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População envelhece desamparada no Grande ABC
Andrea Catão Maziero
Do Diário do Grande ABC
03/08/2002 | 18:09
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As políticas públicas municipais de atendimento ao idoso no Grande ABC não estão acompanhando o envelhecimento da população na região. Faltam médicos especializados em geriatria, atendimento jurídico para resolver problemas ligados à aposentadoria e de amparo ao idoso carente, entre outros serviços.

A cada década, o IE (Índice de Envelhecimento) dos moradores das sete cidades, tal como no Estado, aumenta mais rapidamente do que a taxa de crescimento da população. A previsão é de que em 2050 haja tantos brasileiros com mais de 60 anos quanto crianças de zero a 14 anos. Só no Estado, com base nos dados do Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IE está em 34%. A conta para obter o índice é simples: para cada grupo de 100 pessoas na faixa de zero a 14 anos existem 34 pessoas com 60 anos ou mais.

São Caetano é o município com mais de 100 mil habitantes que lidera as estatísticas estaduais. São 89,5 idosos para cada grupo de 100 crianças. No entanto, assim como as cidades da região que também apresentam aumento do IE, pouco foi investido em políticas públicas para essa faixa etária até hoje. O investimento maior da cidade está na área de lazer.

Ao todo, são 15 mil idosos cadastrados nos dois centros de convivência municipais, dentre os quais um quarto participa de atividades esportivas e de lazer. O que a cidade ainda não fez foi dar voz ao idoso por meio de um conselho, para avançar em outras áreas. “A lei de criação do conselho existe, mas nunca o montamos por não acharmos necessário”, disse o presidente dos dois centros, João Bonaparte.

Os conselhos têm a função de agregar representantes da sociedade civil, entidades assistenciais e poder público na discussão das políticas públicas, como de adaptação do transporte e de serviços de saúde. Porém, mesmo nas cidades com conselho, os projetos caminham em velocidade muito mais baixa do que a do crescimento da população idosa.

É o caso de Santo André, que, no Grande ABC, vem logo atrás de São Caetano no IE (44,2). O município ainda não estabeleceu programas permanentes capazes de beneficiar os mais de 67 mil idosos que residem na cidade. “Não temos programas futuros delineados, porque ainda estamos nos reunindo em um fórum (com idosos e entidades) para definir estratégias de atuação que não sabemos como aplicar”, afirmou a assessora da Terceira Idade/Idoso da Prefeitura de Santo André, Arlete Góes Bento.

Jovens – Os números que demonstram o crescimento da população idosa chamam ainda mais a atenção se confrontados ao baixo número de programas criados. Na avaliação do demógrafo Odeibler Santo Guidugli, professor do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro, as políticas públicas de atendimento ao idoso são “escassas, raras e insuficientes”. Há três anos ele estuda o envelhecimento nos 645 municípios do Estado.

Para Guidugli, embora fosse percebido o crescimento dos idosos nas décadas de 80 e 90, o Brasil insistiu em se pensar pelo bordão “país de jovens”. Para ele, as administrações devem começar a pensar o idoso “além dos bailes da terceira idade”. “O problema ainda não foi diagnosticado. As administrações tem dados quantitativos, mas não são capazes de articular as informações e planejar políticas que funcionem. E nisto as prefeituras poderiam sair na frente, porque os idosos não moram no Brasil, mas dentro dos municípios.”

Segundo Guidugli, na Europa o processo de envelhecimento durou cerca de um século, dando tempo para o desenvolvimento das políticas públicas de saúde e previdência, por exemplo. No Brasil, atingiu-se ritmo semelhante de envelhecimento em 30 anos. “O Brasil tem uma responsabilidade imensa com o contingente que começou a envelhecer nas três últimas décadas. Hoje, temos serviços precários, por exemplo em saúde, e nem chegamos no pico de envelhecimento.”

Aliás, os baixos valores da aposentadoria e saúde são as principais reclamações de quem tem mais de 60 anos. A aposentada Jandira Maria de Jesus, 61 anos, moradora de São Caetano, disse que o dinheiro que recebe da previdência daria para manter o mesmo padrão de vida que tinha à época em que trabalhava, se não fosse necessário reservar parte de sua renda ao pagamento do plano de saúde. “Por enquanto, estou conseguindo pagar o plano, mas tenho receio de um dia precisar do serviço público, porque sei que a espera por uma consulta é demorada e o atendimento é muito ruim.




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