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Uma trajetória de realizações
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
22/09/2008 | 07:31
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Flavio Florence desde 2007 não participava de todos os concertos da Orquestra Sinfônica de Santo André por causa do tratamento médico. Dois meses atrás, quando regeu a Terceira, a Sinfonia Heróica, de Beethoven, falou ao Diário sobre o desafio imposto pela dor: "Era a sinfonia Heróica, mas por 30 minutos, o herói fui eu."

"Ele foi dosando as energias de maneira a completar tudo a que se propôs. Os médicos não queriam que ele regesse a Orquestra Brasileira no Rio em 23 de agosto. Mas ele me pediu que o deixasse ir porque aquele seria seu último concerto. E foi emocionante. Depois, ele ficou uma semana descansando. No sábado seguinte, pegou o carro e foi assistir ao concerto da Sinfônica. Ficou mais uma semana de cama e saiu de casa para levar a (filha de 23 anos) Letícia ao altar", conta a mulher, Mônica Ferreira Camargo.

Flavio pegou gosto pela música clássica com seu pai, pianista amador. Estudou ma na Fundação das Artes de São Caetano e conquistou aos 17 anos uma bolsa de estudos no Real Conservatório de Música de Haia, na Holanda. Graduou-se em regência na Unicamp. Seu principal instrumento era a flauta, seguida do piano.

Foi vencedor do Concurso Jovens Regentes do Estado de São Paulo por duas vezes, regeu a Orquestra Sinfônica Jovem de Campinas. Atuou como convidado nas Orquestras Sinfônicas de Porto Alegre e Brasileira, além de ter sido assistente do maestro Eleazar de Carvalho.

Para Florence, um prazer maior que tocar, era compartilhar conhecimento. "Sinto que minha missão como regente é parecida com a de um museu, que abre suas portas para que todos vejam as obras dos grandes mestres", disse.

Ministrou cursos teóricos sobre música erudita na Fundação das Artes, na livraria Alpharrabio e no Sesc São Caetano. Sempre que possível, transferia a Orquestra para escolas, tentando popularizar o gênero musical em Santo André. Manteve na década de1990, no Diário, a coluna Fermata.

Uma de suas características mais marcantes, segundo o produtor da orquestra, Daniel de Melo, era a intelectualidade: "Excelente músico, bom orador e entendedor de arte em geral", disse.

Adriana Albano Maresca violinista da orquestra há 19 anos e presidente da Associação dos Músicos e Equipe Técnica do grupo completa: "Sempre admirei Flavio compartilhar o seu conhecimento. Sua capacidade de inter-relacionar os mais variados temas com música clássica, sempre despertaram a atenção de seus alunos, amigos e público."

É impossível desassociar seu trabalho da Orquestra Sinfônica de Santo André, que completou 20 anos neste ano. O projeto para a execução do grupo foi de Florence, que sempre esteve no comando acumulando a função de diretor artístico com a de maestro titular.

Na Sinfônica, realizou um trabalho ousado com a execução de obras dos mais conceituados compositores mundiais, entre eles Mahler, Beethoven, Stravinsky e Villa-Lobos. "A ousadia na seleção do repertório e um fator marcante da Orquestra Sinfônica de Santo André", comenta Wagner Polistchuk, regente adjunto da Orquestra.

Outra característica é a integração dos concertos com variadas manifestações artísticas, a exemplo da dança e do teatro. Desde 1990 ela se apresenta no Festival de Inverno de Campos do Jordão e já realizou apresentações nos palcos do Theatro Municipal de São Paulo e no Theatro São Pedro.

Artistas importantes já se apresentaram com a Sinfônica. Entre eles, os pianistas Arnaldo Cohen e Nelson Freire, o ator Antonio Fagundes, os dançarinos Ana Botafogo, Fernando Bujones, os cantores Edson Cordeiro, Monica Salmaso e os instrumentistas Hermeto Pascoal e Bocato.

A maioria dessas apresentações foi realizada na época do projeto Concertos Grande ABC, que recebia implemento financeiro da Associação Pró-música do Grande ABC, presidida por Florence. A associação nasceu após a campanha Um Piano Para o Grande ABC, do Diário, que conseguiu, com a colaboração de pessoas físicas e jurídicas a aquisição de um piano Steinway & Sons para a Orquestra.

A obtenção de subsídios para a manutenção da Orquestra sempre foi uma luta de Flávio. Por duas décadas ele lutou para implantação de um plano de carreira para os músicos que compõem a Sinfônica, a fim de evitar a rotatividade. Conseguiu junto ao poder público, que a mantém, foi que seus integrantes recebam ajuda de custo a título de bolsistas.

"A orquestra atrai músicos do ponto de vista artístico", argumenta a violinista Adriana Maresca.

"Uma coisa que devemos ao Flavio é que ele nunca abriu mão dos desafios. Poderia ter desanimado, como muitos outros, mas seguiu buscando o melhor desempenho possível de todos na orquestra", comenta o produtor Daniel. "A gente olha para trás e fala: Uau! Olha quanta coisa linda a gente construiu sob o comando do Flavio", complementa Adriana.




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