"O salário mínimo perdeu relevância nos centros urbanos nas últimas décadas. O valor, em reais, ficou tão pequeno que sua utilização como base para a folha de pagamento se restringiu ao setor público. Os sindicatos tiveram uma participação importante para que as empresas pagassem pisos superiores aos funcionários", disse o delegado regional do Conselho Regional de Economia para o Grande ABC, Paulo Antônio.
Apesar do aumento de 11% acima da inflação real, passando de R$ 180 para R$ 200 na semana passada, o salário mínimo, na opinião do economista, ainda está muito longe da realidade do povo brasileiro. Antônio defende a aprovação de novos reajustes, porém de forma gradativa, para não prejudicar os trabalhadores. "Os aumentos devem ser em doses homeopáticas. Doses cavalares podem matar o paciente. Ou seja, quem irá pagar a conta será o consumidor", afirmou.
Como apenas os órgão públicos utilizam o salário mínimo, um aumento praticado de forma irregular poderia ter impacto negativo nos custos destes organismos e, também, no déficit da Previdência Social. Para equilibrar suas contas, prefeituras e governos repassariam as despesas para os contribuintes em forma de impostos, taxas e contribuições.
Do outro lado, empresas privadas, que também pudessem utilizar o mínimo como base de sua folha de pagamento, aumentariam os preços dos seus produtos ou, por conta da grande concorrência do mercado, simplesmente quebrariam. "Além de pagar impostos e produtos mais caros, os trabalhadores correriam o risco de perder o emprego", disse o delegado.
Salário ideal – Um levantamento realizado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) no mês de março mostra que o salário mínimo ideal, para uma família de quatro pessoas, é de R$ 1.091. O valor chega a ser quase 4,5 vezes superior aos atuais R$ 200. "Não propomos que o mínimo suba 450% da noite para o dia, porque sabemos do impacto na economia. Mas estamos mostrando que o salário está defasado", disse o técnico do Dieese, Ilmar Ferreira Silva.
Nos anos 60, o salário mínimo, segundo o técnico, equivalia a R$ 900. Só na década de 90 a desvalorização foi de 35% (veja texto ao lado). Os altos índices de inflação no período e o descaso do governo com relação a uma política para a manutenção do poder de compra da população fizeram com que o piso perdesse valor ao longo dos anos. "É preciso que seja implementada uma estratégia de recuperação do salário mínimo", afirmou Silva.
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