Os circuitos alternativos nao cansam de relançar clássicos, desde o sucesso que a nova cópia de Noites de Cabíria (1957) fez no Cineclube Vitrine em janeiro de 1999. O filme de Federico Fellini, vencedor do Oscar de melhor produçao estrangeira, lotou a sala, quase esquecida, e lançou moda. A Noite (La Notte, 1961) é mais um italiano volta em cartaz nesta segunda, no CineSesc, em Sao Paulo.

O filme, vencedor do Urso de Ouro em Berlim, faz parte da trilogia do diretor Michelangelo Antonioni, iniciada com A Aventura (1960) e encerrada com O Eclipse (1962). Em resumo, é a tragédia do pessimismo de um casal. O escritor Giovanni (Marcello Mastroianni) e sua mulher, Lídia (Jeanne Moreau), casados há dez anos, já nao têm mais condiçoes de enfrentar a solidao e o silêncio que o relacionamento sustenta.

Certa noite, o casal visita o amigo Tommaso no hospital, gravemente enfermo. Saindo dali, eles seguem para o coquetel de lançamento do último livro de Giovanni. Lídia, no entanto, prefere caminhar a esmo pelas ruas do subúrbio. Mais tarde, voltam a se reunir num night club, e, depois, vao juntos a uma festa na mansao de um rico industrial.

Em meio à farra, os dois se envolvem separadamente em affairs - ele, com Valentina (Mônica Vitti), filha do industrial que acabara de oferecer um cargo de chefia em sua empresa; ela, com Roberto (Bernhard Wicki), um milionário garanhao. No fim da festa, tornam a se reencontrar. Lídia já sabe da morte de Tommaso e informa o marido. Confessa que o amigo lhe amou secretamente durante anos e nunca foi correspondido.

Antonioni foi um dos responsáveis pela reestruturaçao da novela no cinema. Seus filmes quase sempre procuram retratar a desintegraçao do homem no absurdo da luta pela sobrevivência. O tédio e o vazio sao sua matéria-prima.

É desta forma, inclusive, que ele fecha a história de Giovanni e Lídia. Longe de apontar uma soluçao, Antonioni mostra apenas um gesto de um homem derrotado, que chora suas tristezas sobre uma mulher infeliz e desesperada.