perante todo o público. Nao quis dar entrevistas, e também nao participou do encerramento. Por outro lado, seu show, baseado no repertório do disco A força que nunca seca, foi excelente.  Em 2001, o PercPan poderá ganhar uma versao paralela em Nova York, confirmando o interesse internacional pelo evento (havia jornalistas de vários países cobrindo o festival).  No ano que vem, deve ser lançado em CD com os melhores momentos das seis ediçoes do PercPan, de acordo com a produtora Beth Cayres.




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