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Grande ABC vai ganhar seu primeiro crematório
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
14/11/2010 | 07:43
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O cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo, anunciou nesta semana que protocolou requerimento na Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) solicitando licença prévia para instalação de um crematório em suas dependências. Caso a companhia autorize a implantação, a cidade terá o 15º crematório do Estado.

Procurada, a administração do cemitério confirmou o interesse pela construção, mas se negou a fornecer mais detalhes. A Cetesb confirmou que recebeu o requerimento, mas informa que o documento ainda está sob análise. A Prefeitura de São Bernardo, que também precisa emitir autorização, não se manifestou.

Os crematórios são apontados por especialistas como a forma mais benéfica para o meio ambiente de dar um destino a cadáveres humanos. A construção desses locais segue tendência de aumento observada no Estado. Segundo a Cetesb, em 2000 havia três crematórios em São Paulo. Em 2010, o número subiu para 14 - aumento de quase 400%.

Entre as principais vantagens do crematório está a diminuição do risco de contaminação do solo e de lençóis freáticos.

"Quando a pessoa morre, produz um líquido chamado necrochorume. Isso é natural, porque a pessoa tem vários fluídos no corpo. Se o cadáver estiver enterrado de forma inadequada, o necrochorume pode infiltrar no solo", explica o professor Murilo Valle, coordenador do curso de Engenharia Ambiental da FSA (Fundação Santo André).

O especialista ressalta que há uma série de procedimentos que os cemitérios deveriam adotar para evitar as contaminações, mas que nem sempre isso ocorre. O fator que requer maior atenção é a impermeabilização do túmulo. Segundo Valle, até os produtos usados para envernizar o caixão podem causar contaminações.

O professor José Luis Laporta, do curso de Ciências Biológicas da FSA, ressalta o perigo de transmissão de vírus e bactérias vindas de cadáveres de pessoas que foram vítimas de doenças infecto-contagiosas.

Ele salienta que, apesar de a cremação oferecer menos riscos, é preciso ficar atento com a emissão de gases após a queima. "O crematório tem de ser instalado com todas as condições de filtragem para evitar que haja outro tipo de contaminação", completa.

Em relação à transmissão de vírus e bactérias, Laporta descarta totalmente esse risco. "A incineração extermina qualquer espécie de vida.Não tem possibilidade de contaminação", garante.

CUSTOS

Além dos benefícios ambientais, a cremação representa economia para as famílias. No crematório municipal Dr. Jayme Augusto Lopes, na Vila Alpina, em São Paulo, o valor para cremação é de R$ 1.100. Despesas com velório, urnas funerárias e transporte do corpo ficam a cargo da família.

Para enterrar, é preciso possuir o túmulo - ou colocar o corpo nas gavetas dos cemitérios. O preço de um túmulo com quatro gavetas no cemitério municipal do Curuçá, em Santo André, é vendido a R$ 11.684,81. No privado Jardim da Colina, um jazigo com oito gavetas chega a R$ 25.480, além da taxa semestral de manutenção.

O valor cobrado pelas funerárias da região para o traslado até a Vila Alpina é de cerca de R$ 200. Urnas custam, em média, R$ 1.000.

 

Temperatura nos fornos é de aproximadamente 900 graus

Durante a cremação dos cadáveres, a temperatura nos fornos chega a aproximadamente 900 °C. O tempo de exposição ao calor é de cerca de duas horas para pessoas com até 100 quilos. "É colocado um corpo de cada vez na câmara primária. Após isso, os gases são requeimados em uma câmara secundária", explica Reinaldo Dantas, administrador do crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra.

Após o velório, o corpo é levado a uma câmara fria, onde permanece por 24 horas, no mínimo. O tempo é respeitado para o caso de o IML (Instituto Médico Legal) solicitar novos exames no morto.

Passado o período, o caixão é levado ao forno. São retiradas as peças em metal, como alças, e adereços em plástico. Por dentro, a urna permanece intacta. Depois das duas horas, o corpo já terá virado gás, permanecendo apenas ossos calcinados (quebradiços).

Os restos de ossos passam por um moinho, uma espécie de liquidificador, que os tritura. Os ossos se transformam em cinzas, que no crematório de Itapecerica são entregues para a família em 10 dias.

O administrador também confirma o aumento no número de cremações. "O crematório funciona há pouco mais de quatro anos. Fizemos mais de 1.100 cremações. Hoje, a média é de 40 por mês, e no início eram só 10." Dantas avalia que o fato de a cremação ser, geralmente, mais barata do que os sepultamentos, pesa no aumento no número de procedimentos realizados.

 

PROCEDIMENTO

Para que haja a cremação, a pessoa deve ter manifestado a vontade em vida, ou, pelo menos, não ter demonstrado oposição. Se não houver autorização com firma reconhecida em cartório, apenas parentes de primeiro grau ou tutores legais podem autorizar o procedimento.

Em caso de morte natural, o atestado de óbito deve ser assinado por dois médicos. Se o falecido foi vítima de morte violenta, a família deve providenciar atestado médico assinado por um médico legista, autorização judicial, laudo do IML, boletim de ocorrência e uma declaração do delegado, não se opondo à cremação.

Todas as pessoas podem ser cremadas. Não há restrições, a menos que autoridades judiciais ou policiais se oponham, em caso de crime.




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