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Virar motorista ainda é um pesadelo
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
12/04/2011 | 07:43
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O que era para facilitar e dar segurança a quem está tirando,quer renovar ou modificar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) virou um martírio.

Queda e lentidão do novo sistema eletrônico da Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) - implementado há um ano e conhecido como e-CNHsp - têm sido as principais reclamações de alunos, proprietários de CFCs (Centros de Formação de Condutores) e de autoescolas.

O novo sistema eletrônico tem feito com que a auxiliar administrativa de São Caetano Carolina Perón, 20 anos, exerça a paciência. Desde o dia 2 de março ela tenta iniciar as aulas teóricas, porém o sistema não captura sua digital.

"Vou todos os dias e não consigo passar a digital. Fui até o Detran (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), mas disseram que o problema é da Prodesp. Minha irmã, que começou comigo, já está iniciando as aulas práticas. Estou pagando por algo que não sei quando vou concluir", reclamou Carolina, que já perdeu dois dias de trabalho por causa dos problemas.

A diretora da Associação das Auto e Moto Escolas de São Caetano, Maria Nuez Bielawski, onde Carolina se matriculou, afirmou que os protocolos da aluna foram enviados. "O erro sempre é o mesmo, problema com comunicação. Agora é aguardar uma posição."

Antes mesmo de iniciar as aulas já é possível encontrar dificuldades, na hora do exame médico. A técnica de laboratório de São Bernardo Vanessa Aguiar Ferreira do Nascimento, 26, esperou seis horas até o sistema voltar.

"Cheguei às 14h e precisei aguardar, porque estava fora do ar (o sistema eletrônico). Depois tive problema na hora de efetuar o pagamento para iniciar as aulas teóricas", disse Vanessa, enquanto passava a digital para ter a sua primeira aula teórica.

A auxiliar de enfermagem Eliane Cabral de Jesus, 32, de Mauá, precisa contar com a sorte. Ela tem apenas um dia na semana disponível para fazer as aulas práticas, mas precisa torcer para que o sistema colabore.

"Consigo fazer aula apenas no dia de folga. Fiz três, porque na semana passada não registrou. O problema é que tenho várias aulas agendadas e o sistema precisa estar apto, caso contrário é tempo perdido."

Eliane não vê a hora de conseguir a carteira de habilitação para deixar de usar o transporte público. "Como trabalho em São Paulo, preciso sair às 9h para chegar às 13h. Pego trem, ônibus e metrô. Com o carro vou levar menos tempo."

O comerciante de Mauá Miquéias Bezerra de Almeida, 28, está adicionando duas categorias na carteira de habilitação. "No exame médico esperei duas horas até o sistema voltar. Nas aulas práticas finalizei a de moto, mas a de micro-ônibus passei três aulas a digital. Na última aula fiquei uma hora e meia depois da aula e nada de voltar o sistema."

Para ele, o pior é se ausentar do trabalho. "Como sou proprietário de uma loja de tinta, me ausento e deixo de resolver problemas, porque não consigo finalizar as aulas. Além do inconveniente, precisa ter paciência para conseguir remarcar a aula perdida."

 

Proprietários também são prejudicados

Além dos alunos, os proprietários de CFCs (Centros de Formação de Condutores) e de autoescolas contabilizam dores de cabeça, pois precisam explicar os problemas quase que diários no sistema eletrônico.

Para o diretor da ABC Centro de Formação de Condutores e proprietário da autoescola Carijós, ambas em Santo André, Batista Munhoz Sanchez, o sistema continua com falhas, mas houve progressos.

"Na minha visão, o sistema teve uma melhora de 20%. Desde fevereiro estamos colhendo a digital do aluno apenas na entrada, e o instrutor fecha a aula efetuando a saída. Com isso, se o sistema está fora do ar o aluno já é dispensando e volta em outro dia."

Para a proprietária e diretora de ensino da Auto Moto Escola Denise, Maria Luisa Teixeira de Oliveira, a maior dificuldade é lidar com a oscilação no sistema.

"As pessoas não entendem que não é culpa da escola. Muitos ficam irritados, porque acaba prejudicando os estudos e o trabalho. É uma situação desagradável. Até mostro o que aparece no computador, mas não tenho mais o que falar", disse Maria Luisa, que atende 30 alunos por mês.

O sócio-proprietário do CFC-A São Bernardo Neuclair Santo Silvestrini explica que a cada dia é uma surpresa.

"Tem dias que de 200 alunos quatro passam a digital. Os problemas acontecem geralmente nas turmas da manhã e a noite em que o fluxo é maior. Dizem que o problema é pontual, mas como isso pode acontecer em todas cidades que possuem o novo sistema. Trabalho nisso há 50 anos e nunca vi coisa igual."

A encarregada pela recepção do CFC- A São Bernardo, Ana Paula Santos Oliveira, disse que o módulo de contingência nem sempre funciona.

"Temos um prazo de 48 horas para enviar as aulas e o mesmo para uma resposta. O problema é que ao mandar, recebemos depois um erro no envio e nada é feito e o prazo, expirado."

 

Revisão do modelo e-CNHSP faz parte da reformulação

Em nota, a Secretaria de Gestão Pública, que passou a ser responsável pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), informou que para garantir a qualidade dos serviços, a reformulação do Detran - que será fixada em 120 dias - contará com rigorosa revisão de todos os procedimentos e sistemas, inclusive o e-CNHSP.

Desde que o sistema foi adotado, foram realizadas melhorias pelo Detran e pela Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo), como a mudança do motor biométrico, além do módulo de contingência, criado para não prejudicar alunos e CFCs (Centros de Formação de Condutores).

Este módulo permite que, em caso de indisponibilidade do sistema, seja parcial ou generalizado, os CFCs informem os dados das aulas práticas ou teóricas, do instrutor e do aluno em um prazo de 48 horas. Qualquer que seja a situação, em no máximo 48 horas o estabelecimento poderá visualizar o pedido de registro de aula e saber se foi aceito ou rejeitado.

Caso um CFC não consiga enviar as aulas por meio do módulo, deverá encaminhar pedido para a Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito), que solicitará à Prodesp.

Com relação ao caso da auxiliar administrativa de São Caetano Carolina Perón, 20 anos, que desde março não consegue cadastrar a digital, a Pasta ressaltou que o problema foi corrigido pelos técnicos da Prodesp e que não deverá voltar a se repetir.




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