Moradores do bairro Montanhão, em São Bernardo, uma das regiões mais carentes do Grande ABC, fizeram domingo um mutirão para retirar o lixo acumulado ao longo dos últimos quatro anos no alto do morro. Entre 8h e 12h, os moradores retiraram cerca de 300 sacos de 100 litros e estimam que a quantidade de lixo coletada chega a uma tonelada. O mutirão foi organizado pelo Conselho Comunitário do Núcleo Montanhão, Projeto Meninos e Meninas de Rua, Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Asseio e Conservação, Áreas Verdes e Limpeza Urbana do ABC, e teve o apoio da Prefeitura.

O faxineiro José Cláudio da Silva, 35 anos, mora desde 1994 no Montanhão e convive, além do problema do acúmulo de lixo no alto do morro, com a falta de água e de infra-estrutura de urbanização. Pai de cinco filhos, ele e sua família têm de vencer os 286 degraus de concreto da viela 5 e outros tantos escavados na terra. A viela, um dos acessos entre a rua do Cafezal e as casas no alto do morro, é considerada a principal causa do acúmulo de lixo na parte alta porque muitos moradores preferem jogar os resíduos ao redor das casas do que carregá-los viela abaixo, até uma das caçambas colocadas na rua do Cafezal.

Na parte acima da rua do Cafezal não é feita coleta de lixo e não há acesso para ambulâncias, viaturas da polícia nem caminhões de entrega. Segundo Jaderson Carlos da Silva, 11 anos, filho de José Cláudio, para descer os 286 degraus da viela, uma pessoa leva cerca de 5 minutos; para subir, o tempo médio é de 10 minutos. Jaderson faz o trajeto de descida e subida pelo menos uma vez ao dia para ir à escola. Jaderson e José Cláudio afirmam que levam o lixo de sua casa para a caçamba todos os dias. “Eu aproveito quando estou indo para o trabalho ou as crianças levam quando vão para a escola”, disse José Cláudio.

Segundo Marco Antônio da Silva, coordenador do Projeto Meninos e Meninas de Rua de São Bernardo, o objetivo do mutirão do lixo é despertar a população para a melhoria da qualidade de vida no Montanhão. Silva afirma que a maior parte das crianças e adolescentes atendidas pelo projeto é moradora do Montanhão. O presidente do Conselho Comunitário do Núcleo Montanhão, José Leopoldo de Melo, diz que cerca de 70% dos moradores da parte de cima da rua do Cafezal transportam o lixo de suas casas até as caçambas. “Nos últimos quatro anos aumentou a ocupação da parte alta do morro e é nessa área que há maior acúmulo de lixo”, afirma Melo.