Setecidades Titulo
Garota é espancada
no 4º dia na escola
Renan Fonseca
Do Diário do Grande ABC
14/06/2011 | 07:10
Compartilhar notícia


Foram pelo menos 30 minutos de humilhação, puxões de cabelo, arranhões e socos. A violência só parou quando uma colega de classe conseguiu puxar para fora da roda de pancadarias a jovem agredida. Daquele grupo, T. R. D., 15 anos, não conhece ninguém. Não teve tempo para se familiarizar com os rostos ou saber de cor o nome de cada um. A única certeza que tem agora é que não volta mais para as salas de aula da escola que frequentou por apenas quatro dias.

O caso aconteceu na quinta-feira, na porta da Escola Estadual Padre Guiseppe Pissoni, na Vila Lopes, em Rio Grande da Serra. A garota, que cursa o Ensino Médio, foi transferida da Escola Estadual Valentino Redivo na segunda-feira passada. Logo no primeiro dia de aula, as ameaças começaram. "Elas ficavam me olhando e algumas esbarravam em mim durante o intervalo", contou.

A mãe da adolescente, Elaine Rodrigues Silva, 35, não fazia ideia da situação que a filha passava nos poucos dias como novata. "Eu a transferi para aquela escola porque fica mais próxima de casa", explicou.

Segunda, terça e quarta-feiras as ameaças não passaram de alguns empurrões e palavrões. Por volta do meio-dia de quinta-feira, T. foi barrada por um grupo de oito garotas. Somente quatro estudam na Giuseppe Pissoni. Duas eram colegas da adolescente. "Uma me derrubou e logo as outras começaram a bater. Perguntei por que aquilo estava acontecendo comigo e disseram que eu era nova na escola", disse T.

Os hematomas ainda estão no rosto da menor. No lugar do brilho, lápis para olhos e batom, as marcas ressaltam a face de uma garota indefesa, com medo de qualquer um que chegue perto. A única cor viva que ela possui no rosto está nos olhos, que se enchem de lágrimas quando relembra o dia das agressões. "As garotas batiam até mesmo em quem se aproximava para me ajudar. Uma colega me puxou e corremos para a casa dela. Foi terrível."

Ontem, T. tinha dois motivos para não voltar à escola:trauma do que aconteceu e medo de apanhar novamente. "Uma delas avisou que iria hoje (ontem) na porta da escola com mais gente para me bater." A equipe do Diário acompanhou a adolescente até o colégio. Assim que se aproximou, o corpo da jovem começou a estremecer e ela vestiu o capuz da blusa de frio. "Estão ali, estão ali", disse, apavorada, apontando para um grupo de jovens intimidadores que se aglomerava na escadaria de um comércio.

Elaine procurou a direção da escola, a polícia e o Conselho Tutelar - que estava de portas fechadas na quinta-feira. "Cheguei às 14h no conselho. Não tinha ninguém. Na delegacia, informaram que só poderíamos registrar o boletim na presença de uma conselheira", contou. A mãe só conseguiu registrar a denúncia às 20h, aproximadamente. "As conselheiras passaram de carro e nos viram na porta do conselho, mas nem sequer pararam", contou.

Elaine sai de casa todos os dias com o coração apertado. Ainda não conseguiu transferir a filha. "Vamos nos mudar", garantiu. Ela vive há quatro meses com dois filhos no Recanto Alpino

‘Temos de apartar brigas entre alunos quase todos os dias'

Brigas entre alunos são frequentes na Escola Estadual Giuseppe Pissoni, na Vila Lopes, em Rio Grande da Serra. É o que afirma a direção da unidade. Sobre a agressão à aluna novata na semana passada, a coordenadora informou que as quatro alunas foram suspensas, e os nomes e endereços encaminhados para o Conselho Tutelar, que garantiu que vai prosseguir com a diligência.

As funcionárias preferiram não se identificar. Mas relataram que somente nesta semana serão feitas quatro reuniões com pais de alunos violentos. Todos são estudantes com frequência e notas baixas. "Aqui, brigam por tudo. Pela roupa diferente, fisionomia. Constantemente temos de apartar brigas", disse uma coordenadora. A Secretaria de Educação do Estado informou que vai convocar pais e alunos envolvidos para esclarecer o episódio.

O delegado Sérgio Luditza explicou que vai intimar os pais das agressoras. Assim que a investigação terminar, uma sindicância será aberta e encaminhada para ao juiz responsável pela Vara da Infância e Juventude da Cidade.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;