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Faltou manchetíssima do desabafo de Lula
Daniel Lima
28/06/2015 | 08:00
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Este Diário engatou uma semana de manchetíssimas bem encaixadas, sempre considerando o decálogo de regionalidade publicado em 11 de maio. Não fosse a ausência do desabafo do ex-presidente Lula da Silva sobre o esclerosamento do PT no topo de todas as manchetes de Primeira Página, a semana que começou no sábado e terminou na última sexta-feira teria recuperado os descaminhos da anterior. 

Lula fora da manchetíssima, portanto, foi um erro grave. Como também ficou fora da Primeira Página, o erro se tornou gravíssimo. Poderia ter estado em chamada conjunta com as novas bobagens do prefeito Luiz Marinho que, naquela edição, voltou a atacar este jornal. Portanto, a melhor resposta à epilepsia vernacular de Marinho foi dada por Lula da Silva, seu dileto primeiro amigo. Já imaginaram Marinho e Lula, numa montagem gráfica, olhando um para a cara do outro, o primeiro dizendo que este jornal é uma porcaria, como disso, e o segundo afirmando que o PT virou o fio? 

Costumo dizer que as manchetíssimas são o resumo do jornal como um todo. Seja qual for o jornal. Este Diário vive nova fase, de rompimento com forças que o sequestram ao longo dos anos, quando a riqueza regional com a comissão de frente da industrialização poderia ter fomentado acúmulo de conquistas editoriais pétreas. 

Essa turma de malfeitores é formada por pessoas e entidades que não estão à altura das demandas econômicas e sociais. Essas mesmas pessoas e essas mesmas instituições, com os mesmos nomes ou com antecessores do mesmo quilate, são em larga margem individualistas, quando não grupais, voltadas a interesses próprios. E a sociedade como um todo que se lixe. 

VESPEIROS E MUITO MAIS

Ao começar a mexer no vespeiro do mercado imobiliário, ao cutucar as associações comerciais, ao apontar as fissuras do setor industrial, reconhecendo a desindustrialização, ao pegar no pé dos prefeitos entre outros motivos porque não dão à Educação o devido cuidado, ao fazer tudo isso mesmo que de forma ainda reticente, este Diário sinaliza que contribuirá para novo perfil de representatividade social. 

Aliás, é justamente por estar atento e mesmo monitorar essa nova postura, inclusive com o apontamento de determinadas direções, que este profissional entende que não é ombudsman, mas muito mais que ombudsman desta publicação. Seria ombudsman se atuasse com estrutura física e de recursos humanos, além de olhar de ombudsman, sobretudo no relacionamento com os leitores. Minha posição é diversa. Fico como sentinela prontíssima para intervir. Contribuo a pedido deste próprio jornal com a ocupação de espaço conceitual na sociedade, apertando-a no sentido de que saia do marasmo sistêmico. 

FRAGMENTAÇÃO ATRAPALHA

É natural que este Diário não pode frustrar expectativas. Terá de passar por cima de muitas dificuldades sobrepostas desde muito tempo. Principalmente de limitações do quadro de Redação. Fosse o Grande ABC megacidade, não região, deformação patrocinada pelos emancipacionistas do século passado, haveria menos complicações à prospecção de informações. 

Imaginem os leitores como dá trabalho atuar em sete municípios conurbados, mas com a realidade de bicho de sete cabeças? Pautas de caráter regional, mais elucidativas em vários pontos, são muitas vezes desconsideradas em favor de abordagens municipalistas. A linha de produção diária assim determina o encontro com os limites de horários prestabelecidos. 

Vou dar um exemplo pedagógico: na sexta-feira última a manchetíssima versou sobre novos investimentos de Mauá em Segurança Pública, com a instalação de mais câmeras em áreas estratégicas. Em nome de uma regionalidade explicativa sobre o tamanho da encrenca da criminalidade o ideal seria que a reportagem recolhesse informações das demais cidades, inclusive em termos comparativos, e que incluísse dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado sobre práticas criminais. Aí estaria encaminhada matéria de maior peso. Fosse o Grande ABC apenas uma cidade, com apenas um secretário para cada área específica, como, por exemplo, é São Paulo, a cobertura seria menos trabalhosa.

FALTA FORÇA-TAREFA

Embora tenha de levar a territorialidade dividida e multifacetada da região em conta, a observância do produto que recebo todos os dias em meu domicílio não pode prescindir do olhar de assinante, de leitor, porque é esse olhar com que todos igualmente contemplados todas as manhãs medem a qualidade do jornal. Provavelmente com menos conhecimento técnico, mas com abundância de sensibilidade.

Justificando a restrição ao esquecimento das históricas declarações de Lula da Silva na Primeira Página, sobretudo como manchetíssima, tudo seria resolvido com pequena força-tarefa. O que fariam profissionais para transformar em regionalidade as informações que os jornais deram em destaque? Simplesmente adaptar o conteúdo, agregando fatos históricos sobre o surgimento do PT na região, embora seus líderes de então tenham preferido um colégio da Capital como local de batismo. 

Gostemos ou não – e isso fica a critério de cada um – Lula da Silva e seus seguidores, inclusive os sindicalistas da CUT (Central Única dos Trabalhadores) que partidarizaram o movimento que deveria estar limitado à esfera econômica, são frutos da região. Somos, portanto, a manjedoura desses irmãos siameses.




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