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Há 31 anos, Santo André desafiava a Seleção Brasileira em jogo amistoso

Hoje sem calendário, Ramalhão testou o time que ficou com a prata na Olimpíada de Los Angeles

Anderson Fattori
Thiago Bassan
Diário do Grande ABC
17/06/2015 | 07:36
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Arquivo/DGABC


Se o Santo André está sem calendário e de férias forçadas até 2016, há exatos 31 anos a situação era muito diferente. O time atravessava uma das suas melhores fases e no dia 17 de junho de 1984 enfrentava amistosamente, no Estádio do Morumbi, a Seleção Brasileira que disputaria a Olimpíada de Los Angeles. A partida terminou em 3 a 3 – o Ramalhão vencia até os 37 minutos do segundo tempo – e entrou para a história como um dos mais importantes feitos do Ramalhão.

Na ocasião, o time do Grande ABC foi o escolhido para desafiar a Seleção Brasileira justamente porque era uma das principais forças emergentes de São Paulo e colecionava resultados importantes no Campeonato Brasileiro daquele ano. Além disso, o treinador do Brasil era Jair Picerni, que havia deixado o Ramalhão para assumir a Seleção – foi substituído por Roberto Correa.

“Tínhamos uma grande equipe, forte, compacta, que vinha em grande fase. Acho que foi por isso que apareceu esse convite de testar a Seleção Brasileira”, recordou o ex-volante Rotta, que chegou a ser convocado para ir à Olimpíada, mas não teve o sonho concretizado (leia mais na página 3).

A Seleção encontrou resistência no Santo André e depois partiu para conseguir a medalha de prata nos Jogos de Los Angeles, perdendo a final para a França por 2 a 0. 

O meia Arnaldinho, que atualmente comanda o time sub-15 do Ramalhão, lembra muito daquele dia. “Foi histórico para mim e para toda a equipe. Sempre que posso toco no assunto com os jogadores do sub-15 para eles entenderem como a história do Santo André é grande”, disse.

O ano de 1984 também foi importante para o Bruno Daniel, já que na véspera da partida contra o Ramalhão a Seleção Brasileira usou a estrutura do estádio para se preparar. 


Paulinho Carioca relembra duelo com o lateral Marcos 

Ponta-direita da Seleção Brasileira olímpica no amistoso contra o Santo André em 1984, o ex-jogador e atual técnico Paulinho Carioca relembra duelo curioso da partida disputada no Morumbi. Revelado nas categorias de base do Fluminense, o jogador travava confrontos particulares com o lateral-direito Marcos, na época em que o ala jogava no Flamengo. E reencontrou o adversário naquela oportunidade com a camisa do Ramalhão. 

“Eu nem sabia que o Marcos atuava pelo Santo André. Quando entrei em campo, vi que ele estava do outro lado e fui cumprimentá-lo. A gente sempre tinha umas disputas particulares, na época em que nos enfrentávamos no Fla-Flu. Nesse dia, o primeiro gol do Brasil saiu em uma jogada minha em cima do Marcos, em que cruzei para o gol do Chicão (atacante).Depois do jogo, eu disse a ele: ‘Sempre levo em cima de você’. E o Marcos respondeu: ‘Mas não ganha nunca’. 

Paulinho também relembra a dificuldade da partida. “Esse jogo foi complicado. O Santo André tinha time forte, que havia sido bem treinado anteriormente pelo Jair Picerni, contava com bons jogadores. E a Seleção ainda estava em formação. Pena que depois não me deixaram ir para a Olímpiada de 1984”, lamenta Paulinho, que quatro anos depois foi campeão paulista com o Corinthians. 


Picerni recorda ano em que se destacou para o cenário nacional 

O ano de 1984 ficou marcado para sempre na memória do ex-treinador Jair Picerni. O comandante iniciou a temporada dirigindo o Santo André, e após a boa campanha no Campeonato Brasileiro, foi contratado pelo Corinthians, mas acumulou a função de dirigir também a Seleção Brasileira olímpica. O duelo com o Ramalhão foi uma espécie de confronto entre criador x criatura. 

“O Santo André era uma mescla de jogadores mais experientes com alguns novatos. Muitos deles vieram do Nordeste, por indicação de alguns amigos que fiz no futebol. O Neto, zagueiro, que atuou no Santos, o Rotta, Jaime Boni, Esquerdinha. Time muito forte. Era uma equipe que tinha como meta chegar entre as melhores. E, por outro lado, a Seleção Brasileira estava em formação. Tinha assumido a equipe em pouco tempo e precisava impor meu estilo de trabalho. E me preocupava com todos os detalhes, era reunião na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) quase que diariamente. Deu para perceber o nível da dificuldade da partida pelo resultado”, recordou. 

Picerni havia passado os 21 meses anteriores no Ramalhão e obteve o melhor desempenho da história do clube no Campeonato Brasileiro, quando foi eliminado na terceira fase. 


Destaque do Ramalhão, Rotta lembra convocação cancelada 

Um dos personagens mais importantes da história do Santo André, o ex-volante Rotta, que estava no amistoso contra o Brasil em 1984, sentiu por dois dias a sensação de ser convocado para a Seleção, fato inédito na história do Ramalhão até hoje. Após receber a notícia do então presidente Lourival Passarelli, foi esquecido na apresentação do time que tentaria a medalha de ouro na Olimpíada de Los Angeles, em 1984.

“O Passarelli me ligou dizendo que eu havia sido convocado pelo Jair Picerni, mas dois dias depois ninguém falou mais nada. Entramos em contato e meu nome não estava na lista”, explica Rotta, que formou meio vitorioso com Élcio, em 1984.

O ex-volante lembra como se fosse hoje das travessuras que o Santo André aprontou naquela temporada, quando disputou pela primeira vez o Brasileirão. “Tínhamos um grande elenco. Lembro de ter enfrentado o Grêmio, que tinha acabado de ganhar o Mundial, e o Renato Gaúcho disse antes do jogo que só perderia para um time de outro planeta. Ganhamos por 1 a 0, com gol do Élcio”, recorda. 

Em 1984, o Santo André encantou o Brasil, tanto que liderou sua chave na primeira fase, foi derrubando rivais importantes até cair na terceira fase ao perder para o Fluminense, que se tornaria o campeão daquela temporada, embalado pelo histórico ataque Casal 20 , formado por Washington e Assis.

Rotta ainda teve outra passagens memorável pelo Ramalhão, desta vez como treinador, em 2003, quando comandou o time campeão da Copa São Paulo de Juniores. “Foram 12 anos de Santo André. Uma vida inteira”, contabiliza. 

Esquerdinha ressalta união entre jogadores 

Ex-jogador do Santo André e destaque do elenco em 1984, o ex-meia Esquerdinha recorda com carinho a passagem pelo Ramalhão e destaca a união dos atletas no período, além da boa campanha realizada. 

“O Santo André era desconhecido. Mas, no Brasileiro, passamos por Coritiba, vencemos o Grêmio, que havia sido campeão do mundo, entre outros grandes. Formamos uma verdadeira família no clube. Nunca entrou um torcedor lá dentro para nos cobrar de alguma coisa”, disse Esquerdinha. 

Mesmo com a oportunidade de encarar a Seleção Brasileira, apesar de apenas 22 anos na época, Esquerdinha ressaltou não ter sentido a pressão da partida. “Não havia isso (pressão). Enfrentar a Seleção era algo normal. Joguei com Luis Pereira e o Polozzi na época da base do Palmeiras. Então, não senti muita diferença”, afirmou. 




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